Marta Temido garante que não teve qualquer envolvimento no tratamento de milhões de euros das gémeas luso-brasileiras no Hospital de Santa Maria. "Não tive qualquer contacto com o Presidente da República relativamente a este caso, nem dei qualquer orientação sobre o tratamento destas crianças", afirma a ex-ministra da Saúde numa entrevista ao jornal Público e à Rádio Renascença.
Temido explica que teve de procurar a documentação relativa ao caso divuldado pela TVI (do mesmo grupo da CNN Portugal) para entender o que se passou com as duas crianças luso-brasileiras que vieram a Portugal para receber tratamento para a atrofia muscular espinhal.
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"Quando um cidadão apresenta uma reclamação a uma entidade, quer seja ao Presidente da República, ao gabinete de um ministro, até aos deputados, há um circuito predefinido. Normalmente, dá-se a entrada desse pedido. Foi o que o Ministério da Saúde fez a esse documento que vinha do gabinete do primeiro-ministro e que canalizava um documento da Casa Civil da Presidência da República. Esse documento é aquilo que já tem sido referido na comunicação social", explica a atual deputada do PS. "Não é um relatório médico, é uma carta da Casa Civil da Presidência da República que é remetida através do chefe de gabinete do primeiro-ministro, que, aliás, vem acompanhada de outros pedidos de outros utentes, também com situações e com problemas e disposições de outras instituições, e que tem a tramitação habitual. O encaminhamento que era feito era sempre o mesmo. No meu ministério, era o encaminhamento para as instituições visadas pela queixa, reclamação, dificuldade, exposição."
"Portanto, com esta carta vem, não um relatório médico, mas uma informação médica e os cartões de cidadão das duas crianças. Não houve nenhum contacto da Presidência da República com a ministra da Saúde sobre este tema. A ministra da Saúde não deu qualquer orientação sobre o tratamento. Isso não funciona assim no nosso país. Naturalmente, estou disponível para dar todos os esclarecimentos adicionais", reitera Marta Temido.
Apesar de ressalvar que não conhece o caso em profundidade, a então ministra da Saúde não coloca em causa a legitimidade do tratamento efetuado: "Se há uma nota de que há duas crianças que precisam de um tratamento, se as crianças têm documentos nacionais do nosso país, o normal era as crianças serem tratadas no nosso país e, portanto, bastava o encaminhamento normal, que era aquilo que se fazia no Ministério da Saúde para a instituição, para a instituição tramitar o processo", explicita.
Mas admite que há algumas dúvidas que devem ser esclarecidas: "Sobre aquelas duas crianças, espero que o processo avalie pelo menos três questões: se houve ou não houve uma interferência indevida; se as crianças deveriam ou não deveriam ter sido tratadas e, em última instância, se o medicamento a utilizar deveria ser aquele ou deveria ser outro. Ou seja, três níveis de responsabilidade: uma responsabilidade clínica; outro tema é se as crianças tinham ou não tinham direito a ser tratadas no SNS e, daquilo que conheço do processo, diria que sim; outro tema é se houve ou não houve uma interferência de terceiros indevida. Sobre isso, não sei. O que posso dizer é que ela não passou por mim."
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