Para ela "não há coisa mais linda do que bandeiras de todas as cores". Mas para ela também não há coisa mais feia na campanha do que isto: “Discurso racista, de ódio, um país que põe as pessoas contra as pessoas não resolve nenhum problema”. Ela, Catarina Martins, fala sobre ele, André Ventura, ele que "percebeu que a sua grande derrota é o BE ser a terceira força política". Os apoiantes do BE que se reúnem no Largo do Cauteleiro, em Lisboa, aplaudem - é uma arruada, tem de haver aclamação.
Almerinda Bento, 70 anos, assiste a tudo como outrora assistiu junto àquele mesmo lugar a um tudo bem pior: há cerca de 40 anos estava no Tribunal da Boa Hora a aguardar o julgamento de várias mulheres que tinham abortado - Almerinda fazia parte da UMAR, que defendia a despenalização do aborto, tanta vezes recusada até que um dia um referendo a despenalizou mesmo. Agora Almerinda é professora reformada, tem uma bandeira do BE erguida e abre muito os olhos quando fala sobre a sua juventude: foi estudante universitária durante o regime ditatorial e ela e tantas elas e outros tantos eles lutaram pela mudança. Ajudaram mesmo a mudar o país mas Almerinda continua vigilante: diz que face às circunstâncias atuais de Portugal é preciso cuidar que aquela mudança de Abril não se perca em janeiro. E para isso Almerinda conta com o contributo do seu herdeiro: "Eu estive na génese do Bloco de Esquerda, o meu filho faz parte do partido".
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A arruada prossegue, "deixa passar, deixa passar, sou do Bloco e o mundo vou mudar": cerca de uma centena de apoiantes do BE caminham pelo Chiado, Catarina Martins é abordada por anónimos que ora a querem cumprimentar ora pretendem contar os seus problemas, as eleições também são isto - furar as arruadas para ir contar as inquietação in your face aos políticos. Lá em cima, às janelas, há curiosos a espreitar, cá em baixo a atriz Cucha Carvalheiro segue na frente, é a estreia dela num evento destes: é mandatária da lista do BE a Lisboa e por isso quis aparecer para "mostrar a importância da cultura no programa do partido". "É desta que se derrota a direita?", perguntam-lhe. "Espero que sim e que o Bloco de Esquerda mantenha o terceiro lugar."
No passeio ao lado, Sónia Teias, 48 anos, acena a Catarina Martins e não acenaria a Costa se ele por ali passasse: "O senhor Costa é que quis a maioria absoluta e criou ilusão na cabeça das pessoas". E depois Sónia sorri quando lhe perguntam se a família está ali ao seu lado - não, não está. "São todos do PS."
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