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Os 38 minutos do cortejo fúnebre da rainha que a televisão não mostrou

Calor, encontrões, mas sobretudo um momento “esmagador” e “histórico”. E quem ficou até ao fim ainda teve um bónus

Meia hora depois da urna com o corpo da rainha ter chegado a Westminster Hall, em Londres, esta quarta-feira, aqueles que foram suficientemente resistentes para ficar um pouco mais na avenida do parlamento até à esquina com a Horse Guards Avenue puderam ver um outro cortejo: os carros da família real que voltavam ao Palácio de Buckingham, fazendo o caminho inverso ao escolhido na última viagem de Isabel II, escoltados pela polícia e com muito menos pompa e circunstância. Mas a mesma cara grave de Harry, duque de Sussex. 

“William, William”, gritava o rapaz, de câmara em punho, tentando a foto e alertando o resto das pessoas, incluindo Molly, segurança de serviço. “Isto foi inesperado”, dizia ela. Uma visão mais desafogada do que aquela que a maioria pôde ter do cortejo fúnebre. 

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Os passeios estavam cheios, as pessoas subiram aos parapeitos de janelas, os mais previdentes levaram bancos e até esse objeto que se acreditava ser já arqueologia que é o selfie stick. Uma visão de pássaro vê a multidão, porém ignora o calor forte que se fez sentir, os apertos, a senhora de rigoroso negro que desmaiou antes do corpo da rainha passar e junto a quem se formou um cordão humano de ajuda ou o polícia que repetiu dezenas de vezes “não pode passar, está compacto daqui para a frente”. 

Com pontualidade britânica (nunca mais bem aplicado o termo), o carro fúnebre iniciou o trajeto. Quando os sinos dobraram, junto ao turístico local do render da guarda, Houseguards Avenue, o silêncio começou a impor-se às conversas (gargalhadas também) até se ouvir o rufar dos tambores e a música, ali ao lado. No exato momento em que a rainha passou, o silêncio total. Com os telefones no ar, todos tentavam captar um instante que fosse do momento, “um momento histórico”.

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Ao contrário dos muitos que ficaram para lá dos portões que a polícia colocou nas ruas quando percebeu que os passeios não podiam acomodar nem mais uma pessoa, Angélica, chilena, não só viu tudo como o fez de boa posição, pedindo permissão a um par de amigas inglesas que nunca tinha visto, mas que lhe cederam lugar para que visse tudo. “Pedi por favor, vim do Chile e é a minha única oportunidade”, diz. O marido e dois dos cinco filhos ficaram no hotel, enquanto ela, diz, está a fazer tudo para viver este momento. Sem querer, nem pensar, viu-se ali “a fazer parte da história”. E ainda cedeu o seu vídeo à CNN Portugal, ali visto do meio da multidão. 

Muito depois do cortejo passar, quando a cidade começava a ser devolvida aos cidadãos para a vida de todos os dias (se é que isso será possível até segunda-feira), Grace e o marido, Landon, norte-americanos de Los Angeles, ainda estavam a tirar fotografias a Westminster Hall. Estavam em Paris quando souberam da morte da rainha e, diz ele, anteciparam a chegada a Londres. Ela fez hoje 31 anos e há uma memória que a liga à rainha: “Ela a cantar o nosso hino [dos EUA] depois do 11 de setembro.” “Quer dizer, ela transcende gerações e culturas”, diz o marido. “Esmagador”, concordam ambos sobre o momento que acabam de viver do lado daqueles que nada puderam ver, apenas acompanhar.

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O centro histórico de Londres e o percurso amplamente divulgado pelo governo britânico para o cortejo fúnebre começou a receber pessoas a partir das 02:00 da madrugada, conta à CNN Portugal um polícia deslocado de Gales para esta operação. Do outro lado do rio Tamisa, acotovelam-se as pessoas que estão na fila para a última homenagem à sala de Westminster preparada para o efeito, aberta 23 horas por dia até segunda-feira, às 06:30.  

Várias ruas da cidade foram sendo cortadas ao longo do dia e às 14.00 já não era possível entrar em nenhuma delas, há alterações em várias estações de metro. Até mesmo os lugares em Hyde Park, onde foi instalado um ecrã gigante para acompanhar a cerimónia, fecharam por volta dessa hora. “É assim a vida”, diz outro polícia. “Quem queria vir tinha de se ter preparado.” 

Quatro amigos ingleses fizeram-no: duas horas de comboio desde Dorset para estar ali e dizerem adeus. Esta foi a sua despedida. E, admite uma delas, Haley Lambert, emocionou-se. Uma das suas amigas conseguiu as imagens que todos queriam e enquanto Haley fala com a CNN Portugal, estes amigos de ocasião assentam números de telefone num papel para que ela lhe possa passar o vídeo do momento. Todos o querem.

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