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"Estamos chocados e enojados": querem enforcar o futebolista Amir Nasr-Azadani

Fez campanha no Irão pelos direitos das mulheres e pela "liberdade fundamental no seu país". Agora foi acusado de matar - mas há incongruências na acusação

Amir Nasr-Azadani, de 26 anos, pode ser condenado a morrer enforcado, acusado de pertencer a um grupo armado e de estar envolvido no assassínio do coronel Esmaeil Cheraghi e de dois membros do Basij, uma das forças da Guarda Revolucionária Islâmica, a 17 de novembro. Não se sabe ao certo quando será o julgamento, mas o sindicato internacional de jogadores de futebol FIFPRO divulgou uma declaração em que se afirma “chocado e enojado com as notícias de que o jogador de futebol profissional Amir Nasr-Azadani enfrenta a execução no Irão depois de fazer campanha pelos direitos das mulheres e pela liberdade fundamental no seu país”. A FIFPRO pediu a reversão da sentença, dizendo: “Somos solidários com Amir e pedimos a remoção imediata de sua pena”.

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Natural da cidade histórica de Esfahan, Nasr-Azadani começou a jogar futebol nas equipas de formação do Sepahan Isfahan. Jogou pelo Tractor, da Liga Profissional do Golfo Pérsico, entre 2016 e 2019, após uma curta passagem pelo clube Rah Ahan em 2014-16.  Atualmente, o defesa joga pelo FC Iranjavan, um clube com sede em Bushehr, no sudoeste do Irão, que compete na Liga Azadegan.

Agora, o jogador foi acusado de ser membro de um “grupo armado” envolvido na morte de três agentes de segurança durante protestos na cidade de Esfahan, no centro do Irão, disse o presidente do tribunal da cidade, Asadullah Jafari, segundo a agência de notícias estatal IRNA no domingo. No relatório, Jafari disse que Nasr-Azadani foi acusado de protestos contra as autoridades e de traição. O futebolista está sob custódia desde 27 de novembro.

Também foi noticiado que o jogador de futebol apareceu na televisão estatal a 20 de novembro e leu sua confissão, mas relatos contraditórios apontam que Nasr-Azadani não estava presente na área onde Cheraghi e os dois membros do Basij foram mortos.

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O jogador foi preso por cometer 'moharabeh', que é um termo persa que se traduz aproximadamente por 'guerra contra Deus'.

O que se sabe é que Nasr-Azadani fez campanha ativamente pelos direitos e liberdade das mulheres durante a onda de protestos no país e a acusação de homicídio é vista como a forma que o regime encontrou para silenciar tais demonstrações públicas de solidariedade para com os manifestantes.

Os protestos eclodiram em todo o Irão após a morte de Mahsa Amini, de 22 anos, às mãos da polícia moral por violar o rígido código de vestuário do país. Em setembro, Amini foi detida por alegadamente usar um lenço hijab de maneira “imprópria”. A polícia afirma que ela morreu de causas naturais, mas a sua família afirma que a jovem foi espancada e torturada e sofreu um golpe fatal na cabeça.

A morte de Amini provocou protestos em todo o Irão, que o regime foi rápido a reprimir. Os cidadãos exigiam mais liberdade, no entanto as repressões violentas resultaram em centenas de mortes entre os manifestantes e as forças de segurança. Os ativistas de direitos humanos no Irão, que estão a acompanhar os protestos, afirmam que pelo menos 488 pessoas foram mortas desde que os protestos começaram em meados de setembro. Dizem ainda que cerca de 18.200 pessoas foram detidas pelas autoridades.

Até agora, são conhecidas duas execuções públicas realizadas no Irão na sequência dos protestos anti-regime. A 8 de dezembro, um homem de 23 anos chamado Mohsen Shekari foi enforcado depois de ser considerado culpado por um tribunal revolucionário de “travar guerra contra Deus”. E a 12 de dezembro, o ex-lutador Majidreza Rahnavard foi enforcado publicamente num guindaste depois de ser condenado pela morte de dois membros das forças de segurança. Também foi preso por “travar guerra contra Deus” e foi enforcado publicamente, havendo imagens de seu corpo enforcado a circularem nas redes sociais.

A Amnistia Internacional afirma que pelo menos 11 pessoas já foram condenadas à morte devido aos protestos e que muitos outras correm o risco de ser condenadas.

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