Diferentes hábitos de consumo, diferentes perceções sobre a inflação. E o género tem um papel determinante na hora de definir expectativas: isto porque mulheres e homens têm hábitos de compras distintos. E, consoante aquilo que mais põem no carrinho, assim se molda a sua visão sobre a subida de preços.
Há uma regra a fixar: as mulheres tendem a ter expectativas mais altas do que os homens quanto à aceleração da inflação. E porquê? Porque dão mais ênfase à evolução dos preços dos alimentos. A explicação é dada por um novo estudo do Banco Central Europeu (BCE).
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A perceção da inflação é frequentemente influenciada pelas experiências pessoais do quotidiano: os consumidores tendem a focar-se nos preços que mais encontram no seu dia a dia. E é a partir dessa realidade que tendem a moldar as expectativas futuras quanto ao poder de compra e a inflação.
A escala da diferençaO estudo do BCE mostra que as expectativas do consumidor médio da zona euro dependem a forma como vai tomando consciência da inflação nas principais categorias de produto: comida, saúde, roupa, transportes, energia e serviços para a casa.
Mas há uma delas que assume a primazia: a alimentação. Embora determinante para os dois géneros, é nas mulheres que ela se revela mais relevante. Estima-se que o aumento de um ponto percentual na perceção da inflação na comida aumente as expectativas a um ano para a inflação como um todo em 0,4 pontos percentuais. Nos homens, a escala é menor: 0,26 pontos percentuais.
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Toda a regra tem a sua exceção. Se as mulheres são as mais influenciáveis pelas variações nos preços dos alimentos, é preciso entender que esse cenário não é transversal. Segundo o BCE, a diferença de género na perceção da inflação não existe em consumidores abaixo dos 34 anos. E é mais acentuada nas mulheres entre os 35 e os 49 anos.
Porquê? A vida em casal. O estudo destaca que a divisão pode refletir o modo como se distribuem as tarefas domésticas entre homens e mulheres. Quando pensam na inflação futura, os homens parecem ser mais influenciados pelas perceções que têm nos preços dos transportes, roupa e habitação.
E, se dúvidas ainda houvesse, o estudo dissipa-as: homens e mulheres solteiros dos 35 aos 49 anos não diferem substancialmente nas suas perceções da inflação sobre a comida, os transportes e a habitação – algo que acontece nos casais da mesma idade.
Conclusão: o que se compra mais é essencial para ir formando expectativas quanto ao futuro. E, como nos casais, cada um se ‘especializa’ em determinadas tarefas, essas perceções acabam por ser diferenciadas.
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Por muito distintos que possam ser mulheres e homens nas perceções, há uma coisa que os une neste indicador económico: ao receberem uma nova informação sobre mudanças de preços, e embora possam diferir nas experiências pessoais, ambos ajustam as expectativas sobre a inflação a um ritmo e padrão similares.
“Como humanos, absorvemos as notícias da mesma forma, independentemente do nosso género, enquanto as lacunas resultam de diferentes conjuntos de informação”, adverte o estudo.
Números redondos e exatosQuando desafiadas a indicar as suas expectativas sobre a inflação, as mulheres tendem a reportar números redondos. Já os homens são mais propensos a indicar números exatos, inclusive com casas decimais. E há também, segundo o BCE, uma explicação para isso: as pessoas com maiores níveis de incerteza quanto ao futuro – e também com uma postura negativa face à economia - tendem a apresentar números redondos quando questionadas sobre as suas previsões para a inflação.
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Não é apenas uma questão de perceção. A forma como os consumidores encaram os preços acaba por ter consequências na vida real. Se as circunstâncias económicas e financeiras mudarem, também os comportamentos são diferentes.
O BCE dá um exemplo: quando os preços da energia sobem, as mulheres podem ser menos propensas do que os homens a cancelar, adiar ou reduzir os planos de férias ou a desistir da intenção de comprar um carro.
Estas dinâmicas são também relevantes para os bancos centrais, ajudando a identificar que tipo de inflação importa para os consumidores e a adaptar a própria política monetária. As diferenças entre géneros permitem também adaptar as estratégias de comunicação, dotando as famílias de informações que ajudam a tomar decisões de consumo e investimento mais sólidas.
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