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Hotelaria enfrenta “tempestade perfeita” para falta de trabalhadores

Diretores de hotéis avisam que salários baixos e horários pouco flexíveis estão a afastar jovens do setor

A Associação dos Diretores de Hotéis de Portugal (ADHP) alerta que há vários fatores a contribuir para a falta de mão-de-obra no setor, conduzindo a "uma tempestade perfeita". O presidente da direção da ADHP lembrou que a associação tem colocado o tema em cima da mesa “há vários anos”.

“Iria acontecer naturalmente, quer pela evolução da economia e pela diminuição do desemprego, quer pela falta de alternativa de capital que a área do turismo tem e depois pela competitividade exterior com outros países", afirmou Raul Ferreira à Lusa.

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O responsável lembra que os salários baixos são “um problema interno do país”, realçando que no setor turístico e hoteleiro “é mais visível”: isto porque se pedem “qualificações maiores às pessoas, como seja o falar línguas” ou a “seriedade para se mexer em dinheiro”. Na opinião deste porta-voz dos diretores de hotéis, estas exigências não são contrapostas por “um valor acrescentando à vida das pessoas”.

"Qualquer pessoa serve para tudo – na receção é necessário falar inglês – e depois nada disto é coerente com o serviço, com os prémios que queremos ganhar ou com a imagem que queremos passar", avisou.

Um dos setores onde há “um fugir da mão-de-obra”, aponta, é o dos hospitais privados, que “hoje em dia têm receções com pessoas como os hotéis”. A esta concorrência interna junta-se a do mercado internacional, como acontece com os cruzeiros.

Há ainda que ter em conta, juntou, o facto de muitos alunos das escolas superiores de turismo optarem por trabalhar no estrangeiro por aí encontrarem maior margem de progressão.

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O presidente da ADHP admitiu que quando os hotéis reabriram na pandemia não havia mão-de-obra para "aguentar esse crescimento rápido, porque muitos [trabalhadores] mudaram de profissão, estão em fundos de desemprego, e não sabem quando é que iriam ser dispensados outra vez, como foram".

Falta “vontade” para resolver o problema”

A ADHP defende que "não há vontade ainda" para se trabalhar em conjunto em soluções para a falta de mão-de-obra no setor, embora comece "a haver espaço" para esse diálogo.

"A Agenda para o Trabalho Digno, se avançar, cria grandes constrangimentos com as empresas de trabalho temporário. Quer dizer que vai aumentar mais esta dificuldade que o setor sente em contratar [trabalhadores]. Acho que é um trabalho que vai ter de ser pensado a médio prazo. Se calhar é altura de todos darmos as mãos, trabalharmos em conjunto e percebermos o mercado", considerou Raul Ferreira.

Entre as prioridades, o porta-voz destacou a “flexibilização de horários”, também numa perspetiva de captar jovens para o setor. Para que, “por exemplo, possamos aumentar os horários uns dias e as pessoas por sistema poderem trabalhar quatro dias em vez de trabalharem cinco”, argumentou. No entanto, diz não sentir ainda abertura por parte dos sindicatos ou do patronato.

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