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Deputado do PAN denuncia tráfico de seres humanos com crianças ucranianas na fronteira da Polónia

Nelson Silva, que foi como voluntário numa caravana humanitária para trazer mais de 100 refugiados identificados, revela à CNN Portugal o que viu na fronteira da Ucrânia com a Polónia garantindo que há redes de tráfico de seres humanos a operar às claras. Ele mesmo salvou menores ucranianos com família em Portugal de serem levados por desconhecidos. E viu mais crianças em risco na fronteira: "Estavam no carro de uns polacos que diziam ser família. Os miúdos insistiam que não os conheciam"

Os voluntários de uma caravana humanitária que saiu de Portugal para ir buscar à fronteira da Ucrânia 110 refugiados identificados, entre eles crianças, viveram momentos dramáticos para conseguir trazer os menores para junto da família em Lisboa. “Quando os íamos buscar à fronteira estavam já dentro do carro de uns polacos que diziam ser família. Mas os miúdos insistiam que não os conheciam. Chegaram a pedir dinheiro para os libertar e deixar vir connosco”, conta à CNN Portugal Nelson Silva, deputado do PAN, que integrou aquela caravana, recordando que levava os documentos dos refugiados, que estavam desacompanhados dos pais que tiveram ficar na Ucrânia, e que eram esperados pelos familiares em Portugal. “Foi complicado, mas conseguimos resolver”, adianta.

“O que se está a passar com os menores nas várias fronteiras é gravíssimo e envolve mesmo tráfico de crianças”, garante Nelson Silva, que esteve em três zonas fronteiriças da Polónia: Berdyszcze, Przemysl e Medyka.

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A Amnistia Internacional alertou, entretanto, esta terça-feira, 15 de março, para o fenómeno do tráfico de seres humanos entre os refugiados, garantindo que está a investigar vários relatos. Também a Europol avisou que as redes de tráfico estarão a operar em força nas fronteiras onde chegam por dia milhares de os ucranianos que fogem da guerra, em especial crianças e mulheres”.

“É tudo feito praticamente às claras”, descreve Nelson Silva, explicando que depois de ter vivido aquele episódio com os menores que a sua caravana ia trazer para Portugal decidiu deslocar-se a várias zonas fronteiriças com a Ucrânia para perceber o que se passa e tentar ajudar a denunciar a situação. “Cheguei a Portugal dia 7 e dia 8 voltei para tentar perceber e tentar ajudar em algo”, conta, adiantando que denunciou a situação à embaixada da Ucrânia em Portugal. Além disso, com um grupo de voluntários de outros países, fez o mesmo junto da Frontex, a Agência Europeia da Guarda de Fronteiras e Costeira. “Responderam que já reforçaram o contingente junto das fronteiras, mas admitem que não são suficientes perante a quantidade de refugiados”.

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Neste momento, segundo dados da ONU, mais de 3 milhões de ucranianos saíram do país. E a cada segundo, avança a Unicef, uma criança consegue fugir à guerra e torna-se refugiada: todos os dias há mais 73 mil crianças com este estatuto.

O deputado Nelson Dias garante que viu todos os dias “dezenas de crianças sozinhas”.

“O que se passa é mesmo preocupante. Eu vi. Os refugiados são abordados, em especial por senhoras, que depois os levam para os carros”, diz o político do PAN, que no terreno contactou as autoridades. Mas, segundo conta, ninguém parece capaz de parar a situação. “Não se veem no terreno as organizações destinadas a proteger estas crianças e estas mulheres de serem alvo de tráfico”, avisa, explicando que há muitos voluntários a tentar fazer esse papel. “Segundo percebi, associações como a ACNUR ou a Cruz Vermelha estão focadas na Ucrânia e nas zonas do conflito e não nas fronteiras propriamente ditas.”

Enquanto esteve nas fronteiras, Nelson Dias garante que viu todos os dias “dezenas de crianças sozinhas”. “Há crianças que passam a fronteira com adultos que não conhecem e depois se separam. Há pais que não podem sair da Ucrânia e que subornam os guardas. Há de tudo e depois ficam ali sozinhas como alvos fáceis para as redes.” Além disso, acrescenta, há “casos em que alguns estrangeiros vão com cartazes apelar a que os refugiados os acompanhem e só querem crianças e mulheres novas, o que desde logo é suspeito".

O caso que viveu com estes menores ocorreu no início de março, altura em que vários voluntários e 24 autocarros foram à fronteira da Ucrânia. Os menores em causa estavam sozinhos a aguardar pelos voluntários portugueses em Mydica, cidade da Polónia que faz fronteira com a Ucrânia, quando foram alvo das investidas de desconhecidos. “Foi essa situação me chamou a atenção para este problema. É preciso que as pessoas percebam o que se está ali a passar”.  

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