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Vários migrantes desaparecidos depois de naufrágio perto da Grécia

Médicos Sem Fronteiras relatam que os migrantes estão aterrorizados devido ao aumento de violência e a deportações forçadas pela Grécia

A Grécia lançou esta quarta-feira uma operação de busca para tentar encontrar vários migrantes cuja embarcação naufragou ao largo da ilha de Cárpatos, no sudeste do Mar Egeu, anunciou a guarda costeira grega.

“Até agora, 29 pessoas - afegãos, iraquianos e iranianos - foram resgatadas e a busca continua porque, de acordo com as suas declarações, entre 20 e 50 outras pessoas estavam no barco afundado”, declarou à agência francesa AFP um funcionário do gabinete de imprensa da guarda costeira.

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As pessoas resgatadas encontravam-se a cerca de 61 quilómetros a este da ilha de Karpathos e tinham saído da cidade costeira de Antalya, tendo como destino Itália, anunciou a agência de notícias Associated Press (AP)

As autoridades gregas comunicaram que foram mobilizados dois barcos de patrulha da guarda costeira, um navio da marinha, um helicóptero da força aérea grega e pelo menos três navios que se encontravam nas proximidades para tentar localizar os desaparecidos. 

A busca estava a ser dificultada por ventos fortes na zona, de acordo com a guarda costeira grega.

Esta situação levanta uma problemática maior, denunciada pelos migrantes que chegam às ilhas gregas e relatada pela organização não-governamental Médicos Sem Fronteiras (MSF)

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"Bateram-nos com um pau e com os pés"

A rota mais comum para os que chegam do Médio Oriente e procuram asilo na Europa tem sido entre a Turquia e a Grécia. Contudo, migrantes têm denunciado situações desumanas e deportações forçadas por parte das autoridades gregas, o que tem levado a que optem por um trajeto mais longo e perigoso direto a Itália, contornando as ilhas gregas.

Os MSF afirmaram esta quarta-feira ter recebido várias queixas de forte violência e de retornos forçados à Turquia por parte de migrantes que chegaram às ilhas. 

Segundo relataram, as autoridades gregas têm intensificado o policiamento no Mar Egeu e nas ilhas e, por isso, muitos requerentes de asilo, com medo de ser apanhados, escondem-se nas ilhas, ficando vários dias sem acesso a água, comida e assistência médica. 

"Algumas pessoas são tão severamente afetadas pelo medo que não conseguem falar ou andar", disse Nicholas Papachrysostomou, chefe de missão dos MSF na Grécia.

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As equipas médicas da ONG já trataram, no último ano, centenas de migrantes na Grécia, incluindo grávidas e crianças. As denúncias de maus-tratos têm-se multiplicado e são vários os migrantes que descrevem que foram sujeitos ou testemunharam violência psicológica ou tratamentos desumanos e degradantes, incluindo espancamentos, exames genitais forçados e roubos e que foram ainda deixados à deriva em pequenas embarcações sem motor.  

"Quando chegamos às montanhas e nos empurram de volta, sentimo-nos como se estivéssemos a morrer", descreve Loretta (nome fictício). Segundo disse a testemunha às equipas médicas, foi intercetada pelas autoridades fronteiriças na ilha de Lesbos e forçada, já por duas vezes, a regressar à Turquia. 

"Trouxeram-nos para um grande porto. Havia muitos, muitos polícias. Tivemos de ir para dentro de um edifício. Começaram a esbofetear-me, aos homens, à senhora que estava grávida - a todos. Bateram-nos com um pau e com os pés. Desde então tenho problemas com a minha perna e com as costas também. Depois puseram-nos num grande barco", disse, citada pelos MSF. 

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"Não só as interceções violentas e os regressos forçados são ilegais, como também põem em risco o direito das pessoas a requerer asilo", disse a coordenadora de campo dos MSF, Sonia Balleron.

"Estas práticas também expõem as pessoas a mais traumas e ao risco de problemas de saúde física e mental de longa duração. É de a responsabilidade das autoridades gregas e europeias assegurar que a lei é respeitada e que os procedimentos relativos ao acolhimento, identificação e proteção internacional são aplicados eficazmente", defendeu. 

A organização alerta, ainda assim, que não assistiu diretamente a estas situações, mas que os diversos relatos indicam que estas práticas são cada vez mais frequentes e mais violentas. As autoridades gregas negam estar a implementar uma política de deportação ilegal. 

Várias centenas de pessoas morrem todos os anos no Mar Egeu, no sudeste do Mediterrâneo, ao tentarem atravessar da Turquia para a Grécia, de onde pretendem seguir para o norte da Europa, de acordo com a ONU e organizações não-governamentais.

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