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Um ano neste exoplaneta dura apenas cerca de oito horas

Se pensa que um dia na Terra não tem horas suficientes, este planeta recentemente descoberto vai pô-lo com a cabeça a andar à roda. No exoplaneta denominado GJ 367 b, que orbita em torno de uma estrela a 31 anos-luz do nosso Sol, um ano tem a duração de cerca de oito horas. A descoberta pode lançar alguma luz sobre estes mundos misteriosos com órbitas rápidas.

O exoplaneta rochoso é considerado um planeta de período ultracurto, ou USP, que anda em torno da estrela hospedeira e completa uma órbita única a cada oito horas. Mas o GJ 367 b também é intrigante por outros motivos.

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O planeta tem mais ou menos a dimensão de Marte, portanto apenas metade da massa da Terra, o que o torna um dos mais leves exoplanetas descobertos até à data. Cerca de 86% do interior do planeta é constituído por um núcleo de ferro e níquel, o que também o torna muito semelhante a Mercúrio. No nosso Sistema solar, Mercúrio está mais perto do Sol, e um ano tem 88 dias.

O exoplaneta GJ 367 b está extremamente próximo da sua estrela anã M. Estas estrelas anãs vermelhas são comuns na nossa galáxia e são conhecidas por albergarem múltiplos planetas num só sistema, com uma média de dois a três planetas. Apesar de serem mais pequenas e mais frias do que o nosso Sol, as anãs vermelhas frias podem, ainda assim, aquecer planetas quando estes estão tão próximos quanto o GJ 367 b está da sua estrela.

Durante o dia, este planeta atinge 2732 graus Fahrenheit (1500 graus Celsius), uma temperatura suficiente para derreter rochas e metais. O planeta é também bombardeado com 500 vezes mais radiação do que a Terra recebe do Sol.

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Todos estes fatores sugerem que o planeta tem falta de uma atmosfera substancial, provavelmente vaporizada há muito tempo, e não é um local propício a ter qualquer espécie de vida. Um estudo que pormenoriza as descobertas sobre o planeta foi publicado pela revista Science.

Os astrónomos estão ansiosos por saber mais sobre estes pequenos planetas que giram à volta das suas estrelas em menos de 24 horas, porque não têm a certeza de como se formam e acabam numa órbita tão extrema. Este planeta agora descoberto está suficientemente próximo do nosso sistema solar e os investigadores conseguiram recolher mais dados do que em relação a outros planetas de período ultracurto.

"Já conhecemos alguns destes planetas, mas as suas origens continuam a ser desconhecidas," declarou a principal autora do estudo Kristine W. F. Lam, investigadora de pós-doutoramento no Centro de Aeroespacial do Instituto de Investigação Planetária alemão. "Ao medir as propriedades fundamentais precisas do planeta USP, podemos vislumbrar a formação do sistema e a história da sua evolução."

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O facto de o GJ 367 b não ser habitável não significa que não haja outros planetas no mesmo sistema que possam ser habitáveis.

"Para esta classe de estrela, a zona habitável estaria numa órbita entre duas a três semanas," declarou o coautor do estudo, George Ricker, cientista investigador sénior do Instituto Kavli de Investigação Astrofísica e Espacial do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) numa declaração. "Uma vez que a Estrela está tão perto e é tão brilhante, temos boas hipóteses de ver outros planetas deste sistema. É como se houvesse um cartaz a dizer: 'Procurem aqui outros planetas!'"

Os cientistas descobriram o GJ 367 b usando o sistema de busca de planetas da NASA Missão TESS, que significa Satélite de Observação de Exoplanetas. Ricker é o principal investigador do TESS que procura alterações de brilho nas estrelas mais próximas.

Quando os investigadores descobrem irregularidades na luz das estrelas, isso sugere que um planeta está a passar diante da estrela, sendo o movimento conhecido por trânsito. Em 2019, o TESS observou durante um mês uma zona do céu que incluía a estrela anã vermelha GJ 367, que levou à descoberta do seu companheiro planetário muito próximo. As observações subsequentes com telescópios em Terra ajudaram-nos a precisar as medidas da sua massa, raio e densidade, o que ajudou os investigadores a determinar a composição do núcleo.

Os cientistas planeiam continuar a estudar o exoplaneta e a sua Estrela de modo a descobrirem se existem outros planetas naquele sistema. Os potenciais exoplanetas irmãos e as suas órbitas podem ajudar a revelar como nasceu o GJ 367 b.

"Compreender como estes planetas se aproximam tanto das suas estrelas hospedeiras é um pouco trabalho de detetive," declarou Natalia Guerrero, investigadora associada para o TESS no MIT-Kavli Institute, "Porque falta a este planeta a sua atmosfera exterior? Como se aproximou? Esse processo foi pacífico ou violento? Esperemos que este sistema nos consiga esclarecer um pouco mais."

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