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Presidente do Novo Banco tentou preparar Vieira para comissão parlamentar de inquérito. "Os gajos não vão perceber nada"

Investigação da Operação Cartão Vermelho defende que António Ramalho procurou "instrumentalizar" a comissão que tentou apurar as razões para as perdas do banco

O presidente executivo do Novo Banco, António Ramalho, instrumentalizou parte das audições da Comissão Parlamentar de Inquérito sobre as perdas que obrigaram o Estado a injetar milhões de euros no banco. A conclusão, com base em escutas, surge na investigação da Operação Cartão Vermelho.

Um documento a que a TVI/CNN Portugal teve acesso revela que a divisão de inspeção tributária - a quem o Ministério Público delegou a investigação - encontrou o líder do Novo Banco a comentar que ia estar com Luís Filipe Vieira para o preparar para a audição que ia ter no Parlamento.  

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A escuta onde se fala do antigo presidente do Benfica envolve António Ramalho e Vítor Fernandes, ex-administrador do Novo Banco que chegou a ser indicado pelo Governo para presidente do Banco de Fomento.

Nessa conversa, a 28 de abril de 2021, Ramalho diz que vai estar com "o Luís" para "o preparar também". A investigação não tem dúvidas que quando fala no Luís o líder do Novo Banco se refere a Luís Filipe Vieira, nomeadamente porque no dia seguinte foi interceptada outra chamada em que um responsável do banco ligava ao filho de Vieira - Tiago Vieira - a pedir-lhe o número atualizado do presidente do Benfica porque António Ramalho pretendia marcar uma reunião.  

Nessa mesma escuta, Tiago Vieira e o referido responsável do Novo Banco - que acompanhava todo o processo das dívidas das empresas de Luís Filipe Vieira - salientam a importância da concertação de posições.

O então presidente do clube da Luz seria ouvido a 10 de maio no Parlamento.  

"M​onocórdico e chato"  

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Na primeira conversa com Vítor Fernandes, António Ramalho também refere que está a evitar que mais diretores do Novo Banco deponham perante os deputados e comenta que um dos vogais da comissão executiva chamado ao Parlamento, Rui Fontes, "está muito bem preparado, vai ser monocórdico e chato, porque os gajos não vão perceber nada do que ele vai dizer".

António Ramalho detalha que Rui Fontes estava a treinar com uma agência de comunicação e diz, segundo a inspeção tributária, que eles "estão um pouco perdidos, não encontram nada".    

Noutra escuta, também Nuno Gaioso, presidente do fundo que ficou a gerir o património da Promovalor - grupo imobiliário de Vieira e um dos grandes devedores do Novo Banco - refere que António Ramalho lhe pediu para ver previamente o texto da intervenção inicial que ia fazer na comissão de inquérito.

"Concertação de posições" entre devedor e banco

No resumo que faz das escutas a vários intervenientes na comissão de inquérito, o inspetor tributário responsável pela investigação diz que existia preocupação de "concertação de posições" entre "devedor e credor", ou seja, "entre pessoas que, tal como já verificamos no passado nos presentes autos, tiveram intervenções que se indiciam lesivas para o Novo Banco", em perdas transferidas para o Fundo de Resolução.  

A investigação da Autoridade Tributária acrescenta que "a adivinhar" pela preparação escutada em relação ao vogal Rui Fontes, "não será uma atitude de esclarecimento e de colaboração" que vai imperar na participação daqueles na comissão parlamentar e "é o próprio António Ramalho que refere que se vai encontrar com o 'devedor' do banco para o 'preparar também' para a comissão parlamentar".

Em resumo, a investigação diz que "verifica-se que parte das audições" no Parlamento foram "instrumentalizadas" pelo CEO do Novo Banco, quer através de funcionários da instituição, quer de "um dos grandes devedores".

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