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Porque adoro hotéis entediantes

De visita a uma pretensiosa galeria de arte de Nova Iorque, ouvi a mulher ao meu lado suspirar ruidosamente e dizer: "Esta peça devia estar pendurada num hotel."

Apesar de todas as opções de alojamento de design vanguardista por todo o mundo, há ainda um cliché que sobrevive em que todos os hotéis são espaços sem alma e sem cor.

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É fácil perceber o apelo de passar as férias num local bonito, digno do Instagram, que encaixe verdadeiramente num destino, em vez de dar a sensação de que podia ser em qualquer lado.

Mas quando é altura de escolher entre um acordar de madrugada num design hotel num bairro da moda para chegar ao aeroporto a tempo do meu voo ou simplesmente dormir num hotel genérico do aeroporto e conseguir ganhar mais uma ou duas horas de descanso, escolho sempre a Opção B.

É ainda mais verdade agora que estou a tentar viajar durante a pandemia. Continuo a querer conveniência, mas a minha principal preocupação é a limpeza.

As paredes brancas simples podem não ser as mais glamorosas, mas fazem com que seja mais difícil esconder manchas de sujidade.

Muitos hotéis adotaram novos protocolos de higiene durante a pandemia, mas muitos não estão à vista do olhar atento de um hóspede. Recordo uma dica que me deu um amigo, sobre restaurantes – podemos não conseguir ver a cozinha, mas podemos ver a casa de banho e utilizá-la como barómetro da abordagem de um estabelecimento à limpeza.

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As paredes brancas são pouco dispendiosas, fáceis e não requerem criatividade. Mas, hoje em dia, são um local onde posso procurar manchas sem precisar de uma luz ultravioleta.

Lençóis brancos? Sim, por favor.

Joa Studholme, especialista em cor para a marca de tinta e papel de parede Farrow and Ball, também não odeia paredes brancas.

Não só ignora a filosofia de "branco simples = mau", como a sua primeira grande linha na Farrow and Ball era uma gama de 20 tons diferentes de branco.

"O branco não exige nada de nós e talvez seja isso de que precisamos", diz Studholme. "As pessoas precisam de ter luz e passar os seus dias num espaço claro."

Apesar do aumento massivo de pessoas a trabalharem de casa durante a pandemia ter levado à popularidade de cores vivas e texturas alegres pela casa, ela salienta que, não importa quais são as tendências atuais, os seus clientes pedem sempre que uma divisão seja branca – a cozinha, o local onde toda a gente passa muito tempo.

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Studholme também realça que a maioria dos objetos de tecnologia e acessórios – como o iPhone onde pode estar a ler este artigo – tende a ser branco, o que dá um aspeto moderno e elegante. O mesmo acontece com os locais de trabalho.

"As pessoas não querem um escritório cor-de-rosa", diz Studholme.

É certo que o branco pode ser a escolha genérica. As marcas de hotéis compram-na em barda, funciona em praticamente todos os mercados e – se não formos esquisitos com a qualidade de branco a utilizar – é barato. É mais frequente ser um branco deprimente e acinzentado do que algo na casa de campo de um designer de interiores, mas normalmente cumpre a sua função.

E apesar de as grandes esculturas e peças elétricas de Pop Art serem giras para ver nos museus podem ser uma sobrecarga sensorial quando estamos apenas a tentar relaxar.

Um desenho comum de um pôr-do-sol ou uma casinha no cimo de uma colina, inofensivos e sem precisarem de grandes explicações? Perfeito.

Mas, em última análise, a minha noção de paz num quarto de hotel supostamente genérico não tem só que ver com escolhas de tinta ou de arte.

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Os aeroportos parecem existir num local intemporal. Os edifícios estão cheios de pessoas cujos relógios biológicos estão desfasados é sempre uma hora socialmente aceitável para um copo de vinho.

E essa é uma coisa que também adoro nos hotéis.

Graças às cortinas opacas, não tenho de saber se lá fora é de noite ou de dia.

O serviço de quartos está sempre a um botão de distância. Notícias locais da Ásia, Europa e América do Norte na televisão significa que todos os fusos horários estão em simultâneo. Podemos beber uma chávena de café a qualquer hora. O chuveiro tem sempre água quente. Podemos controlar as luzes e os cortinados premindo uns botões junto à cama, mesmo sem precisarmos de nos sentar.

Há quem os possa chamar "entediantes", mas a uniformidade dos hotéis genéricos é uma bênção. Tudo funciona praticamente da mesma maneira – há sempre um sabonete para desembrulhar, uma toalha lavada para tirar da prateleira, um bloco e uma caneta na cómoda. Podemos carregar todos os nossos aparelhos ao mesmo tempo e mudar a disposição das várias almofadas (porque é que há sempre tantas almofadas?) como mais nos agradar.

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Viajar torna-nos vulneráveis. Estamos cansados, com jet lag, stresse e, muitas vezes, numa cidade desconhecida onde podemos não falar a língua local. Ficar num hotel de uma cadeia significa que, pelo menos, algo é familiar.

Posso estar disposta a experimentar diferentes comidas enquanto viajo, mas estou muito menos disposta a passar 20 minutos a tentar descobrir como manusear a torneira do duche que tem o formato de um ramo de flores a sair da parede. Os pontos de lealdade são apenas um bónus.

Já para nem falar de que, nesta altura, é cada vez mais difícil encontrar um hotel verdadeiramente independente. O Marriott's Autograph Collection preenche todos os requisitos de design inteligente e ligações culturais locais, enquanto a marca Hilton's Curio é composta por propriedades independentes em destinos da moda, como Maiorca ou Nova Orleães.

As mega marcas globais também não têm o estigma de "careta" que já tiveram. As mesmas pessoas que podem falar mal do McDonald's são, muitas vezes, as primeiras da fila para um hambúrguer no In-N-Out ou no Shake Shack.

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Nem tudo tem de ser drástico, todos os dias. Em comparação com a minha vida normal, num apartamento pequeno, numa rua barulhenta e movimentada, a sensação de sossego total numa divisão estéril é o paraíso.

Em casa, faço a minha cama. Se há uma lâmpada fundida, tenho de ser eu a trocá-la. Mas, num hotel, sou um bebé mimado e satisfeito.

Mas, dito isto, acho que adorava um escritório cor-de-rosa.

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