Numa altura em que se discute o futuro do Serviço Nacional de Saúde (SNS) e se assistem a sérios constrangimentos no serviço de ginecologia e obstetrícia, os hospitais privados estão a conquistar terreno e a fazer cada vez mais partos.
De acordo com dados recolhidos pelo jornal Público, este fenómeno acontece essencialmente na região de Lisboa e Vale do Tejo (LVT), onde, no ano passado, as unidades dos três grandes grupos privados de saúde localizadas na capital e na Amadora fizeram já 28,5% do total de partos.
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O Hospital CUF Descobertas, em Lisboa, fez 2.916 partos, enquanto o da Luz Saúde, também na capital, realizou 2.898, mais 23 do que em 2020. Já no grupo Lusíadas Saúde, também na unidade de Lisboa, nasceram 2.452 bebés, e, na da Amadora, 1.077.
Olhando agora para Serviço Nacional de Saúde, nos 13 hospitais ou centros hospitalares que em LVT têm maternidades, fizeram-se 23.408 partos no ano passado, de acordo com os dados do Portal da Transparência do SNS. Considerando cada unidade por si só, os privados fizeram já mais partos do que a Maternidade Alfredo da Costa - onde no ano passado nasceram 2.866 bebés -, que os hospitais de Almada (Garcia de Orta), Amadora-Sintra (Fernando da Fonseca), o de Loures (Beatriz Ângelo), o hospital de Santa Maria e o de São Francisco Xavier.
Partos em Lisboa e Vale do Tejo em 2021 | |
SNS | Privados |
Maternidade Alfredo da Costa - 2.866 | CUF Descobertas - 2.916 |
Hospital Garcia de Orta - 2.552 | Hospital da Luz Lisboa - 2.898 |
Hospital Beatriz Ângelo - 2.295 | Lusíadas Lisboa - 2.452 |
Hospital de Santa Maria - 2.250 | Lusíadas Amadora - 1.077 |
Hospital Amadora-Sintra - 2.149 | |
Hospital de Cascais - 2.099 | |
Hospital São Francisco Xavier - 1.887 | |
Hospital Vila Franca de Xira - 1.564 | |
Hospital do Barreiro - 1.403 | |
Hospital de Setúbal - 1.282 | |
Hospital do Oeste - 1.266 | |
Hospital de Santarém - 1.082 | |
Hospital do Médio Tejo - 713 |
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Em declarações ao jornal, Nuno Clode, presidente da Sociedade Portuguesa de Obstetrícia e Medicina Materno-Fetal e coordenador do serviço de ginecologia e obstetrícia do Hospital CUF Torres Vedras, disse que "não há comparação possível entre o público e o privado".
"No SNS, as escalas dos ‘bancos’ [urgências] têm de estar preparadas para tudo o que apareça", sublinha.
Os partos são apenas uma pequena parte da atividade dos hospitais públicos, que fazem milhares e milhares de urgências de ginecologia e obstetrícia todos os anos. Em 2021, as 13 maternidades do SNS fizeram 146.752 urgências obstétricas, segundo o Portal da Transparência.
Segundo o especialista, aquilo que fez "explodir" o número de partos nos privados "foi o aumento dos seguros de saúde e o facto de muitas das maternidades públicas não permitirem a presença do pai em permanência", ao contrário do que acontece com as privadas, que têm quartos individuais. O médico deixou, no entanto, um alerta: "Os privados têm os seus limites e os seus recursos não são esticáveis. Além disso, dependem fundamentalmente dos médicos que vão lá fazer os partos, têm pequenas equipas na urgência (dois médicos de escala) para os apoiar. Cada grávida traz o médico que acompanhou durante a gravidez".
Contudo, este cenário verificado em Lisboa e Vale do Tejo não se repete no resto do país. No Norte, por exemplo, os privados fazem proporcionalmente muito menos partos. Em toda a região, que se estende desde Bragança até Aveiro e integra 13 hospitais e centros hospitalares com maternidades, do total de 23.992 partos efetuados no ano passado - dados do Instituto Nacional de Estatística -, 20.978 - dados da ARS do Norte - foram realizados nas unidades do SNS.
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