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Dezenas torturados e assassinados em massa em Myanmar

Segundo uma investigação da BBC, dezenas de aldeões foram torturados, mortos e enterrados em valas comuns pelas forças da Junta Militar, em retaliação contra ações de resistência. "Pode acontecer", reconhece o porta-voz do governo militar

Pelo menos 40 pessoas foram torturadas e mortas pelas forças da Junta Militar de Myanmar, segundo uma investigação levada a cabo pela BBC e divulgada esta segunda-feira. Os assassinatos terão acontecido no distrito de Sagaing, no centro do país, que é um dos bastiões da resistência à Junta Militar que tomou o poder num golpe em fevereiro passado, detendo a líder do governo eleita, Aung San Suu Kyi.

As informações da BBC, com base em relatos de mais de uma dezena de testemunhas e em vídeos a que o canal de televisão britânico teve acesso, dão conta de assassinatos em massa de aldeões, não poupando sequer idosos e, pelo menos, uma criança. Os alvos privilegiados das forças governamentais são os homens, por suspeitas de alegada colaboração em ações de resistência à Junta Militar.

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Torturas e massacres em aldeias do centro e do noroeste de Myanmar foram denunciados pela primeira vez no início de dezembro, com a divulgação de vídeos amadores e fotografias. Apesar das imagens, nomeadamente de corpos a fumegar depois de queimados, a Junta Militar respondeu que se tratava de "fake news" (notícias falsas). O modus operandi dos militares descrito nessas denúncias era o mesmo que a BBC diz agora estar provado e demonstrado.

Os assassinatos aconteceram em várias operações distintas. A mais grave terá sido na aldeia de Yin, onde pelo menos 14 homens foram torturados ou espancados até à morte. Neste caso, os corpos foram simplesmente atirados por uma ravina na floresta.De acordo com os relatos recolhidos junto de testemunhas e sobreviventes, os militares entraram em diversas aldeias, reuniram toda a população e separaram os homens, para os matar. Alguns dos soldados seriam pouco mais do que adolescentes.

Os vídeos e fotografias a que a BBC teve acesso mostram que a maioria das vítimas em diversas aldeias terá sido torturada antes dos assassinatos. Depois, os homens foram enterrados em campas rasas. 

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Na aldeia de Zee Bin Dwin, 12 corpos mutilados foram encontrados enterrados em campas rasas. Um dos cadáveres era de uma criança, e outro de um deficiente. Também eles tinham sido vítimas de mutilação. Um homem de cerca de 60 anos foi deixado morto, amarrado a uma árvore, igualmente com indícios claros de tortura. 

Os relatos confirmam aquilo que as imagens indiciam. Segundo uma testemunha, na sua aldeia os homens foram amarrados, espancados e torturados ao longo de horas. Um homem que conseguiu escapar contou que, depois de amarradas, as vítimas foram apedrejadas, agredidas com coronhadas e torturadas ao longo de todo um dia. Aos gritos das mulheres, que pediam que parassem, os militares respondiam-lhes que rezassem pelas almas dos maridos e familiares.

“Não conseguíamos olhar, por isso ficámos de cabeça baixa, a chorar”, relatou uma mulher, que perdeu o irmão, um sobrinho e um cunhado.

"Pode acontecer", admite a Junta Militar

Questionado pela BBC, o vice-ministro da Informação e porta-voz da Junta Militar de Myanmar não negou que estes assassinatos tenham ocorrido. “Pode acontecer”, disse o general Zaw Min Tun. “Quando eles nos tratam como inimigos, temos o direito de nos defendermos”.

Tudo indica que os assassinatos em massa serão um castigo coletivo imposto pelas autoridades militares após a resistência da população daquela zona do país aos golpistas. A prefeitura de Kani, no distrito de Sagaing, é um dos territórios onde as Forças de Defesa do Povo têm mais presença - trata-se do nome coletivo adotado por várias milícias populares que mantêm a resistência às forças militares golpistas, exigindo o regresso à democracia em Myanmar.

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