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Gasoduto ibérico: “É impossível” o mesmo gasoduto servir gás e hidrogénio, garante especialista

António Eloy quis ainda “desmascarar a ideia de que este projeto é 'verde'”, argumentando que, mesmo que apenas servisse para transporte de hidrogénio, “teria certamente contributos de energia ‘negra’”

O coordenador do Observatório Ibérico de Energia, António Eloy, defendeu esta quarta-feira que “é impossível” o mesmo gasoduto servir gás e hidrogénio, como apontam os governos espanhol, português e francês, no âmbito do acordo para acelerar as interconexões energéticas.

“É impossível o gasoduto, o mesmo, servir dois segmentos de produção diferentes”, defendeu o coordenador do Observatório Ibérico de Energia, em resposta escrita à Lusa.

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Em causa está o anúncio, na semana passada, de que os líderes de Portugal, Espanha e França decidiram avançar com um “Corredor de Energia Verde” para as interligações energéticas entre os países, apostando numa ligação por mar entre Barcelona e Marselha (BarMar), em detrimento de uma travessia pelos Pirinéus (MidCat), que prevê um gasoduto para o hidrogénio ‘verde’ e também, durante a transição, para o gás.

“O projeto é ainda completamente virtual. Para a sua concretização falta, desde logo, a decisão fundamental de investimento, que está longe de estar garantida, assim como os estudos e avaliação de impacto ambiental, duvidosa de ser positiva em diversos casos”, acrescentou António Eloy.

O responsável quis ainda “desmascarar a ideia de que este projeto é 'verde'”, argumentando que, mesmo que apenas servisse para transporte de hidrogénio, “teria certamente contributos de energia ‘negra’”.

Para António Eloy, o projeto, cujo calendário, fontes de financiamento e custos serão discutidos em 9 de dezembro, “é de duvidosa concreticidade”.

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“Atiram os foguetes e apanham as canas e nada, e se for concretizado daqui a nove ou 12 anos será irrelevante, num novo cenário energético”, considerou.

O coordenador do Observatório Ibérico de Energia, que defende há mais de duas décadas a transição para uma economia baseada no hidrogénio, entende que se trata de uma fonte de energia vantajosa numa “economia de proximidade, onde a produção se interligue com o uso”.

“Não é despiciente a exportação, embora, nesse caso, estejamos ou a falar de transporte em contendores do dito líquido, seja em estrada, ou caminho de ferro, ou o improvável e imprevisível transporte em dutos dedicados”, apontou.

Questionado sobre o projeto abandonado, que previa uma interligação entre a Península Ibérica e França através dos Pirenéus, António Eloy lembrou que o MidCat envolvia “um misto de ligações elétricas, absolutamente necessárias".

No entanto, previa também “a megalomania de transportar gás para a Alemanha, quando seria muito mais económica a trasfega de Sines em barco para Hamburgo, sendo que teria graves inconvenientes ambientais no passo dos Pirenéus, além de que, manifestamente, França não estava nada interessada em pagar algo que de nada lhe serve”, realçou.

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