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Nunca tinham viajado com os filhos antes. Isto foi o que aconteceu quando os levaram a viajar pelo mundo fora durante um ano

Quando Margaret Bensfield Sullivan imaginava o tipo de família que poderia viajar por um ano para explorar o mundo em conjunto, tinha uma imagem muito específica na sua cabeça.

Envolvia uma “bandana”, “um bebé às costas” e uma “selfie a sorrir” numa “banca de noodles à beira da estrada”.

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Contudo, há alguns anos, Sullivan pôde finalmente fazer precisamente isso com a sua própria família, que, enfatiza, está o mais longe possível dessa imagem.

Aventura em família

“Ouvimos falar de pessoas que fazem este tipo de viagens, e pensamos que fazem parte de uma franja da população”, diz à CNN Travel Sullivan, anteriormente sócia numa agência de marketing.

“Agora que o fiz, e que pertenço a esta comunidade, vejo que esse não é de todo o caso. É uma coisa que está a tornar-se cada vez mais comum.”

A viagem épica viu-a deixar para trás a sua vida corporativa em Nova Iorque para passar um ano a viajar por 29 países diferentes com o marido, Teddy, um antigo jogador de basebol, e os filhos de ambos, Willa e James, que à data tinham seis e quatro anos, respetivamente.

De acordo com Sullivan, ela e o marido nunca tinham viajado com os filhos antes de fazerem esta grande viagem.

“Adorávamos viajar enquanto casal”, explica Sullivan, recordando como visitaram juntos países como a Tailândia, Cambodja, Argentina e Turquia, antes de a família aumentar.

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“Mas assim que tivemos filhos em 2012, simplesmente pensámos ‘Qual é o objetivo? Vamos esperar até que eles sejam mais velhos, senão não vão lembrar-se de nada’.”

Contudo, Sullivan explica que uma viagem de trabalho à Tanzânia em 2017 mudou completamente a sua perspetiva.

“Tudo mudou para mim nessa semana, porque houve uma espécie de epifania”, diz. “O mundo é grande, eu sou pequena, a minha vida é pequena. E o tempo é curto.”

Assim que regressou a Nova Iorque, Sullivan disse ao marido empreendedor que achava que deviam ambos despedir-se dos seus empregos para viajarem à volta do mundo e passarem mais tempo juntos enquanto família.

“Ainda me rio quando me lembro da cara que ele fez quando ouviu a minha ideia”, diz ela, adiantando que detalhou todas as coisas que poderiam estar a impedi-los e que “tinha respostas para todas elas”.

Sullivan admite que a decisão não foi tomada imediatamente, e que só por volta de um ano mais tarde, quando ela e Teddy atravessam um “momento de transição” nas suas carreiras, que decidiram dar o salto.

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‘Seguindo o sol’
Quando chegou a hora de planearem a sua rota, a família Sullivan decidiu "seguir o sol" (Margaret Bensfield Sullivan)

Assim que tomaram a decisão, o casal passou sete ou oito meses “a preparar as questões logísticas” e a abrandar as suas vidas em Nova Iorque.

“Todas as despesas [foram] canceladas, foi a melhor sensação do mundo”, diz. “E todo o dinheiro que tínhamos acabámos por gastá-lo a viver na estrada durante um ano.”

Para garantir que a viagem decorria da forma mais suave possível, os Sullivans fizeram planos com três meses de antecedência, fazendo reservas de tudo, desde voos a acomodação, com antecedência.

“Algumas famílias que já fizeram isto gostam realmente de andar ao sabor da brisa, ver qual a inspiração que se segue e então reservar um voo”, diz Sullivan. “E nós sabíamos que isso simplesmente não ia resultar connosco.”

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Quando chegou a hora de planear a rota, optaram por “seguir o sol”.

Em janeiro de 2019, o quarteto partiu de Nova Iorque para a América do Sul, antes de viajarem até África, o Médio Oriente, Europa e depois Ásia, Austrália e Nova Zelândia.

“Seguindo esta rota da sazonalidade e tempo quente, conseguimos levar bagagem leve”, diz Sullivan. “Quando regressámos a casa, o nosso dermatologista queria matar-nos, mas valeu a pena.”

Sullivan admite que levou algum tempo até ela e o marido se ajustarem à realidade de viajar com crianças pequenas, o que significava que teriam de excluir certas atividades com base nas necessidades dos seus filhos.

“Pensávamos que éramos pais que passavam muito tempo com os nossos filhos e assim que nos fizemos à estrada e que realmente tomámos em mãos as rédeas de cuidadores, apercebemo-nos de que tínhamos muito a aprender”, diz.

“E isso incluiu simplesmente estarmos confortáveis a ajustar os nossos planos de viagem para estar com estas pessoas que precisavam de snacks a toda a hora ou que queriam parar porque tinham os pés cansados ou porque tinham de ir para a cama cedo.”

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Após um par de semanas, eles “diminuíram bastante o ritmo das coisas” e fizeram um esforço para se porem ao nível dos filhos.

“Foi aí que as coisas começaram a melhorar”, acrescenta. “Os queixumes eventualmente pararam e todos pudemos conhecer-nos muito melhor através da experiência. Passámos a conhecer os tiques deles e os seus ódios de estimação e as suas peculiaridades. Não dá simplesmente para evitar ficarmos tão unidos no final da experiência.”

Assim que entraram no ritmo, rapidamente descobriram que “viajar com crianças tem sérias vantagens”.

“Praticamente em todos os lugares onde fomos, as nossas necessidades foram acomodadas, porque tínhamos connosco uma adorável garotinha de quatro anos de cabelo desgrenhado”, diz. “Isso traz à tona um lado das pessoas que não se costuma ver quando se viaja enquanto adulto.”

“Uma das grandes surpresas foi o quão alegres pessoas estranhas ficam por poderem simplesmente chutar uma bola. É como se eles estivessem parados o dia inteiro à espera que esta criança de quatro anos apareça a querer brincar.”

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Riqueza cultural
Os Sullivans visitaram 29 países, incluindo a Mongólia, durante o seu "ano sabático" (Margaret Bensfield Sullivan)

Dos quase 30 países que visitaram durante a sua aventura épica, Sullivan diz que sentiu o maior impacto em dois em particular, um deles a Mongólia.

“Passámos duas semanas neste país que é tão lindo e que tem uma densidade populacional tão baixa, mas que é tão rico culturalmente e importante historicamente”, diz.

“Pudemos ver a vida do dia a dia e conhecer famílias locais.”

A família conseguiu passar três semanas no Vietname, e Sullivan diz que o tempo que ali passaram também teve um impacto significativo.

“Foi realmente um dos sítios com mais alma que visitámos”, diz. “De certa forma foi comovente, em parte porque existe esta história americana com o país.”

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“É uma das populações mais jovens do mundo, [e tem uma] população muito jovem que é muito positiva e otimista e que está ansiosa por aprender inglês, viajar e conhecer novas pessoas. Pelo que foi um país muito acolhedor que, apesar do passado recente difícil, nos abraçou.”

Sullivan também recorda com carinho assistir a um lindo pôr do sol na Indonésia, uma visita bem cedo de manhã à Grande Muralha da China e o salto de um barco para o rio Amazonas.

“Nunca pensei fazer estas coisas na minha vida, mas estão gravadas na minha memória para sempre”, acrescenta.

Apesar de ela e o marido estarem preocupados sobre se os seus filhos iriam adaptar-se a estarem constantemente em mudança, Sullivan diz que acolheram tudo com calma.

“Pensámos que ia haver todo o tipo de drama – os nossos filhos gostam de uma rotina”, diz ela. “Pensámos que mudar de fusos horários e mudar de quartos constantemente iria baralhá-los totalmente, mas isso não aconteceu.”

“A viagem acabou por ser uma grande percentagem da vida deles. E muito rapidamente, este estilo de vida tornou-se o seu novo normal.”

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Sullivan adianta que as crianças ficaram simplesmente “excitadas por estarem o dia inteiro com a mãe e o pai” e que não chegaram realmente a ter saudades de casa.

Quando regressaram aos EUA no início de 2020, outras famílias passaram a pedir-lhe conselhos constantemente para fazerem viagens semelhantes e decidiu escrever um livro, “Following the Sun” (“Perseguindo o sol”, numa tradução livre), sobre as suas experiências.

“Estava sempre a ter as mesmas conversas com as pessoas”, diz Sullivan, explicando que tinha tirado notas detalhadas quando estiveram fora. “[E] simplesmente pensei por que não partilhar tudo. E talvez isso seja útil para alguém.”

Sullivan e o marido assumiram diferentes papéis e responsabilidades enquanto viajaram, com um a assumir o levantamento de dinheiro na moeda local, bem como as “logísticas e operações”, e o outro a gerir as fotografias e a atualizar a conta de Instagram da família.

Enquanto estiveram fora também assumiram a educação escolar das crianças, e Sullivan admite que ao início isso foi difícil.

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“Eles [os filhos] resistiram ao início, bastante até”, diz ela. “E eventualmente tornou-se um hábito como tudo o resto.”

Uma das principais coisas que Sullivan sublinha a outros casais que estão a considerar fazer as malas e fazer-se à estrada com as suas famílias é que devem apenas considerar se, todos juntos, funcionam bem como uma equipa.

Laços “fortes”
A família a fazer mergulho em apneia toda junta na Grande Barreira de Corais, na Austrália (Margaret Bensfield Sullivan)

“É impensável se não forem compatíveis com o vosso parceiro”, diz ela. “Quero dizer, é muito tempo e muito tempo passado em conjunto, há muitas decisões para tomar, incluindo como disciplinar as crianças e como gastar o dinheiro.”

“E se não estiverem no mesmo comprimento de onda, vão estar constantemente a discutir.”

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Sullivan também ressalta que o seu livro “não deve ser considerado um daqueles guias inspiracionais de todos-podem-fazer-isto”.

“Claramente nem toda a gente pode fazer aquilo que nós fizemos”, escreve ela em “Following the Sun”. “Naquele ponto das nossas vidas, podíamos dar-nos ao luxo de ficar um ano sem salários e ainda assim conseguir pagar pelos voos, refeições, acomodação e atividades.”

“Para além disso, o meu marido e eu estávamos ambos num momento de transição em termos profissionais e portanto não precisávamos de negociar uma sabática com os nossos patrões.”

Sullivan sente que seria impossível perceber realmente o impacto que a viagem deles à volta do mundo teve nos seus filhos, em particular porque a pandemia de Covid-19 pôs o mundo em pausa assim que eles regressaram a casa.

Atualmente, a família está de volta a Nova Iorque e as suas vidas basicamente voltaram ao normal, mas o ano que passaram juntos alterou significativamente a forma como vivem as suas vidas e a forma como olham para o mundo.

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“Descobrimos este poder de desacelerar o tempo”, diz Sullivan. “Todos conhecemos a sensação de estar numa passadeira rolante e nem sequer nos lembrarmos de como chegámos ao trabalho. A rotina pode ser ótima. Mas também pode fazer-nos sentir que o tempo voa.”

“Quando se acrescenta novidade aos dias, o tempo parece que estica. E nós tivemos um ano em que tudo era novo. Dinheiro, moeda, a língua nas ruas, olhar para um mapa para tentar perceber o que se passa. Era tudo tão novo a toda a hora.”

“Quando as pessoas perguntam ‘Esse ano passou a voar?’ Absolutamente que não. Foi-se arrastando ao ritmo mais gratificante. Foi épico, não fugaz.”

Após descobrirem o quanto gostam de viajar juntos, os Sullivans têm aproveitado cada oportunidade para explorar ainda mais o mundo.

Os quatro já visitaram o México, Guatemala, Itália e Grécia, e planeiam passar o verão de 2024 a explorar as ilhas caribenhas de Granada, Barbados, Dominica e Santa Lúcia.

“Adoramos viajar juntos. E talvez mais importante, adoramos estar juntos”, acrescenta Sullivan. “Somos absolutamente uma unidade de força. É um laço forte. Conhecemo-nos todos tão bem.”

“Viajamos com pouca bagagem. Somos uma espécie de máquina bem oleada a esse respeito. Mas também somos um tipo diferente de família, esta que regressou.”

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