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Bugalho chocou com a esquerda por causa do aborto mas deixou um compromisso para as mulheres

Foi o último debate a quatro com candidatos às eleições europeias e aconteceu na TVI e a CNN Portugal

"Posso-lhe dizer que no meu mandato, na minha equipa, não haverá um único retrocesso nos direitos das mulheres. Fica um compromisso solene feito." A frase de Sebastião Bugalho foi proferida depois de o candidato da AD ter ficado isolado ao não concordar com a introdução do direito ao aborto na carta dos direitos fundamentais da União Europeia. A seu lado, Marta Temido (PS), Catarina Martins (BE) e Pedro Fidalgo Marques PAN) mostraram-se todos a favor. 

Sebastião Bugalho sublinhou que o direito da mulher ao aborto vem acompanhado do direito à vida. "A IVG é um equilíbrio entre os dois direitos. Colocá-lo isolado na carta dos direitos fundamentais seria errado juridicamente", afirmou. A sua posição, sublinhou, é portanto, meramente jurídica e não põe em causa de forma alguma os atuais direitos das mulheres portuguesas.

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No entanto, estas palavras não deixaram descansadas sobretudo as duas candidatas mulheres no debate desta noite. "O que está em causa em última instância é a morte de mulheres por uma questão de complacência a interrupção voluntária da gravidez clandestina", disse Marta Temido. "Do ponto de vista civilizacional não consigo entender como é que este direito não deve constar na carta dos direitos fundamentais", defendeu a antiga ministra da Saúde.

Catarina Martins concordou com Marta Temido: "A desculpa jurídica é só uma desculpa. Há neste momento mulheres que vão presas e morrem devido ao aborto", sublinha a candidata do BE.

A extrema-direita não chegou a ser um tema debatido esta noite, mas Catarina Martins acusou os partidos da direita de estarem a tentar dizer que "há a extrema-direita boa e a extrema direita-má, mas toda ela ataca as mulheres. Para mim não há extrema direita boa e má". Sebastião Bugalho aproveitou para marcar a sua posição e fazer mais uma promessa: "As linhas direitas de Ursula von der Leyen são o respeito pelo estado de direito, o respeito pelo europeísmo e a defesa da Ucrânia. As minhas são exatamente as mesmas. E posso lhe garantir que não serão quebradas".

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Pedro Fidalgo Marques, do PAN, trouxe para a mesa a violência doméstica, que afeta sobretudo as mulheres e as crianças, e os problemas das minorias como as pessoas LGBTI e as pessoas racionalizadas. "O discurso de ódio mata", afirma o candidato do PAN.

"Não vim para aqui debater assuntos governamentais ou nacionais, vim para aqui debater assuntos europeus"

O último debate a quatro na televisão para as eleições europeias, começou com uma notícia muito recente: António Costa foi ouvido pelo DCIAP e não foi constituído arguido na operação Influencer. "Esta é uma excelente notícia para começar a noite", afirmou a candidata socialista Marta Temido, admitindo que o ex-primeiro-ministro poderá ser candidato à presidência do Conselho Europeu. "Para nos sempre foi um bom candidato." Mas nenhum dos outros candidatos se comprometeu com um eventual apoio a Costa. "Eu estou aqui como candidato da AD ao Parlamento Europeu, não estou aqui para fazer campanha para o Conselho Europeu", disse Sebastião Bugalho. "Quem tem de se saber se quer ser candidato é António Costa e o Partido Socialista europeu."

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Também Catarina Martins, do Bloco de Esquerda, se recusou a apoiar uma candidatura que ainda não existe. Preferiu sublinhar os atrasos na justiça - seis meses para ser  antigo primeiro-ministro ser ouvido. E deixou claro que o facto de um candidato ser português não o torna necessariamente um bom candidato. Já Pedro Fidalgo Marques, do PAN, lembrou como o caso causou uma crise política e sublinhou a necessidade de reforçar os meios na justiça.

A jornalista Sara Pinto quis saber se, no caso de ser necessário, os deputados no Parlamento Europeu irão pressionar para alargar o prazo de execução do PRR. "Sim, mas sabendo que isso é muito difícil, devido às características específicas deste programa. O Governo terá de se empenhar no cumprimento das metas", respondeu Marta Temido. A socialista está convicta que as metas serão cumpridas: "Todos os esforços estavam a ser feitos nesse sentido", sublinhou "A execução financeira do PRR é superior à média europeia. Não vejo qual é o impedimento a garantir aquilo que já vinha sendo garantido", disse.

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Sebastião Bugalho não gostou da pergunta. "Eu tenho muita confiança na capacidade de execução deste Governo, mas não vim para aqui debater assuntos governamentais ou nacionais, vim para aqui debater assuntos europeus. Se podermos falar, de facto, daquilo que nós realmente vamos poder falar, acho que era mais útil para os portugueses", respondeu, entrando em confronto com a moderadora. "Eu não sou porta-voz do Governo", sublinhou, acabando por responder: "O que eu espero é que, independentemente de quem esteja a governar, o PRR seja executado o mais rapidamente possível, para os portugueses terem resolvidos os problemas".

Pedro Fidalgo Marques aproveitou a questão sobre o PRR para criticar os investimentos feitos pelo "bloco central" - que vão sobretudo para obras, como o aeroporto, em detrimento de áreas como a saúde, educação ou cultura. E criticou os apoios europeus às touradas. O candidato do PAN afirma que "não podemos ficar reféns do défice e da dívida", "temos que mudar a narrativa".

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"Claro que se for preciso alargamento de prazo, o Bloco de Esquerda lutará para isso", respondeu Catarina Martins, sublinhando no entanto que o PRR  é uma medida pontual. "O que nós precisávamos era que fosse permanente, para os estados terem capacidade para investir nos serviços públicos, na habitação e noutros." 

Catarina Martins critica as regras da governação económica, mas no combate à corrupção estão todos de acordo

A candidata do Bloco de Esquerda aproveitou, então, para introduzir aqui um temas mais polémico: "Isto tem ligações claras com decisões que foram tomadas no Parlamento Europeu e que foram erradas. Foram aprovadas novas regras de governação económica que dão à Comissão Europeia poder discricionário para decidir onde pode o país investir ou não. Nesta questão da governação económica PS e PSD estiveram juntos", acusou. 

Respondendo a Catarina Martins, Marta Temido disse estar de acordo quanto à necessidade de um investimento permanente, mas quanto às regras da governação económica não poderia concordar: "Nós não podemos estar no euro e não ter determinadas regras", e garantiu que estas regras de governação económica são melhores do que as anteriores. "São mais extensas no tempo, têm maior intervenção dos parlamentos nacionais", defendeu a ex-ministra da Saúde, dizendo ainda que estas regras dão maior flexibilidade aos países na sua aplicação. Neste foi - excecionalmente - acompanhada por Sebastião Bugalho, que defendeu que estas regras dão maior flexibilidade aos governos dos países para executar as suas políticas públicas, desde que cumpram o limite do défice e reduzam a dívida pública.

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"O que é absurdo é o Parlamento Europeu ter dado esse poder à Comissão Europeia", reagiu Catarina Martins. "Se calhar esqueceram-se de ler as letras pequenas onde se diz que a Comissão Europeia fica com poder discricionário para cortar onde se vai investir. Nunca a Comissão Europeia teve tanto poder. Isto é um erro e é um absurdo. Sobretudo neste momento em que a extrema-direita vai ter tanto poder na Comissão Europeia - podemos fingir que não vemos, mas está a acontecer à nossa frente."

No último tema da noite, o combate à corrupção, os candidatos estiveram todos de acordo. Catarina Martins criticou a falta de transparência na União Europeia, nomeadamente no que toca à regulação dos lobbies e à existências de off-shores. Sobre a corrupção, Marta Temida foi clara: "Linha intransponível, combate feroz à corrupção".

"Cinismo é tentar enganar as pessoas", afirmou Pedro Fidalgo Marques. "O lobing não é só mau: é também as pessoas apresentarem as suas preocupações." Por isso o que exige é transparência e regulação do lobing, e maior fiscalização dos investimentos. Por seu lado, Sebastião Bugalho garantiu: "Nós na AD somos contra a existência de regimes onde não haja transparências fiscal". 

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