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"Get Back": seis horas no estúdio de gravação com os Beatles

São três episódios realizados por Peter Jackson a partir de quase 60 horas de imagens captadas durante a gravação do álbum "Let It Be", em 1969. O primeiro estreia quinta-feira no Disney+

Entre 2 e 31 de janeiro de 1969, o realizador Michael Edward Lindsay-Hogg esteve com os Beatles em estúdio enquanto eles gravavam o álbum "Let it Be". O material foi usado no documentário "Let it Be", com apenas 80 minutos, lançado em 1970 - um filme que acompanha o processo do gravação e culmina com o famoso concerto dos Beatles no telhado da Apple, em Londres, mas também capta algumas discussões entre os músicos naquela que seria a fase final da banda.

Agora, o realizador Peter Jackson pegou em quase 60 horas de imagens que nunca foram usadas e ainda 130 horas de áudio e transformou-as num novo documentário - uma minissérie de três episódios e um total de mais de seis horas que é, nas palavras de Jackson, "como uma máquina do tempo que nos transporta de volta a 1969, como se nos sentássemos num canto do estúdio a ver estes quatro amigos a fazerem boa música juntos". O primeiro episódio vai ficar disponível na quinta-feira (dia 25) e os seguintes na sexta e sábado, no canal Disney+.

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O filme - que surpreende pela enorme qualidade de som e imagem, restaurados digitalmente - contou com a supervisão musical de Giles Martin (filho do histórico produtor dos Beatles, George Martin) e com a total colaboração de Paul McCartney e Ringo Starr, Yoko Ono e Olivia Harrisson (viúvas de John Lennon e George Harrisson, respetivamente). No entanto, o  realizador de "O Senhor dos Anéis" já garantiu que os Beatles não tiveram qualquer intervenção no seu trabalho.

"Muita gente acha que é um branqueamento", disse o realizador ao The New York Times. "Mas na verdade é quase exatamente o oposto. O filme mostra tudo o que Michael Lindsay-Hogg não pôde mostrar em 1970." Porque 50 anos depois já é possível olhar para aqueles momentos que determinaram o fim do grupo com algum distanciamento.

Os Beatles eram, naquela altura, a banda mais popular do mundo, mas os problemas já eram visíveis. A gravação do "Álbum Branco" tinha sido bastante atribulada e o último concerto do grupo tinha acontecido a 29 de agosto de 1966, no Candlestick Park, em San Francisco, EUA.

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Em janeiro de 1969, John e Ringo tinham 28 anos, Paul 26 e George 25. Nem 30 anos ainda e já tinham atingido o topo da carreira. Numa tentativa de recuperar um pouco a espontaneidade dos primeiros tempos, a ideia destas sessões era que, em apenas três semanas, os Beatles criassem novas canções para um álbum com o mínimo de interferências da pós-produção e que seriam apresentadas num concerto logo a seguir. O ambiente no estúdio oscilava entre o divertimento quase infantil entre amigos e a tensão provocada pelas muitas discussões.

Apesar de "Let It Be" não ser o último disco que os Beatles gravaram juntos (logo a seguir fizeram "Abbey Road), este haveria de ser o último a ser lançado, já em maio de 1970, após a decisão da separação. Lennon descreveu as sessões como "um inferno" e Harrison - que chegou a abandonar o projecto a meio e depois voltou - chamou-lhes "o inverno do descontentamento" dos Beatles.

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Surpreendentemente, o disco tem alguns dos temas mais conhecidos da banda, como  "Get Back" - o single lançado em abril e que era também o nome inicial do álbum - "Let It Be", "Across the Universe" ou "The Long and Winding Road".

"Fiquei aliviado por descobrir que a realidade é muito diferente do mito", comentou Peter Jackson depois de ver as imagens.

Claro que há momentos de drama - mas nenhuma das discórdias a que este projeto é geralmente associado. Ver John, Paul, George e Ringo a trabalhar juntos, criando as (agora) clássicas canções, não é apenas fascinante - é divertido, educativo e surpreendentemente íntimo."

Numa nota incluída numa reedição do álbum “Let It Be”, McCartney escreve que o filme original “era muito triste porque falava da separação de banda, mas o novo filme mostra a camaradagem e o amor que existia entre nós os quatro". 

O filme de Jackson mostra bem como o fim estava próximo mas também como todos os conflitos em torno da "gestão do negócio" e da luta pelos direitos de autor tiveram um papel muito mais importante na separação do que eventuais desacordos musicais ou a presença constante de Yoko Ono no estúdio. 

Este filme não mostra a separação dos Beatles”, disse Jackson ao NYT, “mas mostra um momento singular na história que podemos dizer que foi o princípio do fim”.

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