Vítor Sereno, novo embaixador de Portugal no Japão, considera que há “indiscutivelmente” uma “mudança de paradigma” do Japão do ponto de vista da política externa desde o início da guerra na Ucrânia.
No dia em que apresentou ao imperador do Japão as cartas credenciais, o novo representante de Portugal em Tóquio falou com a CNN Portugal sobre a nova atitude japonesa no palco da diplomacia internacional, mas também da longa história de relações bilaterais, que remonta a 1543, quando os portugueses foram os primeiros europeus a chegar às ilhas do Japão.
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Nesta entrevista, Vítor Sereno fala também da experiência de apresentar credenciais ao único chefe de Estado em todo o mundo que tem o título de imperador - o que “envolveu, nestes últimos dias e semanas, todo um conjunto de protocolos e rituais muito interessantes”.
No momento em que começa a representar em Tóquio “um país com 900 anos de história, que está há 500 ligado ao Japão”, Vítor Sereno aponta para a importância do longo passado das relações bilaterais, mas sobretudo para um futuro em que quer mostrar no Japão “um Portugal moderno, competitivo e bom parceiro de investimento”.
A terceira maior economia do mundo está apenas em 31.º lugar enquanto destino de exportações portugueses. “É necessário colocar o Japão no mínimo no top 10”, diz o embaixador, que conta no seu currículo com uma distinção como “diplomata do ano”, recebida em 2019.
Para além da sua importância enquanto potência económica, o Japão parece apostado em ganhar mais voz na geopolítica internacional. Desde o início da guerra na Ucrânia o país tem sido muito vocal na condenação da Rússia e no apoio aos ucranianos - tanto na ajuda aos refugiados como no apoio material à resistência à invasão, com o envio de material militar não letal.
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Na opinião do diplomata português, para constatar a “mudança de paradigma” basta comparar a atitude do Japão face a este conflito com aquela que teve em 2014, quando Putin anexou a Crimeia, e Tóquio só avançou com algumas ações de retaliação, modestas, por causa da forte pressão dos EUA.
O Japão abandonou a sua tradição de discrição diplomática, “não obstante Moscovo e Tóquio terem relações muito próximas a nível comercial”, e apesar de a Rússia ter um papel importante no fornecimento de petróleo e gás ao Japão, importações de importância “vital” para este país. Nipónicos e russos têm dois grandes projetos conjuntos na área da energia, mas nem isso travou o governo japonês na hora de condenar a invasão russa da Ucrânia e de avançar com sanções económicas, ao lado dos outros países do G7.
“O Japão colocou-se indiscutivelmente ao lado dos parceiros do G7”, com sanções contra empresas e pessoas da Rússia, incluindo o próprio Putin e sua entourage próxima. Segundo Vítor Sereno, a atitude do governo de Fumio Kishida é bastante distinta daquilo que acontecia no tempo de Shinzo Abe, que governou o Japão ao longo da década anterior. E o apoio à Ucrânia e condenação da Rússia tornaram-se ainda mais notórios depois da divulgação das imagens do massacre de Bucha, nota o diplomata. Tudo aponta, em sua opinião, para “uma mudança de paradigma quer político quer económico”.
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