As futuras decisões do Conselho do BCE assegurarão que as taxas sejam colocadas em níveis suficientemente restritivos para permitir um regresso atempado da inflação ao objetivo de médio prazo de 2% e que sejam mantidas nesses níveis durante o tempo necessário”, comunicado do Banco Central Europeu (BCE), 4 de maio de 2023
No início de maio, quando o Conselho de Governadores do BCE se reuniu para discutir o que fazer para conseguir controlar a inflação, a decisão foi de um novo aumento das principais taxas de juro. Desta vez, no entanto, a subida foi de apenas 0,25 pontos percentuais, deixando para trás várias subidas de 0,5 pontos e de 0,75 pontos percentuais.
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Era o primeiro sinal de que as anteriores subidas de taxas de juro estariam a surtir efeito e que a autoridade monetária da zona euro poderia abrandar o ritmo. Os dados da inflação conhecidos dias antes nem eram especialmente positivos: a subida dos preços tinha atingindo 7% em abril, uma décima acima dos 6,9% registados em março. Ainda assim, todos os itens registaram uma desaceleração entre março e abril, com exceção dos bens energéticos que, devido a um efeito de base, acabaram por influenciar o conjunto do índice. As metas de inflação definidas pelo BCE pareciam estar no caminho certo.
Esta era, pelo menos, a interpretação de quem está nos mercados financeiros. Dias depois, a agência Reuters publicou os resultados de um inquérito feito a 62 economistas entre 10 e 15 de maio e a opinião da maioria era inequívoca: o BCE ainda iria subir as taxas de juro em 0,25 pontos na reunião do próximo dia 15 de junho. Depois disso, havia quem ‘apostasse’ que se teria chegado ao topo, mas a maioria, 42 dos inquiridos, ‘apostava’ numa nova subida de 0,25 pontos na reunião de 27 de julho. E chegar-se-ia ao topo e as taxas manter-se-iam inalteradas até abril do próximo ano, só depois se começaria a falar em descida de taxas de juro.
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A certeza do que irá o BCE fazer, já em junho, ninguém terá. Até porque ainda esta semana, dia 1, será conhecida a primeira estimativa da inflação de maio para a zona euro e essa será uma informação essencial para o que o BCE irá fazer.
Mas mesmo sem essa informação, dentro da autoridade monetária da zona euro, o debate entre os ‘falcões’, os que defendem que a subida de taxas vá para além de julho, e as ‘pombas’, que acreditam que os juros já estão perto do que deverá ser o seu nível máximo, vai-se fazendo em declarações públicas. Um desses exemplos é do líder do banco central alemão.
O aperto da política monetária ainda não chegou ao fim. Serão necessários mais alguns passos nas taxas de juro para atingir um nível suficientemente restritivo, e teremos então de manter este nível durante um período suficientemente longo até que a inflação tenha descido de forma sustentável. O nosso objetivo a médio prazo é 2%, nem mais nem menos. E queremos atingir este objetivo num futuro próximo", Joachim Nagel, presidente do Bundesbank, banco central alemão, 23 de maio, citado pela Reuters
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NOTA
O BCE tem três taxas de juro de referência:
- A taxa das principais operações de refinanciamento. A taxa à qual os bancos podem contrair empréstimos junto do BCE pelo prazo de uma semana: está atualmente nos 3,75%, mas esteve fixada em zero entre março de 2016 e julho do ano passado;
- A taxa de depósito, que determina os juros que os bancos recebem pelos depósitos realizados junto do BCE: está atualmente em 3,25%. Mas entre julho de 2012 e junho de 2013 era de zero. E entre junho de 2013 e julho do ano passado era negativa, obrigando os bancos a pagar pelos depósitos que faziam no BCE;
- E a taxa de cedência de liquidez, que determina o juro a que os bancos pagam quando contraem empréstimos junto do BCE pelo prazo de um dia (overnight). Está atualmente em 4%.
Subida das Euribor leva a novo salto nas prestações, mas há uma luz ao fundo do túnelOs mercados não ficam, no entanto, à espera da decisão do BCE e vão antecipando os seus movimentos. Em maio, as taxas Euribor continuaram a subir e, como tal, vão levar a uma nova subida das prestações de quem tem crédito à habitação cujos contratos sejam revistos em junho.
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A subida pode mesmo chegar a aumentos de cerca de 290 euros mensais para quem tenha um crédito de 150 mil euros, a 30 anos, com um spread (margem do banco) de 1% e tenha o contrato indexado à Euribor 12 meses. Mas mesmo nos contratos cujo indexante seja a Euribor 6 meses ou 3 meses, não sendo a subida da prestação tão significativa, o aumento já verificado no último ano até chega a ser maior.
Quanto já aumentou e quanto vai subir em junho a prestação da casaEmpréstimo a 30 anos com spread de 1%
EURIBOR A 3 MESES
Empréstimo de 25 mil euros
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Empréstimo de 50 mil euros
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Empréstimo de 75 mil euros
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Empréstimo de 100 mil euros
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Empréstimo de 125 mil euros
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Empréstimo de 150 mil euros
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EURIBOR A 6 MESES
Empréstimo de 25 mil euros
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Empréstimo de 50 mil euros
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Empréstimo de 75 mil euros
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Empréstimo de 100 mil euros
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Empréstimo de 125 mil euros
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Empréstimo de 150 mil euros
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EURIBOR A 12 MESES
Empréstimo de 25 mil euros
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Empréstimo de 50 mil euros
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Empréstimo de 75 mil euros
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Empréstimo de 100 mil euros
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Empréstimo de 125 mil euros
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Empréstimo de 150 mil euros
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Apesar destas subidas, as médias mensais das taxas Euribor também permitem antecipar que o movimento de subida das taxas de juro pode estar perto do fim. Olhando para a evolução das médias mensais das várias Euribor é possível verificar que, apesar de continuarem a aumentar de mês para mês, a dimensão desse aumento é cada vez menor desde janeiro. A subida da Euribor 12 meses entre abril e maio, por exemplo, foi de apenas de uma décima de ponto percentual. Em setembro do ano passado, esse aumento mensal tinha sido de quase um ponto percentual. E nas Euribor 3 meses e 6 meses, a subida entre abril e maio ficou abaixo de duas décimas de ponto percentual, quando chegaram a atingir subidas de 0,6 e 0,7 pontos percentuais, respetivamente.