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"São imensas. Voam e aterram em cima de nós. Ficam presas no nosso cabelo": o que esperar do histórico aparecimento de milhões, talvez biliões, de cigarras

Aparecimento simultâneo de duas ninhadas de cigarras periódicas nos Estados Unidos não acontece desde 1803 e as duas só voltarão a coincidir em 2245. Para quem está preocupado com a invasão de insetos, os especialistas garantem que não mordem nem picam

Uma maravilha espetacular da natureza ou um incómodo que provoca ansiedade? Depende de quem perguntar.

Os naturalistas já avistaram as primeiras chegadas de um fenómeno raro, durante o qual as cigarras surgirão nesta primavera em mais de uma dúzia de Estados norte-americanos - incluindo áreas populosas como Chicago, Nashville e St. Louis - cobrindo a parte oriental do país com milhares de milhões, talvez biliões, de insetos voadores.

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Os insetos infiltrar-se-ão numa área geográfica muito maior do que em ocorrências semelhantes na maioria dos anos, porque fazem parte do duplo aparecimento de duas ninhadas periódicas de cigarras. Estes grupos de múltiplas espécies de Magicicada aparecem como um relógio após um certo número de anos, mas o aparecimento simultâneo destas duas ninhadas não acontece desde 1803.

A ninhada do Norte do Illinois passou 17 anos debaixo da terra antes de emergir e é conhecida como Ninhada XIII, enquanto a Grande Ninhada do Sul, ou Ninhada XIX, vive debaixo da terra há 13 anos. As duas ninhadas só voltarão a coincidir em 2245.

Embora o aparecimento em grande escala ainda não esteja a decorrer, os especialistas têm algumas orientações sobre como se preparar para a época das cigarras.

Uma cigarra periódica que acabou de perder o seu exoesqueleto rasteja entre buracos cavados por ninfas de cigarra em 20 de maio de 2021, em Takoma Park, Maryland. Chip Somodevilla/Getty Images

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O que esperar

Quando pequenos buracos que se assemelham a minúsculas chaminés aparecem no solo perto das raízes das árvores, é um sinal de que as cigarras periódicas irão em breve emergir do seu covil subterrâneo.

Assim que o solo atinge a temperatura certa, cerca de 18 graus Celsius, as cigarras bebés, chamadas ninfas, começam a surgir.

Assim que estão acima do solo, os insetos dirigem-se para uma superfície vertical - normalmente um tronco de árvore, mas pode ser uma vedação. Aí, desprendem o seu esqueleto exterior duro e abrem as asas pela primeira vez, antes de passarem quatro a seis semanas num frenesim ruidoso de alimentação, acasalamento e postura de ovos.

O sinal mais óbvio da sua chegada é o som caraterístico que emitem - um zumbido. Os insetos juntam-se nas árvores e as cigarras macho formam um coro cacofónico de milhares para atrair os seus pares.

“Quando se diz que é tão barulhento como um cortador de relva, é mesmo tão barulhento como um cortador de relva”, comparou Paula Shrewsbury, professora do departamento de entomologia da Universidade de Maryland, nos Estados Unidos.

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“Vivemos perto de um aeroporto e quando os aviões estão a sobrevoar... as cigarras aumentam o seu nível sonoro, é como se estivessem a competir com os aviões pelo som”, disse Shrewsbury.

Uma árvore jovem em Takoma Park, Maryland, é coberta por uma rede para proteger os seus pequenos ramos de serem danificados pelas cigarras que periodicamente põem os seus ovos neles, maio de 2021. Chip Somodevilla/Getty Images North America/Getty Images
Como se preparar

As cigarras fêmeas usam um órgão de postura, chamado ovipositor, para pôr os ovos dentro de fendas que cortam nos ramos das árvores.

No entanto, é improvável que as cigarras causem danos irreparáveis a plantas, árvores, hortas ou canteiros de flores, explicou John Lill, professor de biologia da Universidade George Washington.

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É possível que os insetos danifiquem um rebento muito jovem e, para evitar que isso aconteça, pode cobrir-se o rebento com uma rede de proteção, sugeriu.

As cigarras são um buffet all-you-can-eat [tudo o que quiser comer, na tradução literal] para muitos animais, incluindo os de estimação. Lill contou que uma vez teve de levar o seu cão ao veterinário depois de aquele se ter empanturrado de cigarras, mas os insetos - que se diz terem um sabor doce, semelhante ao das nozes - não são inatamente prejudiciais quando comidos por animais de estimação ou humanos.

O que fazer se odeia insetos

Tente substituir o medo pelo fascínio, aconselhou Lill, e lembre-se de que as cigarras, que têm cerca de um centímetro de comprimento, não mordem nem picam.

Encare o duplo aparecimento como uma oportunidade notável de ver um fenómeno natural glorioso e misterioso que tem encantado as pessoas durante séculos.

As cigarras não mordem nem picam. Jason Whitman/NurPhoto/Shutterstock

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Descarregue aplicações científicas comunitárias, como a aplicação Cicada Safari, e tire fotografias para ajudar os investigadores a estudar estes insetos, que beneficiam o ambiente natural onde vivem: as ninfas das cigarras soltam e arejam o solo enquanto fazem túneis e, quando morrem, adicionam nutrientes ao solo.

Existem mais de 3.000 espécies de cigarras em todo o mundo, mas apenas nove são periódicas e, dessas, sete estão confinadas ao leste dos Estados Unidos.

Não se sabe ao certo porque é que as cigarras periódicas evoluíram para emergir a cada 13 ou 17 anos. É um tempo de vida invulgarmente longo para um inseto.

No entanto, para quem odeia insetos, ficar dentro de casa ou programar as férias para o pico do aparecimento pode ser a melhor estratégia.

“São imensas. Voam e aterram em cima de nós. Ficam presas no nosso cabelo", acrescentou Shrewsbury. “Se realmente é um cigarrofóbico, é melhor viajar para longe."

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