“Podemos sentar-nos ali nas mesas de voto”, diz Rita Matias, “as votações ainda não começaram, podemos falar ali”. Mas não dá para falar, tem de distribuir beijos, cumprimentos, é o primeiro dia da convenção do Chega e é uma das mais procuradas. Incluindo por André Ventura.
Rita Matias não era para falar no primeiro dia da convenção, que decorre em Viana do Castelo entre sexta e domingo, mas André Ventura viu a manchete do Expresso - “30% dos jovens nascidos em Portugal vivem fora do país” -, ligou a Rita Matias e pediu-lhe que falasse sobre o tema logo na abertura da convenção, Rita Matias é coordenadora nacional da Juventude Chega. “Eu nem vim vestida para discursar mas o André diz que assim até estou jovem”, “assim" é de xaile aos ombros”, roupa escura, no discurso que fez culpou o PS pelo conteúdo daquela manchete - “30% dos jovens nascidos de Portugal saíram do país, é este o resultado de anos de governação socialista” -, prometeu “acabar com as casas de banho mistas” e garantiu que o Chega já é o principal partido entre os jovens.
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“Podemos sentar-nos ali nas mesas de voto”, diz Rita Matias, sentamo-nos por fim mas ela continua a sorrir e a acenar a quem lhe acena e sorri primeiro, é das mais populares da convenção. E uma das preferidas de André Ventura, que no dia seguinte, no sábado de manhã, anunciou que Rita Matias é a mandatária nacional para as legislativas, a sala levantou-se e gritou “Rita, Rita”, André Ventura no palco fez o mesmo, “Rita, Rita”.
Rita Matias tem 25 anos, é a única mulher entre os deputados do Chega, os demais 11 são homens entre os 40 e 72 anos. Nunca se sentiu fora de sítio, diz, “sinto-me confiante e sobretudo bastante apoiada, é um privilégio”, sublinha que “ser mulher e ser jovem” faz com que se destaque: “Costumo dizer que me sinto muito mais livre do que a maioria das pessoas que conheço porque faço parte daquilo que nunca ninguém quis fazer”.
Conta que o pior insulto que lhe fizeram na Assembleia da República veio de uma mulher, “cresce e aparece, disse-me, aconteceu em pleno Dia da Mulher”, um 8 de março, “sempre ouvi que as pessoas queriam que uma mulher tivesse voz, mas na Assembleia da República as mulheres só são convidadas para ser ouvidas se for para dizer aquilo que é politicamente correto, que interessa a uma agenda dominante ou que não fere suscetibilidades”.
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Considera que há uma grande hipocrisia sobre a maneira como se avalia os jovens que são ativos politicamente, “dizem que os jovens têm de ter um papel ativo mas quando o temos não nos reconhecem maturidade, competência ou perfil”. Foi no Chega que “encontrei a minha voz, tive a oportunidade de tratar de todos os temas que quis sem qualquer limitação”.
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Nas bancadas do Parlamento “não dá para desativar as notificações do que me é dito”, mas nas redes sociais dá e Rita Matias diz que começou por desativá-las no início do mandato como deputada, fê-lo para “ganhar fôlego e ânimo". “Tudo pode ser alvo de comentários, desde a forma física ao que dizemos, incluindo até aquilo que as pessoas acham que dizes mas não disseste”. Diz que ficou sem espaço privado, “é duro, sobretudo quando se é jovem, sentir a pressão de se ser de um partido de direita radical que desafia os espectros políticos e deixa tantas pessoas desconfortáveis”, mas conta que entretanto arranjou uma maneira de lidar com os comentários sobre ela, “criei uma carapaça, agora rio-me, até tenho grupos no WhatsApp com amigos onde enviamos os comentários mais engraçados”.
Há um comentário em particular de que se lembra, mas é um comentário elogioso, “ veio de um deputado do Partido Socialista, um dos dos mais sensatos”, não diz o nome, dá pistas, “ em tempos foi da ala mais radical do partido e hoje é da mais moderada”, revela o teor, “disse-me que eu era a voz do bom senso em algumas matérias, como a Educação e a questão das casas de banho mistas”.
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Diz que perdeu amigos quando se juntou ao Chega, antes disso foi da Juventude Popular, a ala juvenil do CDS, durou menos de um ano. “Não me revia plenamente, percebia a importância das reuniões e dos temas que tratávamos, mas achava desfasados com a realidade, passava-se demasiado tempo a debater teoria política, faltava adesão aos desafios que os jovens vivem no dia-a-dia”. Acabou por se sentir atraída pelo Chega mas “não foi uma militância logo de primeira hora”: começou por estar atenta ao “fenómeno em torno de André Ventura”, aderiu ao partido durante a pandemia, nessa altura trabalhava como bolseira num centro de investigação da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa.
“Quando me tornei militante não estava à espera de chegar tão de repente onde cheguei”, subiu na hierarquia quando apresentou uma moção sobre natalidade na segunda convenção do partido - “a moção acabou por ser muito bem recebida”, foi aí que começou a proximidade com André Ventura. “Os próprios congressistas levantaram-se várias vezes e expressaram algum consenso e concordância com o que eu disse”, Ventura convidou logo a seguir para entrar para a direção do partido.
Ventura tem sido o seu principal mentor, “é o nome sempre mais evidente mas porque realmente o é”. “Passei muito tempo a observá-lo e a ouvir os seus discursos, ele chama-me frequentemente para corrigir ou para aconselhar a fazer diferente, há uma mentoria óbvia”. E há mais duas pessoas, Jorge Galveias, deputado, e Diogo Pacheco de Amorim, também deputado e tido como mentor de Ventura: “Às vezes não são os oradores mais reconhecidos pelo público, pelo cidadão comum, mas são aquele conforto de avô ali permanente na bancada”.
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