O executivo da Junta de Freguesia de Santa Maria Maior manifestou "a sua apreensão e oposição" perante a "possibilidade de ocupação abusiva do espaço público prevista num plano de filmagens" de uma produção televisiva para a Netflix "pelo impacto negativo que estas filmagens – oito noites seguidas e dois dias – causarão na qualidade de vida, no direito ao descanso e tranquilidade e no direito à mobilidade dos moradores das zonas contempladas".
Em comunicado divulgado esta segunda-feira, a Junta de Freguesia explica que as filmagens estão previstas para o mês de julho - incluindo oito dias seguidos entre as 18.00 e as 8.00 - "recorrendo a efeitos de fogo, armas de fogo, colisões entre automóveis, perseguições com automóveis e motociclos, perseguições de motociclos pelas escadas e escadinhas dos bairros e outros diversos efeitos especiais na Baixa, Chiado e Mouraria", pelo que "não deixarão de provocar um grande incómodo para a população residente, sobretudo para as famílias com crianças e para os idosos".
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O presidente da Junta, Miguel Coelho, explica à CNN Portugal que foi informado do plano de filmagens, em outubro passado, pela produtora portuguesa Ready to Shoot, que está a trabalhar com uma produtora estrangeira neste projeto. "Foi uma cortesia da parte deles, uma vez que a Junta de Freguesia não tem qualquer autoridade para autorizar ou proibir estas filmagens. Isto foi tratado com a Lisboa Film Comission e com a Câmara Municipal de Lisboa", explica. "Disse-lhes imediatamente que não concordava com o plano, uma vez que aquela intensidade das filmagens iria ter um impacto enorme na freguesia e seria uma agressão muito grande para aqueles que ainda resistem e moram nesta freguesia."
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Recentemente, Miguel Coelho foi convocado para uma reunião na Câmara de Lisboa para debater este tema e voltou a manifestar as suas dúvidas. "Decidi emitir um comunicado, antes de mais para informar os moradores do que vai acontecer e depois também para que saibam que o presidente da Junta está contra estas filmagens", explica. E acrescenta: "Estamos disponíveis para trabalhar no sentido de encontrar uma solução aceitável e com menor impacto negativo para as pessoas".
Miguel Coelho recorda que, nos oito anos que esteve à frente da Junta de Santa Maria Maior, só por uma vez esteve de acordo com filmagens na zona: "E de todas as vezes em que se realizaram filmagens contra a minha vontade recebi muitas queixas dos moradores, por isso sei do que falo".
Segundo o presidente da Junta, o plano inclui fechar a rua da Madalena durante dois dias para ali encenar explosões e perseguições, o que causará "um grande transtorno na vida das pessoas", além das filmagens à noite, previstas para diversas zonas, do Chiado à Mouraria, passando pelo Largo do Carmo, rua da Conceição, Largo do Caldas e outras artérias. "Está em causa o direito ao descanso dos moradores, assim como os direitos de circulação, acesso e estacionamento, em consequência da ocupação massiva que as filmagens acarretam", lê-se no comunicado.
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"Isto não é um estúdio de filmagens, é uma cidade onde vivem pessoas. Por muito prestigiante que seja uma iniciativa, o meu dever é pensar, antes de mais, nas pessoas que aqui moram. E à noite as pessoas querem descansar. O nosso período de folia e de exceção é durante os santos populares", declara Miguel Coelho. "Há mais becos e escadinhas em Lisboa", alega.
A CNN Portugal tentou contactar a produtora Ready to Shoot para saber mais pormenores sobre o projeto em causa, mas tal não foi possível.
Contactada pela CNN Portugal, a autarquia esclareceu apenas que o "assunto está a ser alvo de análise pela Câmara Municipal de Lisboa, em estreita articulação com as Juntas de Freguesia envolvidas, e estando a decorrer os trâmites normais deste tipo de processos".
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