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Não vive sem o seu café todos os dias? Alerta: stock de referência baixou, preço pode subir

Há perspetivas de que o preço do café enquanto matéria-prima possa subir 20%. Mas isso vai ter impacto na sua carteira? Talvez não. Porque em Portugal consumimos uma variedade de café que não está a ser tão afetada na negociação. E porque a tendência de subida não deverá mostrar-se sólida. Então o porquê de tudo isto? Uma mudança de regras

Tal como muitas outras matérias-primas, o café é negociado em bolsa. E é do mercado de referência para o café arábica – a Intercontinental Exchange - que vêm perspetivas menos animadoras para os apreciadores de café.

Há cerca de 10 anos que, neste local de negociação, o stock de café não era tão baixo. E já sabe como funciona o mercado: menos oferta, subidas no preço. Mas a que se deve tudo isto? A uma alteração das regras, que fez soar as campainhas de alarme.

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Os produtores colocavam o seu café nos armazéns cotados na Intercontinental Exchange. Mas “quando o café ficava lá muito tempo em stock, levavam uma penalização por antiguidade”, explica o analista da XTB Vítor Madeira.

Antes, para evitá-la, os produtores retiravam o café do armazém para o “recertificar” depois - ou mesmo para vendê-lo fora do mercado contratual. Só que, desde 1 de dezembro, ficou claro que o café já certificado não poderá ser vendido múltiplas vezes na Intercontinental Exchange.

Com a forte produção, que levava à acumulação de stocks, o café arriscava-se a ser negociado a preços inferiores ao normal. Daí que, ao longo dos últimos meses, para evitar penalizações, tenha havido agentes a reduzir a quantidade da sua matéria-prima sujeita a esta negociação.

E, com a alteração na certificação, no início do mês, muitos optaram também por retirá-lo, ditando uma forte queda nos inventários.

(Unsplash)

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Vou sentir o efeito na bica?

Este é o cenário no mundo da negociação do café. Mas, no que toca a si, há motivos para preocupação?

“Por enquanto não, não devemos estar preocupados com o preço do café”, explica Vítor Madeira. Até porque a tendência portuguesa no consumo ajuda neste cenário: “o mercado que está a ter mais impacto é o café arábica. O café que consumimos mais em Portugal é o café robusta”.

“Não espero qualquer subida no preço do café. O café vem de um mercado que caiu desde fevereiro de 2022 até aos últimos meses. E não vimos o preço a cair nas lojas ou na bica. Isto não é como os combustíveis”, reforça o analista.

Outubro passado marcou uma inversão nessa tendência, com uma subida do preço do café enquanto matéria-prima. Os próximos tempos serão determinantes para mostrar se ela é para manter ou não. Porque, aí sim, o preço que todos pagamos pelo café poderá subir.

A corretora XTB antecipa que, caso a subida se mantenha por bastante tempo, o preço do café poderá subir até 20% nos próximos meses. Os sinais dos primeiros dias de dezembro não apontam nesse sentido: depois do rebuliço inicial, “estamos a assistir a algumas quebras” na negociação do preço do café na Intercontinental Exchange.

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Em Portugal, esse efeito far-se-ia sentir também. Porque, embora sejamos mais consumidores do café robusta, a maior pressão sobre o café arábica faria muitos mercados viraram-se para outras qualidades deste grão.

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Então, onde está o café? Há falta de café?

Se os stocks de café estão em níveis historicamente baixos na Intercontinental Exchange, isso quer dizer que há menos café no mundo? Nem por isso, porque este é apenas um dos polos de negociação desta matéria-prima. Relevante, sim, mas apenas um entre muitos.

Então, estará aí a perguntar-se: então onde está o café que foi retirado dos armazéns cotados na Intercontinental Exchange? O analista explica que muito dele estará nos armazéns dos próprios produtores, para que entre na venda direta, por exemplo, a empresas que processam essa mesma matéria-prima. Ou que está também a ser colocado em armazéns cotados noutros fóruns de negociação.

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Vítor Madeira fala, por isso, em “stocks artificiais” ditados pela alteração na Intercontinental Exchange, mas que têm o poder de ditar as perceções sobre o mercado do café.

Até porque, em termos mundiais, a produção continua a ser mais alta do que o consumo. “Os produtores de café dizem esperar que as colheitas de 2024 sejam melhores, algo que faria cair o preço do café. Inclusive o maior produtor do mundo de café arábica, que é o Brasil”, explica Vítor Madeira.

Contudo, o cenário poderá mudar em 2025: a Organização Internacional do Café já avisou que a União Europeia poderá enfrentar falta de café nesse ano, devido à falta de clareza sobre a implementação das regras sobre desflorestação. No final do ano passado, Bruxelas definiu regras obrigatórias para garantir que os produtos não têm origem em zonas alvo de desflorestação.

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