A presidente do BCE enalteceu a resiliência da banca da zona euro em 2023, mas alertou para riscos que existem este ano, com mais malparado e a exposição das instituições financeiras a setores vulneráveis como o imobiliário comercial.
No relatório anual do Banco Central Europeu (BCE) sobre as atividades de supervisão em 2023, divulgado esta quinta-feira, a presidente da instituição, Christine Lagarde, salientou que os bancos europeus continuaram a "navegar" num ambiente desafiante em 2023, mas continuam a existir diversos desafios.
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“Embora as taxas de juro mais elevadas tenham afetado as margens de juro líquidas dos bancos da zona euro, levando a uma rendibilidade média dos capitais próprios de 10% no terceiro trimestre de 2023, as taxas de depósito e os non-performing loans [crédito malparado] estão a aumentar”, refere.
A presidente do BCE salientou que “os supervisores irão continuar a monitorizar de perto os riscos”, em particular “a exposição dos bancos a setores vulneráveis, como o imobiliário comercial”, e irão abordar “as preocupações sobre a governança dos bancos e os quadros internos de controlo de risco”.
Christine Lagarde realçou que a banca da zona euro enfrentou no ano passado uma economia mais fraca e riscos geopolíticos crescentes, especialmente devido à guerra na Ucrânia e conflito no Médio Oriente, bem como o aperto da política monetária, compensado pelo “trabalho árduo” dos últimos anos para tornar a banca mais resiliente.
“Os bancos mantiveram posições sólidas de capital e liquidez, com o rácio agregado de fundos próprios principais de nível 1 dos bancos supervisionados a situar-se em 15,6%, próximo do seu nível recorde”, exemplificou.
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Segundo Lagarde, este nível permitiu proteger o setor de choques externos e que “os bancos transmitissem sem problemas o aperto da política do BCE à economia”.
A responsável do BCE defendeu ainda que “a resiliência e a adaptabilidade serão cruciais para enfrentar os desafios estruturais colocados pelas alterações climáticas e pela digitalização”, destacando que, em 2024, “espera-se que os bancos cumpram as expectativas de supervisão do BCE sobre os riscos climáticos e ambientais e integrem esses riscos nas suas estratégias e processos de gestão de riscos”.
“À medida que a utilização da inteligência artificial se torna mais generalizada, os supervisores continuarão a examinar minuciosamente as estratégias de digitalização dos bancos e a sua resiliência aos ataques cibernéticos”, disse.
Banca da zona euro está globalmente bem capitalizadaO Banco Central Europeu (BCE) considera que as instituições financeiras da zona euro demonstraram resiliência no ano passado, estando bem capitalizadas, e com capacidade para resistir a uma recessão económica grave.
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As conclusões constam do relatório anual de supervisão do BCE sobre as atividades de supervisão de 2023, divulgado esta quinta-feira.
“O Processo de Revisão e Avaliação para Supervisão (SREP) de 2023 confirmou que os bancos da zona euro continuaram a demonstrar resiliência, com posições robustas de capital e de liquidez, apesar do ambiente económico incerto”, pode ler-se no relatório.
O BCE considera que os bancos da zona euro “estão globalmente bem capitalizados”, indicando que o rácio agregado de fundos próprios Common Equity Tier 1 (CET1) das instituições significativas (SI) regressou aos máximos históricos registados em 2021, fixando-se em 15,6% no terceiro trimestre de 2023, enquanto atingiu 17,7% para as instituições menos significativas (ILS).
De acordo com os dados divulgados, os rácios de alavancagem agregados também melhoraram, atingindo 5,6% (mais 0,5 pontos percentuais) para as instituições significativas e 9,3% (mais 0,7 pontos percentuais) para as instituições menos significativas.
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O BCE recorda ainda que os resultados do teste de esforço de 2023 mostraram que o setor bancário da área zona euro “poderia resistir a uma grave recessão económica”.
No cenário adverso citado pelo relatório, o rácio CET1 cairia, em média, 4,8 pontos percentuais, para 10,4%, no final de 2025.
“A melhoria acentuada na qualidade dos ativos e na rentabilidade dos bancos em comparação com os exercícios anteriores, juntamente com a significativa acumulação de capital ao longo da última década, ajudou os bancos a resistir à elevada severidade do cenário adverso”, refere.
Ainda assim, assinala que os testes de esforço também identificaram "potenciais vulnerabilidades", apelando para a monitorização contínua dos riscos.
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