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Eu não saio (O Godinho é mau!)

Rui Santos escreve sobre o arranque da temporada futebolística: a primeira jornada da Liga (com as surpresas das derrotas do Benfica e Sc Braga) e ainda sobre a Supertaça e as suas incidências

O campeonato começou com as duas surpresas das derrotas do Benfica e do SC Braga perante o Boavista e o Famalicão, e daí ser merecedor, em primeiro lugar, o elogio às equipas não favoritas pelo seu desempenho.

A derrota do Benfica no Bessa teve muito de Petit e do Boavista pelo incómodo que geraram no jogo do campeão nacional, mas também teve muito de Musa e da sua imprudência no lance da expulsão.

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Uma expulsão que levou Schmidt a ter de costurar soluções no sentido de conseguir proteger a equipa, mas foi nesse ambiente de teórica protecção, já sem Rafa e Di Maria em campo, que o Boavista conseguiu traduzir no resultado a superioridade numérica de que beneficiou sensivelmente a partir do minuto 50.

Aa atenções estavam muito centradas no Benfica e naquilo que conseguiria fazer depois de ter vencido o FC Porto, mas a verdade é que foi o Boavista a ‘virar o jogo’, com o ‘auxílio’ daquela entrada imprudente de Musa.

Atenções que se estendiam ao FC Porto, ferido no jogo em Aveiro com o Benfica, depois de uma primeira parte muito boa e um segundo tempo sem chama nem recursos.

Em Moreira de Cónegos, ao contrário do que havia acontecido na Supertaça, as mexidas operadas na equipa melhoraram o rendimento da equipa portista, mas a exibição na primeira parte foi muito pobre e, no global, tirando a relação operativa entre Otávio e Pepê, os azuis-e-brancos mostraram défices preocupantes de criatividade e até de qualidade.

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Mas o futebol é assim: O FC Porto não teve um desempenho prometedor e ganhou; O Benfica falhou na transição defensiva mas teve momentos de fulgor — e perdeu.

A época desportiva começou, de resto, com o Benfica a conquistar a Supertaça e com mais ‘casos’ de natureza disciplinar protagonizados por Pepe e Sérgio Conceição, na parte final do jogo em Aveiro.

É agora público o conteúdo do relatório do árbitro Luís Godinho, que justifica o cartão vermelho exibido ao treinador do FC Porto através dos insultos que este lhe dirigiu.

As imagens da transmissão não restam dúvidas sobre o comportamento antidesportivo de Conceição e também é factual que o treinador portista levou mais de 4 minutos a abandonar a área técnica, começando por se recusar a sair, a colocar em causa a autoridade da equipa de arbitragem.

O relatório não deixa margem para dúvidas: “para além de não acatar a ordem de expulsão, o mesmo [Conceição] continuou proferindo palavras insultuosas e ofensivas para o árbitro, gritando: “vai para o car@#&o… és um artista… tendencioso… […], és fraco, fraco, fraco, muito fraco”.

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Para agravar a situação, o relatório assinala que “após o término do jogo e da respectiva cerimónia de entrega de prémios, quando a equipa de arbitragem se dirigia para o seu balneário, o árbitro foi interpelado nas escadas de acesso pelo treinador [do FC Porto]”, que “reiterou as palavras insultuosas” anteriormente dirigidas a Luís Godinho, acrescentando:”[…] já tens uma história contra nós… és uma vergonha”.

Fechada a veriificação de que o relatório do árbitro da Supertaça não suaviza e até agrava tudo aquilo que já fora mostrado pela transmissão televisiva, vamos à cronologia dos factos para não restarem quaisquer dúvidas sobre o tema:

  • Durante o jogo foram exibidos 12 cartões amarelos e 2 vermelhos.
  • 7 amarelos para jogadores do Benfica e 5 para o FC Porto.
  • Na gestão disciplinar — e aqui trata-se apenas da minha visão — Luís Godinho utilizou um critério apertado e, na esmagadora maioria das vezes, foi coerente.
  • Observação principal: a amostragem do primeiro ‘amarelo’ (a Ristic) não pareceu indiscutivelmente justificada e ela acabou por acelerar a exibição de todos os outros cartões, numa tentativa de Godinho em manter a coerência. A falta existiu mas não justificava a ação disciplinar.
  • As expulsões de Pepe e Sérgio Conceição não deixaram quaisquer dúvidas sobre o devido merecimento.
  • Tecnicamente, a esmagadora maioria das decisões de Luís Godinho foram acertadas, entre as quais se sublinha — com a ajuda do VAR, João Pinheiro - a anulação da jogada que daria o 2-1 para o FC Porto, aos 90 minutos + 3, por Galeno, se Gonçalo Borges não tivesse dominado a bola com o braço direito, tornando-a indiscutivelmente irregular.
  • Queixa-se o FC Porto, em nota oficial, do “show do costume” de Luís Godinho, sublinhando que “com o árbitro de Évora a apitar, é praticamente impossível o FC Porto acabar um jogo com toda a gente em campo. Há coisas que nunca vão mudar. A João Neves, por exemplo, foi poupado o segundo cartão amarelo por mais do que uma vez”.
  • No que diz respeito ao lance a envolver João Neves (com Namaso) trata-se de uma falta cometida pelo jovem médio do Benfica, ainda no meio-campo dos ‘encarnados’, após uma perda de bola de Di Maria, que Taremi começou por ajudar a recuperar para Otávio lançar Namaso ainda no meio-campo dos ‘encarnados’. Tratou-se de uma falta normal e sem fundamentação para ser inscrita no âmbito de um “ataque prometedor”.
  • Já o lance aos 81 minutos, no qual Pepe atingiu Rafa, por trás, com uma joelhada, não foi devidamente sancionado, pela negligência da acção, com cartão amarelo, que seria o segundo para o ‘capitão’ dos azuis-e-brancos.
  • Pepe seria expulso dez minutos depois, ao atingir com uma (outra) joelhada o checo Juracek. Godinho começou por deixar passar a infracção, mas o VAR João Pinheiro recomendou o visionamento no monitor e Luís Godinho optou, então, e bem, por expulsar Pepe, com este a tirar a camisola e a exibi-la aos adeptos do Benfica.
  • Aos 90+6’13’’, na sequência de uma falta de Di Maria sobre Otávio, ocorrida junto à área técnica do FC Porto, a merecer reacção enérgica de Sérgio Conceição (o relatório também aponta insultos para o árbitro), Luís Godinho exibiu o cartão vermelho ao treinador portista.
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    Em síntese: o VAR, João Pinheiro, evitou dois erros que seriam graves: a não expulsão de Pepe e a validação do golo do FC Porto.

    Nada justifica a repetição de um filme antigo: o descontrolo emocional de Sérgio Conceição, agravado pelo facto de não ter acatado, numa primeira reacção, a decisão do árbitro em expulsá-lo.

    Sobre  a expulsão, acresce sublinhar duas coisas:

  • Só foi permitida a Sérgio Conceição a orientação da equipa do FC Porto a partir do banco na Supertaça, porque o TAD aceitou a providência cautelar que permitiu congelar a decisão do CD da FPF em suspender o técnico portista por 30 dias, na sequência do ocorrido no FC Porto-Casa Pia da época passada, o que desde logo deveria merecer maior contenção para não se agravar os efeitos de uma folha disciplinar carregada de reincidências antidesportivas.
  • Antes do começo da presente época, os clubes foram informados de que haveria “tolerância zero” para manifestações de cariz antidesportivo a partir do banco de suplentes, com a maior responsabilidade a incidir sobre os treinadores principais, pelo que, também neste caso, os cuidados deveriam ser redobrados.
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    Sérgio Conceição subestimou este conjunto de ‘alarmes’, e isso não é bom nem para ele, nem para o FC Porto, nem para o futebol português, que precisa de não consentir determinados comportamentos dos protagonistas para que a Liga portuguesa possa começar a ser levada a sério no exterior.

    Eu não saio daqui.

    Não sair daqui, isto é, deste registo provocatório tem duas razões:

  •  A SAD portista, depois de ter colocado o FC Porto em modo de sufoco financeiro, atribuiu à figura do treinador, deste treinador com características especiais, um poder inusitado. A SAD não tem forma, por isso, de exercer uma autoridade indiscutível em função dos excessos (indiscutíveis) do seu assalariado. Está refém dele e, por isso, a única escapatória tem sido apoiá-lo em público: às vezes, através do silêncio; outras vezes, através de apoio oficial e expresso, quase sempre apelando à narrativa da vitimização.
  • O ordenamento jurídico-desportivo não é suficientemente dissuasor de comportamentos antidesportivos. As multinhas, as providências cautelares, o TAD a fazer de tubarão perante o carapau (ou a sardinha) do Conselho de Disciplina e todas as manobras dilatórias concorrem para que esse ordenamento (definido pelos clubes) não seja levado a sério.
  • Eu não saio daqui. Não saio. Não saio. Não saio. Porque o Godinho é mau!

    É o que temos e parece que todos convivem bem com isso.

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