Havia 40 senhas à frente deles no dia do casamento. Isso não os fez desistir de uma cerimónia improvisada. Catarina e Pedro pareciam ter desistido do amor. Até que o amor lhes mostrou que não tinha desistido deles
Dois relacionamentos e dois filhos depois, Catarina Beato voltou a acreditar no amor. Em menos de dois meses estava casada. “Foi depressa, mas não foi com pressa”, escreve numa publicação no Instagram.
Catarina Beato e Pedro de Góis até tinham trabalhado no mesmo sítio. Ele estava lá há 18 anos, ela tinha acabado de começar. Nunca se cruzaram naquela altura.
Com 39 anos e um filho, também Pedro queria reencontrar o amor. Foi para contrariar o aborrecimento no trabalho que deslizou para a direita no perfil de Catarina numa aplicação de encontros. Deslizar para a direita significa ter interesse. E bastou uma fotografia para o despertar.
“Nunca íamos dar 'match'”, lembra Catarina à CNN Portugal, explicando que, na altura, utilizava um filtro de idade para os homens que a aplicação lhe sugeria. Se fosse à custa da aplicação, talvez nunca se tivessem conhecido. Contudo, um colega de Pedro, ao espreitar para o ecrã, reconheceu a mulher que ali estava. "Até somos amigos no Facebook", disse-lhe.
Sem tempo a perder, Pedro pediu Catarina em amizade naquela mesma rede social. E, para se apresentar, escreveu: “Nunca nos cruzámos”.
Catarina conta que estava a passear pelo bairro do Príncipe Real, no centro de Lisboa, quando recebeu uma notificação no telemóvel. Achou estranha a mensagem. Todavia, depois de percorrer o perfil de Pedro, apercebeu-se de que trabalhavam na mesma empresa.
“Ele era tão giro que aceitei o pedido de amizade”, diz, sorridente. Não hesitou em responder-lhe: “Só vou uma vez por semana”. A vida seguiu, sem expectativas. Até que chegou a resposta: “Não seja por isso, que eu mudo de horário”.
A primeira coisa que Catarina pensou foi isto: “que engate manhoso”. Ainda assim, como Pedro era “tão giro”, isso não a impediu de continuar a alimentar a conversa. Os temas foram-se tornando mais interessantes e pessoais. O engate, que era "manhoso", passou a "fixe".
Catarina nunca tinha pensado em aderir a aplicações de encontros - ou até mesmo sobre voltar a sair. Foi o filho mais velho, na altura com 14 anos, quem lhe dava forças para voltar a encontrar felicidade a dois. “Quando o pai do meu segundo filho nos deixou, entrei em celibato, fechei-me para o mundo”, recorda.
Pedro veio contrariar todas as perspectivas sobre o amor. “Com ele, era tudo tão natural”.
O primeiro encontro
Um dia, entre mensagens, Catarina desafiou Pedro: vem cá a casa. “Trabalhávamos no mesmo sítio, conhecíamos as mesmas pessoas”, dizia para si mesma.
Do outro lado da porta, Pedro surpreendeu-se com o filho mais velho de Catarina. Houve um breve silêncio e um "forte olhar crítico". "Deve ser o oitavo ou décimo Pedro que entra cá em casa", atirou.
Pedro ficou, momentaneamente, sem resposta. Depois, "encheu o peito" e reagiu: "E a tua mãe deve ser a oitava Catarina". O filho sorriu e foi à vida dele. Não sem antes deixar a avaliação: "Já ganhaste uns pontos".
Catarina e Pedro sentaram-se no sofá. Não sozinhos. No meio deles estava o outro filho dela. O tempo passou a correr. "Estava zero nervosa". E a imagem refletia isso: desgrenhada, descalça, de calças de ganga, camisa, sem banho tomado.
A única coisa que a deixou de pé atrás foi o facto de Pedro não a ter beijado. Catarina estranhou, mas o que não sabia é que tudo o que ele queria era beijá-la. Mas uma criança de dois anos no meio não faciliava nada a tarefa.
"Já me posso apaixonar por ti"
Os dias foram passando, os programas foram surgindo com naturalidade. Pedro passou no teste das amigas, quando apareceu, mesmo sem gostar de caracóis, num almoço, com o filho dele pela mão.
Quando Pedro conseguiu apanhar Catarina sozinha na cozinha, por dois segundos, não perdeu tempo. Encostou-a à parede e beijou-a. Se havia dúvidas sobre a orientação sexual de Pedro, ali caíram todas, recorda ela.
Ainda assim, nos dias que se seguiram, Catarina deu por si a sentir-se angustiada. “Era tudo demasiado. Não me apetecia apaixonar-me em vão”. Mas o desejo - e os corpos - acabou por falar mais alto. Ao sair da casa de Pedro, ele ficou à janela.
Cá de baixo, ela gritou-lhe: “Já me posso apaixonar por ti”. Depois foi tudo muito rápido: num mês estavam casados.
“Lembro-me que estava com uma amiga num centro comercial quando o Pedro me ligou a perguntar se tinha o Cartão de Cidadão comigo”. Sem perceber o motivo da pergunta, esperou que ele a fosse buscar. Quando deu por si, estavam à porta do Instituto de Registos e Notariado de Lisboa.
“Nem queria acreditar. Eu tinha 35 anos e dois filhos. O Pedro tinha 39 e um filho. Havia muita bagagem emocional”.
Ambos diziam que, desta vez, era vai ou racha. Ou era para casar ou não era. Havia 40 senhas de espera até chegar à vez deles, mas isso não os fez mudar de ideias. “Estavamos muito comprometidos um com o outro”. O que Catarina não sabia era que o atual marido já tinha pedido a mão dela à mãe.
O casamento foi simples, pela hora de almoço, no meio de um dia de trabalho. “Era a hora mais barata”, ri Catarina, contando que alguns amigos os surpreenderam, marcando presença na cerimónia. “Os nossos amigos e pais só se conheceram nesse dia”.
Não foram logo viver juntos. Tinham ambos de se organizar. Só três meses depois é que procuraram uma casa onde coubessem os respectivos filhos. Sem esquecer, claro, os cães de Pedro.
Casados há 9 anos, Catarina e Pedro têm agora duas filhas juntos, Maria Luiza e Mariana.
Atualmente, Catarina é mentora de relações. O melhor conselho que deixa a outros casais é que nunca desistam da intimidade e que dêem sempre prioridade ao espaço pessoal um do outro.
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