A neozelandesa Maire Clifford estava a olhar pela janela do comboio quando viajava de Londres para Edimburgo, na Escócia.
O comboio serpenteava rumo a norte, a sair da estação de King’s Cross, com as paisagens urbanas a transformarem-se gradualmente em extensos campos verdes.
Corria o ano de 2000. Maire estava na casa dos 20 e vivia no Reino Unido há alguns anos. Namorava, na altura, com um barman, que a acompanhava na viagem.
Olhar pela janela só era interessante até certo ponto e o seu namorado estava profundamente adormecido no banco do lado. A viagem ia durar seis horas.
"Pensei, ‘Ok, isto vai ser mesmo aborrecido’", recorda Maire à CNN. "Então fui até à carruagem dos fumadores".
No início dos anos 2000, o Reino Unido ainda não tinha introduzido a proibição de fumar nos transportes públicos. Em determinadas zonas do comboio, os passageiros podiam acender um cigarro.
Naquela altura, Maire era fumadora social. Entrou na área de fumadores e encontrou-a quase vazia, com exceção de um jovem com uma grande mochila.
Pediu-lhe um isqueiro e ele emprestou-lhe, enquanto sorria.
"E depois, de alguma forma, sentei-me, e começámos a conversar", lembra Maire. "E só me lembro de ficar surpreendida com a facilidade, como se houvesse uma verdadeira sensação de familiaridade entre nós".
O homem do isqueiro
O homem do isqueiro era Andy Bain, um jovem de 27 anos, com origem escocesa que tinha crescido em Inglaterra. Na época vivia em Edimburgo, mas tinha acabado de regressar de uma temporada a viajar pela Tanzânia e Zanzibar.
"Estava a regressar a casa, a Edimburgo, depois de uma temporada fora, no comboio onde nos conhecemos pela primeira vez", conta Andy à CNN.
O tempo longe do Reino Unido deu-lhe espaço para refletir e repensar a sua abordagem à vida, aos relacionamentos, ao trabalho e às viagens.
"Não tinha tido uma boa relação antes da Maire, e, na verdade, acho que nunca tive boas relações", reflete. "Não estou a culpar ninguém. Simplesmente, há pessoas que não combinam. Mas tomei a decisão consciente de que não ia procurar nenhuma relação. Não ia, basicamente, falar com ninguém nem expor-me de forma alguma. Só precisava de voltar a pôr a cabeça no lugar".
Depois, acampado na cratera de Ngorongoro, na Tanzânia, Andy diz ter sido profundamente tocado pela beleza incrível da paisagem e repensou essa abordagem.
"É uma reserva natural de safári lindíssima e estávamos a acampar mesmo na borda da cratera", recorda. "Levantei-me de manhã e havia uma manada de zebras a beber da cascata do acampamento… Fiquei ali sentado e pensei, ‘Bem, tudo o que fizeste na vida, ou tudo o que te fizeram - bom ou mau - trouxe-te até aqui, a este momento incrível, à coisa mais bonita que alguma vez viste’. E então pensei, ‘Acho que está na hora de voltar a abrir-me ao mundo e ver o que acontece’".
Andy apanhou um voo de regresso a Londres, perdeu por acaso o comboio que tinha reservado para Edimburgo e acabou, por coincidência, no mesmo comboio que Maire.
Andy nunca esquecerá o momento em que Maire entrou pela porta da carruagem.
"Estava sentado na carruagem de fumadores, o comboio arrancou, e de repente a porta desliza e entra esta pessoa, olha para mim e diz: ‘Tens isqueiro?’", lembra Andy, a sorrir.
"Portanto, não só foi logo depois de eu ter dito a mim mesmo, ‘Vou voltar a abrir-me ao mundo’. Mas ainda por cima perdi o comboio em que devia ter ido. E a primeira pessoa que conheci depois dessa decisão, graças a esse feliz acaso, foi a Maire".
Hoje, olhando para trás, Andy diz que a sucessão de acontecimentos inesperados e transformadores o fez "acreditar no destino".
Mas, naquele momento, naquele dia no comboio, no ano 2000, nem Andy nem Maire faziam ideia da importância daquele encontro.
Para começar, assim que se conheceram, Maire contou a Andy que viajava com o namorado. Ambos encararam aquela ligação inesperada durante a viagem como o início de uma possível amizade, e não como algo com potencial romântico.
Ainda assim, Maire ficou surpreendida com o que sentiu: “a ligação foi inacreditável” com Andy. Eram desconhecidos, mas abriram-se um ao outro rapidamente.
"Ele contou-me, claro, a história que acabou de partilhar contigo sobre a Cratera de Ngorongoro", explica Maire. "E isso foi algo que também me tocou… Acho que é preciso ser um certo tipo de pessoa para conseguir reconhecer esses momentos especiais quando eles acontecem".
Por sua vez, Maire contou histórias da infância na Nova Zelândia, da mudança para o Reino Unido e das suas viagens pela Europa.
Sentiu, diz ela, que "ambos tínhamos essa forma de estar na vida, de realmente notar os momentos especiais e de ficar impressionados com a beleza do mundo".
Passado algum tempo, Maire lembrou-se do namorado adormecido na outra carruagem. Achou que devia voltar para ver como estava. Mas encontrou-o exatamente onde o tinha deixado, ainda a dormir profundamente.
"Ele ainda estava a dormir. Então voltei para a carruagem do Andy, e ficámos simplesmente a conversar e a conversar durante o resto da viagem de seis ou sete horas", conta Maire. "Lembro-me de ele me dizer: ‘És mesmo uma senhora porreira’".
Ela nunca tinha ouvido aquela expressão antes - pareceu-lhe algo muito britânico, e fê-la rir.
Andy era querido, pensou Maire. Mas não havia nada de obviamente romântico entre eles. Era apenas uma ligação, uma potencial amizade, forjada num comboio a caminho da Escócia. Ambos achavam provável que nunca mais se voltassem a ver. No entanto, aproveitaram o momento.
"Foi uma conversa mesmo fácil", afirma Andy. "Toda a nossa energia encaixava… Não me lembro de pensar, ‘Ela é mesmo atraente’, ou algo do género. Foi mais ‘Ela é mesmo boa pessoa'. E soube tão bem ter uma conversa tão fácil com alguém. Sem esforço. Foi tudo tão simples".
"Não foi tipo, ‘Ah, ele é atraente'", concorda Maire. "Foi só, ‘Ah, ele é boa pessoa'".
À medida que o comboio continuava pela linha costeira de East Coast, contornando a costa em North Berwick antes de oferecer aos viajantes a primeira vista de Arthur’s Seat, o antigo vulcão extinto de Edimburgo, Maire escreveu o seu endereço de e-mail na embalagem de comprimidos contra a malária que Andy trazia consigo.
"Vamos manter o contacto", disse, antes de se despedir.
Manter o contacto
Quando Maire saiu da carruagem dos fumadores, Andy ouviu a reação de dois passageiros que estavam atrás dele.
"Eram dois rapazes mais novos, sentados atrás de mim - e um virou-se para o outro e disse: ‘I-n-a-c-r-e-d-i-t-á-v-e-l’", recorda Andy, entre risos. "Porque, para eles, eu estava ali sentado, e de repente aparece esta rapariga bonita, senta-se ao meu lado, damo-nos bem, trocamos contactos. Quer dizer, isso simplesmente não acontece. Só me lembro de achar aquilo mesmo engraçado".
O comboio chegou à estação de Edinburgh Waverley e Andy pôs a mochila às costas e seguiu caminho para o seu apartamento. Entretanto, Maire saiu do comboio com o namorado, pronta para um fim de semana de turismo na Escócia.
"Quando saí do comboio… e durante todo aquele fim de semana em Edimburgo, mesmo estando com outra pessoa, não parava de pensar: ‘Espero voltar a cruzar-me com o Andy’", lembra Maire.
Mas não se cruzou. E, uma semana depois, Maire decidiu enviar um e-mail amigável a Andy: "Olá, homem viajante".
"Depois começámos a trocar e-mails para lá e para cá", explica.
Umas semanas mais tarde, Maire contou à sua melhor amiga, Trudy, tudo sobre o novo amigo. Descreveu como se tinham conhecido no comboio, feito companhia um ao outro durante a viagem, e trocado contactos.
"Lembro-me da Trudy dizer: ‘Acho que há qualquer coisa entre vocês’. E eu respondi: ‘Oh, não sejas ridícula. Ele é tão simpático, é só um bom amigo’".
Mas os e-mails não pararam. Pelo contrário, tornaram-se cada vez mais frequentes à medida que as semanas se transformaram em meses.
"Começámos a comunicar regularmente, e isso evoluiu de e-mails para chamadas telefónicas", recorda Maire.
Nessa altura, o namorado barman de Maire já fazia parte do passado. Mas, mesmo assim, ela ainda não via Andy como um potencial interesse romântico.
"Depois, no meu aniversário, ele enviou-me um livro: ‘Onde Moram as Coisas Selvagens'", recorda Maire. "Acontece que, sem ele saber, era o meu livro favorito de infância. E quando o desembrulhei aquilo tocou-me profundamente. Senti-me mesmo vista, por ele ter escolhido um presente tão incrível para mim".
Andy não fazia a menor ideia do significado que o livro tinha para Maire. A inspiração surgiu após uma troca de e-mails em que Andy contou estar stressado com o trabalho e Maire lhe deu um conselho.
"Ela disse: ‘Imagina que estamos num barco, a flutuar no mar, tudo muito relaxante’", conta Andy. "E então, na minha cabeça, o que visualizei foi o barco daquele livro’".
A paixão partilhada pelo livro de Maurice Sendak parecia mais um sinal da ligação profunda entre ambos. Pouco depois, Andy ligou a Maire para dizer que iria a Londres por motivos de trabalho.
"Combinámos sair nessa noite em Shoreditch e pôr a conversa em dia", recorda Maire. "Saímos e acabámos por beber bastante".
Maire passou a noite no hotel de Andy. Mas apenas como amiga. Não aconteceu nada de romântico entre os dois, garante.
"Continuávamos só bons amigos", afirma Andy. "Quando disse, ‘Podes ficar no meu quarto de hotel’, foi mesmo só como amiga".
"Costumo brincar e dizer que foi provavelmente porque tinha um pedaço de alface colado à cara, depois de adormecer em cima do kebab", diz Maire, entre risos. "Mas senti mesmo, naquele momento, que ele mostrou ser um homem íntegro, um homem com quem podia sentir-me segura, e que ele era exatamente quem eu pensava que era".
No dia seguinte, Andy enfrentou a formação de trabalho com uma forte ressaca. Mas, no comboio de regresso a Edimburgo, o telemóvel vibrou com uma mensagem de Maire.
"Lembro-me de receber uma mensagem dela a dizer: ‘Cheguei a casa com um sorriso enorme na cara, e é tudo por tua causa, Andy Bain. Foi mesmo uma noite fantástica’", recorda.
Andy lembra-se de sorrir para o seu Nokia 8110. Depois, deu por si a recordar as conversas da noite anterior.
"Falámos sobre coisas que realmente importavam para nós, como pessoas", explica. "Não foi conversa de circunstância… E depois, de repente, a Maire estava a falar de vir a Edimburgo para o Hogmanay (a Passagem de Ano escocesa) com um grupo de amigos".
Um Hogmanay para recordar
Andy convidou de imediato Maire e os amigos para ficarem em sua casa, em Edimburgo.
Mas enquanto os amigos de Maire celebravam o novo ano nos bares e pubs da cidade, Andy e Maire passaram o tempo todo no apartamento de Andy, completamente absorvidos em longas conversas.
"Naquela primeira noite, sentámo-nos no sofá e falámos durante oito horas", recorda Maire. "A meio da conversa, ele pergunta-me: ‘Acreditas em almas gémeas?... Porque eu acho que tu és a minha’".
Na altura, ainda tudo era dito num tom de amizade. No entanto, passaram os três dias seguintes juntos, sempre a conversar.
"E depois, ao terceiro dia, estávamos ali sentados a conversar, e ele estende a mão, põe-na no meu joelho e diz: ‘Eu gosto mesmo de ti’", conta Maire.
"E eu digo: ‘Eu também gosto mesmo de ti’. E ele diz: ‘Não, eu estou apaixonado por ti’".
Maire olhou para Andy, em choque, durante uns segundos. Mas, no fundo, sabia que ele estava a dizer a verdade. E que ela sentia o mesmo.
"Nem sequer nos tínhamos beijado", explica.
"Era simplesmente que os nossos valores eram tão semelhantes", afirma Andy. "As nossas experiências também… Foi por isso que falei em almas gémeas. Porque era diferente de qualquer outra amizade que alguma vez tive. De repente percebi: ‘Eu estou apaixonado por ti’".
Andy disse estas palavras em voz alta, sem pensar. Sabia que eram verdade. Sentia que eram certas.
"Não foi uma jogada, nem uma estratégia, nem algo planeado", explica. "Foi simplesmente uma necessidade física de o dizer".
No entanto, algo mudou entre Maire e Andy naquele momento.
"Sabia que, apesar do medo de estragar a nossa ligação incrível, tinha de arriscar", lembra Maire.
"Beijámo-nos pela primeira vez", recorda Andy. "E não foi um desastre, pelo contrário. Tudo correu bem. Percebemos que éramos compatíveis como namorados, além de amigos".
Maire regressou a Londres, mas voltou uma semana depois para surpreender Andy no seu aniversário.
"Ela ligou a imensos amigos meus e organizaram-me uma festa improvisada", conta Andy. "Foi mesmo adorável, das coisas mais bonitas que alguém já fez por mim".
Um anel com significado
A partir daí, Maire e Andy começaram a namorar à distância, viajando entre Londres e Edimburgo, na mesma linha de comboio onde se tinham conhecido.
Ambos lidavam com a distância de maneiras diferentes.
"Assim que nos separávamos, eu ficava tipo, ‘Tudo bem, tranquilo’", conta Andy. "Mas a Maire ficava cheia de saudades. Depois, com o passar do tempo, era eu que começava a sentir a falta dela… e ela já estava mais tranquila, não é que deixasse de gostar, mas não sentia tanto", afirma, entre risos.
"Havia ali um certo desencontro", conta Andy, "mas depois víamo-nos outra vez e era tudo incrível".
Após vários meses de despedidas e viagens de comboio pelo país fora, Andy conseguiu ser transferido para o escritório da sua empresa em Londres.
Começar a viver juntos "foi mesmo fácil, foi muito natural", afirma Andy.
E cerca de seis semanas depois de se mudar para o sul, Andy percebeu algo.
"De repente pensei: ‘Esta rapariga é incrível. É tão bonita, tão especial, tão incrível. Devia casar com ela’".
A ideia apanhou Andy de surpresa. Os pais estavam divorciados. Nunca tinha pensado muito em casamento. Nem sabia bem se acreditava no conceito.
Mas depois, lembrou-se dos avós paternos, que tinham vivido apaixonados durante décadas.
"Quando nasci, o meu avô comprou um anel à minha avó, por eu ser o primeiro neto - um anel de ouro que ela usava sempre. E quando ela faleceu, esse anel passou para mim, e eu usava-o pendurado num fio ao pescoço", recorda Andy.
"E quando me surgiu esta vontade de pedir a Maire em casamento, estávamos na estação de Paddington... Tirei o anel do pescoço, ajoelhei-me e disse: ‘Queres casar comigo?’".
Maire, claro, disse que sim. O casal abraçou-se no meio da estação movimentada.
"Depois apanhámos o comboio e estávamos todos fofinhos e risonhos, noivos e felizes", lembra Maire. "E tive uma sensação, de forma incrivelmente intensa, que estavam duas pessoas de pé mesmo ao nosso lado".
Maire olhou para cima, mas não estava lá ninguém.
Ela pensou nos avós de Andy - os que lhe tinham deixado o anel. Perguntou-se se a sensação que tinha sentido era o casal mais velho a observá-los, a acompanhá-los naquele momento.
"Disse ao Andy: ‘Sinto que isto é para ti. Sinto que eles querem que saibas que estão aqui, que isto é por tua causa’".
Mais tarde, naquela noite, Maire teve um sonho em que os avós de Andy lhe falavam diretamente, dizendo: "Bem-vinda à família."
"Acordei o Andy e disse-lhe: ‘Enganei-me. Aquilo não era para ti. Era para mim'".
Foi um momento carregado de significado. E ainda mais, quando, mais tarde, Maire e Andy contaram o sonho à mãe de Andy.
"A minha mãe ficou branca como a cal", recorda Andy. "E nós dissemos: ‘O quê? O que foi?’. E ela explicou que, quando o meu pai a levou a Edimburgo para conhecer a família - e o meu avô era aquele tipo de escocês sério e reservado - ele levantou-se da cadeira e disse-lhe: ‘Bem-vinda à família' - essas mesmas palavras".
"Sei que nem toda a gente acredita nesse tipo de coisas", afirma Maire. "Mas para nós, foi um momento muito especial… E o anel tem tudo a ver com celebrar a existência do Andy. Por isso, é mesmo uma honra usá-lo e cuidar dele".
Maire e Andy casaram-se alguns anos depois, em 2003, na Nova Zelândia, terra natal de Maire.
"A Maire é uma organizadora de mão cheia", declara Andy. "Já foi coordenadora de eventos e planeadora e tudo isso. Não posso reclamar qualquer crédito. A Maire tomou as rédeas e organizou tudo: o casamento inteiro, nos Marlborough Sounds da Nova Zelândia".
"Queria que fosse um retiro para todos. Queria que fosse especial e íntimo. Por isso, só convidámos 45 pessoas", lembra Maire. "Tivemos família a viajar de toda a Nova Zelândia para estar presente, e também família e amigos vindos do Reino Unido".
O grupo de convidados apanhou o ferry em Wellington rumo aos Marlborough Sounds. Reuniram-se num edifício do século XIX chamado Furneaux Lodge para celebrar a sua união.
O casal escreveu os seus próprios votos. Maire caminhou até ao altar ao som de uma música do filme "A Vida é Bela" - um filme italiano vencedor de um Óscar que viram juntos no cinema pouco depois de começarem a namorar, e que, como Maire diz, “nos tocou profundamente e falou muito connosco".
Foi o dia perfeito. Maire e Andy, ao escreverem os votos, recordaram toda a relação e regressaram àquele momento em Edimburgo em que passaram de amigos a amantes. Maire adoptou o sobrenome de Andy, tornando-se Maire Bain.
Apoio, amor e amizade
Hoje, mais de duas décadas após o casamento, Andy e Maire vivem juntos na Nova Zelândia, com duas filhas adolescentes.
Dizem ter adorado tornar-se pais e educar os filhos em conjunto.
"Nós priorizámos realmente a criação das nossas filhas", considera Maire. "Uma das nossas maiores ligações são as nossas infâncias e muitos dos valores vêm do que experimentámos, ou não, quando éramos crianças. Por isso, abordámos a parentalidade com uma ideia muito clara do tipo de ambiente que queríamos criar para os nossos filhos".
Mas agora que as filhas estão a crescer, o casal tem aproveitado para passar tempo a sós novamente.
Recentemente, foram juntos para as belas Ilhas Whitsunday, em Queensland, Austrália.
"Estávamos num momento de vida em que tínhamos muitas coisas para celebrar", explica Maire. "Estávamos prestes a comemorar o nosso 22º aniversário de casamento, o 25º ano desde que nos conhecemos e o décimo aniversário desde que eu estava sóbria. Um monte de coisas boas para comemorar".
Ambos acreditam muito em sinais, e, como Andy explica, "havia tantos pequenos detalhes que nos faziam lembrar do nosso casamento, ou dos nossos 25 anos juntos, nessa viagem".
Na última noite, Maire e Andy jantaram a sós no hotel.
"E então, Andy não sabia, mas eu tinha escondido o meu vestido de noiva na mala", conta Maire.
A neozelandesa teve a ideia de surpreender Andy com uma lembrança do casamento.
"Conversei com os funcionários do resort e disse: ‘Ele vai entrar sozinho. Esperem um minuto e, se puderem, coloquem esta música para tocar. Eu entro nessa altura".
A música escolhida, claro está, foi o tema do filme A Vida é Bela - a mesma que Maire usou para entrar no altar, vinte anos antes.
Quando Andy ouviu os primeiros acordes, não conseguia acreditar.
"A nossa música de casamento estava a tocar, e ela não estava lá para a ouvir. ‘O que é que está a acontecer?’", lembra-se de perguntar.
"E então olhei ao redor pra ver onde é que ela estava, e lá estava ela. De pé, de vestido de noiva e flores na mão. E eu pensei 'esta foi a coisa mais romântica que já me aconteceu’. Foi deslumbrante. Foi absolutamente incrível. E ela estava tão linda como naquele dia. Foi simplesmente maravilhoso", declara Andy.
Enquanto estavam ali sentados, enxugando lágrimas, Andy e Maire relembraram o casamento, a vida que construíram juntos e o encontro no comboio que marcou o início de tudo.
Hoje, Maire e Andy já não fumam, mas Maire diz, entre risos, que, por ter conhecido Andy, é "muito agradecida por ter fumado naquela época".
De modo geral, ao refletir sobre a sua vida com Andy, "gratidão" é a palavra que Maire mais repete.
"E apoio. Eu sinto-me realmente apoiada", reflete. "Aprendemos muito dentro do nosso casamento e também individualmente, e apoiamos o crescimento individual um do outro - e isso vem também da amizade… O nosso amor fortaleceu-se muito ao longo das décadas. É o homem mais maravilhoso que eu já conheci".
Andy partilha da mesma opinião. Maire é "a pessoa mais incrivel" que já conheceu.
"Adoro observá-la em festas e eventos do género. É o tipo de pessoa que ilumina qualquer ambiente", afirma. "Sou simplesmente tão grato por a ter encontrado, porque não consigo imaginar ninguém melhor pra mim. Continua a ser a minha melhor amiga. Ainda temos as melhores conversas juntos. Faz-me rir mais do que qualquer outra pessoa, e a maior alegria da minha vida é quando também a faço rir".
É essa amizade forte que manteve o casal unido durante os altos e baixos da vida, porque, como Andy diz, "como em todos os relacionamentos reais e verdadeiros", houve momentos difíceis nestes 25 anos juntos.
"Durante tudo isso, a nossa amizade sempre esteve ali", declara, "E simplesmente parece que estava tudo meio que destinado a acontecer. Havia tantas coisas que poderiam ter impedido o nosso encontro… Mas era a pessoa certa, no lugar certo, à hora certa… Eu sinto mesmo que o universo tem um plano para cada um de nós, e que aquilo que tem de acontecer, vai acontecer".