Mataram civis que estavam a fazer compras, na fila para a ajuda humanitária ou a caminhar: Amnistia Internacional diz ter provas de crimes de guerra russos

13 jun 2022, 10:01
Kharkiv (Felipe Dana/AP)

Amnistia Internacional acusa a Rússia de crimes de guerra, revelando que tem provas de que as bombas de fragmentação mataram centenas de civis em Kharkiv. BBC encontrou provas semelhantes. "O uso repetido de bombas de fragmentação amplamente proibidas é chocante" 

A Amnistia Internacional acusa a Rússia de cometer crimes de guerra na tentativa de capturar a cidade ucraniana de Kharkiv, no Leste da Ucrânia. Num relatório de 40 páginas, intitulado "Qualquer pessoa pode morrer a qualquer momento - ataques indiscriminados das forças russas em Kharkiv, Ucrânia", a organização diz ter documentado o alegado recurso das forças russas a bombas de fragmentação - armas proibidas por uma resolução das Nações Unidas aprovada em 2008 - e outros meios de ataque indiscriminados para matar civis. 

"Os bombardeamentos repetidos de bairros residenciais em Kharkiv são ataques indiscriminados que mataram e feriram centenas de civis e como tal constituem crimes de guerra", refere o relatório. 

"Isto é verdade tanto para os ataques com recurso a bombas de fragmentação como aqueles que usam outro tipo de mísseis não guiados e bombardeamentos de artilharia, que são indiscriminados quando usados na proximidade de concentrações de civis."

Os investigadores da Amnistia Internacional revelam que documentaram "sete ataques diferentes" em diferentes áreas de Kharkiv onde encontraram vestígios deste tipo de munições.

"As bombas de fragmentação são inerentemente indiscriminadas", sublinha o relatório da Amnistia Internacional, que chama ainda a atenção para o facto de que, muitas vezes, este tipo de munição não explode quando é lançada, tornando-se "minas terrestres que representam uma ameaça para os civis muito depois de serem acionadas".

No total, em cerca de duas semanas, a Amnistia Internacional investigou 41 ataques em Kharkiv, nos quais morreram pelo menos 62 civis e 196 ficaram feridos. Foram encontradas provas de que as bombas de fragmentação mataram pessoas que estavam a fazer compras, na fila para a ajuda humanitária ou simplesmente a caminhar na via pública.

"Estas armas nunca deveriam ser usadas", disse Donatella Rovera, conselheira senior da Amnistia Internacional, à BBC, frisando que são armas que não podem ser direcionadas para um alvo específico e que afetam áreas mais vastas. "Têm um efeito devastador e podem causar muitas mortes e ferimentos de civis", acrescentou a responsável. 

Segundo a organização, foram encontradas provas de que a Rússia usou repetidamente bombas de fragmentação e outras munições que se estilhaçam, mísseis que espalham minas mais pequenas que explodem em intervalos pré-programados.

Civis mortos em casa, no parque ou no cemitério

A BBC visitou cinco bairros residenciais de Kharkiv e também encontrou provas dos efeitos das bombas de fragmentação, nomeadamente marcas distintivas e simétricas, avança a estação britânica.

"Aqueles impactos são de bombas de fragmentação, é uma assinatura clássica", corroborou Mark Hizney, investigador da divisão de armamento da Human Rights Watch, citado pela BBC. 

"As pessoas foram mortas nas suas casas e nas ruas, em parques e cemitérios, quando estavam na fila para a ajuda humanitária ou a comprar comida ou medicamentos", disse Donatella Rovera, citada pela CNN. "O uso repetido de bombas de fragmentação amplamente proibidas é chocante." 

As bombas de fragmentação, descritas de forma simplista, são bombas que carregam dentro outras bombas e que, ao explodirem, espalham-se e fragmentam-se, provocando novas explosões. Muitas vezes, ficam por detonar, caídas por terra, explodindo depois à passagem de civis ou quando são deslocadas por quem desconhece o perigo que representam.

No início de março, a ONU anunciou estar na posse de "informações credíveis" sobre o uso de bombas de fragmentação pelas tropas russas na Ucrânia.  Segundo uma porta-voz da ONU, estas armas proibidas, e que configuram um crime de guerra, foram usadas em zonas residenciais.  

Em abril, o New York Times revelou, por outro lado, ter recolhido provas de que a Ucrânia também usara bombas de fragmentação para recuperar o controlo da localidade de Husarivka, no leste do país, quando esta região estava sob domínio russo. 

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