Disfunção erétil, provas manipuladas e ligações com a Rússia: novos documentos revelam informações inéditas do caso Depp vs Heard

1 ago 2022, 14:03
Julgamento Johnny Depp vs Amber Heard (EPA)

Mais de 6.000 páginas de documentos selados pelo tribunal de Fairfax foram reveladas este fim de semana

O julgamento que opôs Johnny Depp e Amber Heard terminou em junho, num veredicto que condenou ambos por difamação e implicou o pagamento de 15 milhões de dólares a Depp e dois milhões a Heard. Dois meses depois, o caso parece longe de estar encerrado. 

Mais de 6.000 páginas de documentos selados pelo tribunal de Fairfax foram reveladas este fim de semana, com informações que as respetivas equipas de defesa tentaram submeter como provas - mas que acabaram por ser afastadas pela juíza Penney Azcarate antes de chegarem ao júri. 

Os documentos, até agora inéditos ao público, foram analisados pelo site norte-americano The Daily Beast e fornecem contexto adicional a um dos julgamentos mais mediáticos dos últimos anos. 

Disfunção erétil - pormenor relevante ou "preconceito injusto"? 

Numa das acusações mais graves dirigidas ao ex-parceiro, Amber Heard alegou ter sido sexualmente agredida com uma garrafa. O julgamento não incluiu, porém, um detalhe que a equipa da atriz considerou "absolutamente relevante": uma alegada condição de disfunção erétil, que tornaria "mais provável que Depp ficasse zangado ou agitado em encontros" com a parceira. Os advogados de Heard argumentam que "a relevância" desta informação se sobrepunha à possibilidade de "perigo de preconceito injusto" por parte do júri, que seria capaz de "fazer uma avaliação racional do seu peso". A alegada condição de saúde de Johnny Depp acabou, no entanto, por não chegar a julgamento. 

Insinuações, insinuações, insinuações

Quatro provas submetidas pela equipa de Johnny Depp foram desvalorizadas sob uma única alínea, que determina a exclusão de "questões pessoais irrelevantes". A primeira dizia respeito a fotos em que Amber Heard surgia nua, numa aparente tentativa de provar que não possuía hematomas ou marcas de violência física nas datas em questão. As menções a relações anteriores da atriz - e também da irmã, Whitney - foram igualmente afastadas por não serem relevantes ao caso. É ainda mencionado um "breve período" como dançarina exótica, que o ator terá usado para "frívola ou maliciosamente sugerir ou insinuar que [Heard] foi, em tempos, acompanhante". 

Whitney Henriquez, a irmã de Amber Heard, volta a ser mencionada em documentos datados de 3 de fevereiro - meses antes do julgamento iniciado a 11 de abril. A testemunha é confrontada com uma série de questões sobre Logan, um amigo da atriz que morreu num acidente de viação quando ambos eram adolescentes. A equipa de acusação de Depp começa por questionar a natureza desta relação, insinuando depois que a estrela de "Aquaman" estaria no carro no momento do acidente. Interrogam, por fim, se a suspensão da carta de condução nos anos de adolescência estaria relacionada "com o acidente em que Logan morreu". 

Nos documentos agora publicados, lê-se que a suspensão se deveu a "multas por excesso de velocidade" e que a sugestão da intervenção no acidente "é feita apesar de não haver qualquer tipo de evidência para apoiar esta alegação ultrajante".

Mensagens misteriosamente desaparecidas

Múltiplas mensagens de texto previamente apresentadas na batalha judicial contra o tablóide "The Sun" terão desaparecido por "razões desconhecidas". Entres estas inclui-se uma conversa de 2014 entre Heard e Stephen Deuters, o então assistente de Depp, aquando de um alegado episódio de violência a bordo de um avião privado. 

"Se alguém fosse honesto com ele sobre o quão mau realmente foi, ele ficaria chocado", começa Deuters, justificando que o abuso de substâncias terá moldado o discernimento do ator. "Fico triste que ele não tenha uma forma melhor de perceber a gravidade das suas ações de ontem. Infelizmente para mim lembro-me delas com todos os detalhes. Ele ficou horrorizado quando lhe disse que te pontapeou." 

Mais tarde, ainda no contexto deste incidente, o próprio Depp escreveu várias mensagens endereçadas à companheira: "Mais uma vez, encontro-me numa situação de vergonha e arrependimento. Claro que estou arrependido... Não volto a fazê-lo... A minha doença tomou o controlo e agarrou-me... Sinto-me tão triste por te desiludir". Em mensagens subsequentes continuou a desculpar-se pelo seu comportamento e alcunhou-se "lunático" e "selvagem". Não obtendo resposta nas duas horas seguintes, comentou: "Estou a ver que compreensão e perdão não estão na ementa". 

A firma de advogados de Depp conclui que as mensagens podem ter sido "eliminadas" após uma procura exaustiva - e infrutífera - pelas mesmas. Por este motivo, várias mensagens já anteriormente julgadas no tribunal do Reino Unido não foram admitidas no julgamento de Virgínia. 

Milhões de dólares recusados

O quinto filme da saga "Piratas das Caraíbas", em que Johnny Depp encarnou novamente a icónica personagem Jack Sparrow, foi gravado durante o casamento com Amber Heard - a atriz teria, portanto, direito a metade das "dezenas de milhões de dólares" resultantes deste papel.

Heard rejeitou, porém, esta avultada quantia. Os advogados inicialmente "imploraram" que reconsiderasse, mas depois reconheceram que a cliente tinha sido "espantosamente fiel à sua palavra, de que isto não tinha que ver com dinheiro". 

Depp "não alega danos físicos ou mentais"

Apesar da primeira acusação de violência ter partido de Amber Heard, num artigo do The Washington Post em que não nomeou diretamente o agressor, o último julgamento foi palco de acusações mútuas de violência física e psicológica. 

Um dos documentos divulgados este fim de semana consiste num recurso imposto pela equipa de defesa de Depp, que defende que o ator não deve ser sujeito a exames médicos independentes porque "não alega danos físicos ou mentais". É de seguido especificado que Depp "não alega que as ações de [Heard] lhe tinham infligido danos psiquiátricos específicos" ou "sofrimento emocional invulgarmente grave", fatores que exigiriam uma avaliação por parte de um profissional de saúde. 

Estas declarações viriam a ser contrariadas ao longo do julgamento, com sucessivas acusações de violência física, psicológica e emocional imputadas à ex-companheira. 

Provas manipuladas?

Johnny Depp apresentou várias fotografias e gravações de áudio que pretendiam provar os alegados incidentes de violência física e emocional perpetrados pela ex-mulher. Entre estas destaca-se a gravação de voz em que a atriz parece sugerir que ninguém acreditará que Depp, "um homem", seria vítima de violência doméstica. 

Com o intuito de contestar estas provas supostamente incriminatórias, a equipa de Heard recorreu a Julian Ackert - um perito forense da empresa iDiscovery Solutions - para analisar os metadados dos elementos multimédia. Testemunhando em tribunal sob pena de perjúrio, o perito afirmou ter detetado "anomalias que comprometem a autenticidade" das provas, como datas de criação dos ficheiros "desaparecidas" ou "manipuladas". 

"Estes factos podem ser um sinal de manipulação digital", conclui Ackert. Testemunhou, ainda, que as fotos submetidas por Heard eram originais. 

Quanto aos ficheiros de áudio, o protagonista de "Piratas das Caraíbas" terá submetido versões "parciais" com cortes óbvios, "que começavam e acabavam no meio de uma fase". 

A amizade com Marilyn Manson

De acordo com as informações recém-reveladas, a equipa de defesa de Depp esforçou-se por afastar "referências e provas relacionadas" com o polémico cantor, acusado de violência doméstica e sexual por várias mulheres, argumentando que a relação de amizade entre ambos poderia ver o cliente injustamente "condenado por associação". 

Em mensagens divulgadas pelo próprio Depp em julgamentos anteriores, Manson acusa Lindsay Usich, a atual esposa, de replicar o comportamento "sociopático" de Amber Heard. "Ela está a ser como a Amber e a polícia vai aparecer para me impor uma providência cautelar", contextualiza, antes de pedir "asilo" ao amigo. 

Contas falsas e... conexões com a Rússia? 

Johnny Depp saiu vitorioso do processo de difamação mas não só. Embora tenha acumulado admiradores e sucessos de bilheteira ao longo da carreira, a legião de fãs expandiu-se e reanimou-se durante o julgamento - sobretudo nas redes sociais, onde se multiplicaram vídeos e "memes" de apoio ao ator. A admiração quase unânime do mundo virtual terá levado a equipa de Amber Heard a questionar esta tendência, alegando provas de uma "campanha 'bot' russa" relacionada com o então advogado Adam Waldman, que supostamente teria "conexões russas". A juíza concordou em afastar qualquer prova dos "supostos delitos" de Waldman e de uma alegada campanha contra Heard. 

"Ameaças e enganos"

A integridade de Adam Waldman volta a ser posta em causa quando a equipa da atriz alega que as declarações de uma testemunha foram obtidas "através de ameaças e enganos". A testemunha em questão é Laura Divenere, uma amiga de Heard que declarou não ter visto quaisquer hematomas ou marcas de violência. Nas informações agora partilhadas com o público, é escrito que Divenere "testemunhou que se sentiu coagida a assinar a declaração"  e que terá sido "ameaçada com consequências negativas se não cooperasse" com o advogado. 

Informações que Johnny Depp quis excluir (mas não conseguiu)

Mas nem todos os recursos propostos pelos advogados de Depp foram bem-sucedidos. Algumas das provas que pretendiam excluir acabaram por ir a julgamento e ser apreciadas pelo júri - de resto, sem grande peso na decisão final, que favoreceu o ator. 

Um destes elementos é o testemunho de Ellen Barkin, uma atriz norte-americana que se relacionou com Johnny Depp nos anos 90 e que descreve o ex-parceiro como "controlador" e "ciumento". 

A equipa tentou também desvalorizar duas provas multimédia, sem sucesso. A primeira consistia numa conversa por escrito entre Depp e Paul Bettany, em que ambos os atores tentam conceber um método para determinar se Amber Heard é uma "bruxa". Depp propõe: "Vamos afogá-la antes de a queimarmos! Vou foder o cadáver queimado a seguir, para me certificar de que está morta". Numa segunda prova em formato multimédia, é possível ouvir Heard a dizer "acabei contigo uma semana antes, uma semana antes, uma semana antes de tu me espancares". 

Atores "comparáveis" a Amber Heard?

Apesar da maioria das informações expostas por estes documentos desfavorecer Johnny Depp, também a equipa de Amber Heard apresenta declarações de autenticidade dúbia. Numa discussão sobre as perdas económicas de milhões de dólares sofridas pela atriz, supostamente resultantes da difamação sofrida ao longo do processo de divórcio, os advogados mencionam uma lista de estrelas de Hollywood que seriam comparáveis ao estatuto de Heard: Jason Momoa, Gal Gadot e Ana de Armas. O The Daily Beast faz notar que esta declaração é "dúbia", uma vez que estes atores são "claramente" estrelas de maior calibre.

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