A população de golfinhos de água doce volta a ficar ameaçada na Amazónia, num ano que está a revelar-se catastrófico para o pulmão do planeta – agora devastado pela seca
A seca que afeta a Amazónia em 2024 pode superar o histórico ano de seca de 2023, que teve um impacto devastador na região.
A crise do ano passado ameaça repetir-se com o isolamento das populações e dificuldades no acesso a água potável, alimentos e cuidados de saúde.
Para além dos danos diretos na comunidades locais, repete-se a séria ameaça à vida selvagem.
No último ano, as temperaturas da água no Lago Tefé, subiram aos 40°C, provocando a morte de botos (golfinhos de água doce) nunca antes registada na Amazónia. Foram encontrados 209 animais mortos.
Os investigadores dizem haver fortes probabilidades de 2024 vir a ser pior do que 2023.
A 30 de agosto de 2024, o nível das águas do lago Tefé era de 6,81 metros, dois metros acima do nível mais baixo registado no ano passado: 4,75 metros a 23 de outubro.
Atualmente a situação é preocupante, com o nível do lago a baixar em média 23 centímetros por dia na última semana. Mesmo que o ritmo abrandasse para cerca de 10 centímetros por dia, o lago poderia ultrapassar o nível mínimo de 2023 já a meio de setembro.
Para além da diminuição do nível dos rios e dos lagos, a temperatura da água tem registado subidas.
Desde que o lago alcançou o nível de referência de 7 em 29 de agosto de 2024, a amplitude térmica diária aumentou. Recentemente, a temperatura a dois metros de profundidade alcançou 33°C, o maior valor registrado em 2024, ainda assim abaixo dos cerca de 40°C observados em outubro de 2023.
O aquecimento contínuo é uma preocupação significativa para a fauna aquática do lago conhecido por ser um santuário de botos-vermelhos onde se estima existirem atualmente cerca de 1400 indivíduos.
Escrito em colaboração com Virgílio Machado, investigador do Instituto Mamirauá - conservação da Amazónia.