"O Bruno Silva foi detido. Minhas lágrimas neste momento são de alívio. É um dia em que me sinto mais segura em Portugal"

22 out, 08:00
Amanda Lima

Apresenta-se como "o maior racista português", usa linguagem com referências ao nazismo, apela ao voto no Chega e ofereceu dinheiro “a quem realizar um massacre e exterminar pelo menos 100" pessoas da nacionalidade das jornalistas Stefani Costa e Amanda Lima (que comenta na CNN Portugal). Foi detido (aviso: este artigo contém linguagem violenta)

A jornalista Amanda Lima também foi alvo de ameaças, insultos e mensagens racistas por parte do elemento de extrema-direita detido esta terça-feira pela Polícia Judiciária (PJ) por incitamento ao ódio e ameaças de morte à jornalista, também de nacionalidade brasileira, Stefani Costa.

Em declarações à CNN Portugal, Amanda Lima confirma que apresentou queixa contra o mesmo homem em julho do ano passado, mas que o processo “ainda não deu em nada”.

“Não apresentei queixa só contra ele, apresentei contra várias pessoas que me ameaçam na internet. Ele é um deles”, explicou.

A CNN Portugal teve acesso a emails e publicações enviados a Amanda Lima, nas quais o remetente - que usa o nome e um endereço com o nome de Bruno Silva - assume ser “o português mais racista de Portugal” e diz sentir “um enorme nojo, ódio e desprezo pelos brasileiros”.

Num email com o título “Racismo à portuguesa”, enviado a 26 de maio, o remetente apresentava-se como “militante do partido Chega” e descrevia comportamentos discriminatórios, afirmando que não arrendava casas, não atendia chamadas, nem era servido em restaurantes por brasileiros ou pessoas negras.

“As mulheres brasileiras são as mais p* do mundo. És uma grande p* só por teres nascido brasileira", escreveu.

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O email terminava com uma ameaça direta. “Se não voltares para o Brasil, vai acontecer-te alguma coisa em breve. Nós, que somos militantes do CHEGA, estamos muito atentos. Cuidado, brasileira nojenta.”

"Estamos preparados para a guerra racial"

A 17 de junho, Bruno Silva publicou nas redes sociais uma mensagem onde se lia:

“Estamos preparados para a guerra racial, se necessário. Votem no partido CHEGA!!! Sieg Heil!!! 🇵🇹”

A publicação, com referências nazis, estava acompanhada da fotografia de duas armas de fogo em cima de um cachecol e de um chapéu do grupo extremista 1143.

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Na mesma publicação, o homem dirigia-se diretamente às jornalistas brasileiras:

“@sttefanicosta Macaca brasileira, a tua amiga Amanda Lima desapareceu daqui, tu és a próxima.”

Além das publicações nas redes sociais, Bruno Silva participava em grupos de Telegram ligados à extrema-direita com milhares de membros, como o canal “RCE CHAT”, onde divulgava notícias escritas por Amanda Lima acompanhadas de comentários racistas e incitamentos à violência.

“Porque é que há uma macaca brasileira a fazer este tipo de propaganda contra os portugueses num jornal português? Quando é que Amanda Lima será deportada de volta para o Brasil?”, escreveu, recebendo várias reações de apoio.

Entre as respostas, lia-se a do neonazi Mário Machado:

“Bem vindo maior racista português ahahaha.”

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Em alguns dos grupos, o suspeito usava o nome “Bruno Racista Silva", sempre acompanhado de bandeiras portuguesas e símbolos nazis.

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Bruno Silva foi detido esta terça-feira em casa, na zona de Vila Real, e será presente a um juiz em Lisboa nas próximas horas. Amanda Lima recorreu às redes sociais para demonstrar o "alívio" que sente depois da detenção. 

"O Bruno Silva foi detido. Minhas lágrimas neste momento são de alívio. Hoje é um dia em que me sinto mais segura em Portugal, mas ainda há muitos mais que continuam impunes", escreveu. 

A detenção foi realizada pela Unidade de Contraterrorismo da PJ, no âmbito de um inquérito conduzido pelo DIAP de Lisboa, depois de Bruno Silva afirmar, também na rede social X, que oferece dinheiro “a quem realizar um massacre e exterminar pelo menos 100 brasileiros em Portugal”. Disse ainda dar “um bónus de 100 mil euros a quem trouxer a cabeça" de Stefani Costa.

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nota: este artigo não contém o contraditório de Bruno Silva pela circunstância de se encontrar detido

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