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Comentadora CNN

Bolsonaro e a falta de vontade política para combater o assassinato de mulheres

10 dez 2022, 13:09

Será que uma redução de 94% nos recursos de prevenção e combate à violência contra mulheres e meninas é suficiente para convencer os céticos de que Bolsonaro não se importa mesmo com o problema?

A cada seis horas, uma mulher é vítima de feminicídio no Brasil. Foi assim nos primeiros seis meses deste ano, com um total de 699 mulheres mortas por companheiros ou ex-companheiros, de acordo com dados divulgados recentemente pelo Fórum de Segurança Pública. 

Se comparado com o primeiro semestre de 2019, o aumento no número de mulheres assassinadas foi de 10,8%, com crescimento contínuo ano após ano. Deveria ser motivo mais do que suficiente para atenção do atual governo com o problema, que deixa filhos órfãos todos os dias. O que aconteceu? Justamente ocorreu o contrário.  

Não é de hoje que o presidente derrotado Jair Messias Bolsonaro mostra, com palavras e políticas públicas, o desprezo pelas mulheres. Aliás, esse é um dos motivos da sua popularidade, a misoginia que tanto representa uma parcela dos homens brasileiros. 

No entanto, se quem pensa que as inúmeras frases misóginas de Jair Messias Bolsonaro não possuem efeito nenhum no fenômeno, os números não mentem. Será que uma redução de 94% nos recursos de prevenção e combate à violência contra mulheres e meninas é suficiente para convencer os céticos de que Bolsonaro não se importa mesmo com o problema?

O cálculo, divulgado pelo portal G1, foi realizado pelo Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc), com base nos orçamentos propostos entre 2016 e 2019 com os orçamentos propostos por Bolsonaro, de 2020 a 2023. Os valores passaram de R$ 366,58 milhões para apenas R$ 22,96 milhões. Quantas vidas de mulheres poderiam ter sido salvas se o governo tivesse investido mais? 

A verba é utilizada, por exemplo, para abrigos seguros, essenciais para mulheres que precisam sair de casa para não serem assassinadas. Quantas psicólogas poderiam ter sido contratadas, para orientarem as vítimas sobre a melhor maneira de sair de uma relação abusiva, algo muito difícil de ser feito sozinha e sem apoio?

A redução de 94% nos recursos é assustadora e deveria ser motivo de revolta, principalmente por parte das mulheres. Afinal, não foi falta de recurso, foi falta de vontade política em combater um problema real. Para os militares, por exemplo, sempre houve dinheiro mais do que suficiente. 

O fato de faltar apenas apenas 20 dias do fim do atual governo, que foi derrotado nas urnas democraticamente, não significa que tudo vai melhorar da noite para o dia. Primeiro que a misoginia tão incentivada por Bolsonaro levará muito, muito tempo para diminuir. Em segundo lugar, será necessário um forte investimento do governo eleito, em meio a um cenário de desmonte financeiro em diversas áreas. 

Recentemente, em Lisboa, Janja, companheira de Lula, afirmou para uma plateia repleta de mulheres com olhares de esperança, que o novo presidente teria “um olhar de carinho para as mulheres”. Ao longo da campanha, esse compromisso também foi firmado. Agora, resta saber se a promessa será cumprida e como será cumprida. 

É algo que não pode ser deixado para depois. É preciso que seja uma prioridade, para que o triste número de uma mulher assassinada a cada seis horas diminua, para que tantas crianças cresçam com mães e pais, uma vez que, muitas vezes, os assassinos cometem suicídio após o crime, deixando os filhos órfãos. A violência de gênero é um problema estrutural que afeta toda a sociedade. Não combatê-lo é uma enorme falha moral. Mais do que isso, é de uma crueldade sem tamanho e que jamais deverá ser esquecida.

* Amanda Lima escreve a sua opinião em Português do Brasil

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