opinião
Comentadora CNN

A ilusão e a realidade

17 dez 2022, 13:34

Do lado da ilusão, estão os bolsonaristas, esperando sucessivas “72 horas” para que um golpe militar aconteça ou qualquer outro fato que impeça Jair Messias Bolsonaro de deixar a presidência no dia 1º de janeiro

O Brasil, dividido há muito anos por questões políticas e ideológicas, continua com divisões. Agora, a mais perceptível é a de quem vive uma ilusão e de quem vive a realidade - nenhuma delas assim tão boa. 

Do lado da ilusão, estão os bolsonaristas. Há mais de 45 dias, esperam, ajoelhados e acampados, sob sol e chuva, sucessivas “72 horas” para que um golpe militar aconteça ou qualquer outro fato que impeça Jair Messias Bolsonaro de deixar a presidência no próximo dia 1º de janeiro. Enquanto isso, o presidente derrotado nada faz para acalmar os ânimos, enviando mensagens dúbias que são interpretadas pelos manifestantes como sinais para seguir com os inúteis protestos, alguns violentos.

Na madrugada do dia 12, bolsonaristas tentaram invadir a sede da Polícia Federal (PF), depredaram prédios e incendiaram veículos, em uma noite de terror que é antítese da democracia. No entanto, a democracia continua vitoriosa.

Muito simbólico que, horas antes, na cerimônia de diplomação da chapa eleita pelo povo nas urnas, o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Alexandre de Moraes, proferiu, um discurso digno de ficar na história: “Essa diplomação atesta a vitória plena e incontestável da Democracia e do Estado de Direito contra os ataques antidemocráticos, contra a desinformação e contra o discurso de ódio proferidos por diversos grupos organizados que, já identificados, garanto serão integralmente responsabilizados”.

Em novas declarações recentes, Moraes avisou que ainda há “muita gente pra prender e muita multa pra aplicar”. É um claro aviso que a democracia brasileira continua forte e a justiça atenta, tanto que uma mega operação policial na quinta-feira (15) cumpriu mandados em oito estados do país, com apreensão de armas de grande calibre, como fuzis e submetralhadoras. É melhor que os golpistas acordem para a realidade antes que seja tarde e arranjem bons advogados. 

A realidade

Do lado da realidade, a menos de 15 dias da cerimônia de posse, a preparação vai a mil por hora, já em clima de festa, sob comando da socióloga Janja, esposa de Lula. O evento foi batizado de “Festival do Futuro” e terá apresentações de artistas após a solenidade formal.

Uma das presenças deve ser de Marcelo Rebelo de Sousa, que recebeu recentemente Lula em Lisboa no maior clima de amizade. A Assembleia da República autorizou, na sexta-feira (16), a viagem do presidente ao Brasil entre os dias 30 de dezembro a 2 de janeiro. Ao que tudo indica, a virada do ano do chefe de estado português será em ritmo brasileiro e tropical no calor de Brasília. Pena que na cidade não há praia para o tradicional mergulho do dia 1º de janeiro. 

Além de Marcelo Rebelo de Sousa, outras 16 autoridades internacionais já estão confirmadas na solenidade. Segundo o embaixador brasileiro Fernando Igreja, o evento será “a posse com maior número de chefes de Estado”. Quem vai faltar é o atual presidente, que ainda não aceitou a derrota e parece viver o mundo da ilusão junto com a seita bolsonarista que sonha com o golpe e repete fervorosamente, entre orações e gritos, frases como “O ladrão não sobe a rampa”. 

Não surpreende que Bolsonaro se recuse a participar da posse, que é um dos símbolos máximos da democracia brasileira. Afinal, o presidente derrotado não é muito fã da democracia. O que ainda não se sabe é o tamanho do barulho que será feito pelos bolsonaristas para impedir, de fato, a subida da rampa. Certo é que um forte esquema de segurança está sendo preparado para evitar um episódio Capitólio Tupiniquim ou algo do tipo.

Esse é o mundo da realidade, inclusive, sem o Hexa para o Brasil na Copa do Mundo. No dia 1º de janeiro, será de festa para a democracia, mas a realidade não é tão boa na perspectiva financeira a partir do dia seguinte. O novo governo, que já possui nomes confirmados para os principais ministérios, terá a difícil missão de cumprir os compromissos de campanha com os poucos recursos deixados pela atual gestão. Como disse no início do texto, nenhuma das realidades é tão boa assim, mas tudo é melhor do que a ilusão golpista. 

* Amanda Lima escreve a sua opinião em Português do Brasil

Brasil

Mais Brasil

Patrocinados