Dos mamilos de prata à almofada de amamentação: é tudo necessário ou amamentar também é um negócio?

6 ago 2022, 16:00
Sines: Concurso de fotografia «Momentos de Amamentação» - Patrícia Lacasta - 1º Lugar

Nem tudo é útil e, sobretudo, nem tudo é útil para todas as mulheres. É importante estar bem informado para não se entrar em gastos desnecessários

Sobretudo quando se é mãe de primeira viagem, tende-se a comprar tudo o que há no mercado e promete facilitar a maternidade. Também é assim nos assessórios para amamentação. Mas, asseguram os especialistas, nem tudo é necessário e muito menos indispensável.

A propósito da Semana Mundial do Aleitamento Materno, pedimos a uma Conselheira de Aleitamento Materno (CAM) que nos ajude a perceber a utilidade de cada artigo e o que realmente é imprescindível. E fomos confrontados com uma máxima, logo à partida.

“Indispensável, indispensável é um bebé, pelo menos uma mama e uma mãe formada e informada, que esteja motivada para a amamentação”, sublinha Mónica Pinho, enfermeira especialista em Saúde Materna e Obstetrícia no Hospital Lusíadas Lisboa.

“E de preferência que o outro elemento do casal também esteja motivado. Porque muitas vezes o pai ou a outra mãe do bebé, não estando motivados e informados, atrapalham e até boicotam o processo”, acrescenta a enfermeira e também CAM.

Quanto às ajudas técnicas, Mónica Pinho sublinha que a sua aquisição “depende ou não de cada mulher e do seu projeto de amamentação”. Mas há investimentos “que valem a pena”, a começar por “um bom sutiã de amamentação, que seja confortável, adequado ao corpo da mulher e fácil de abrir e fechar com apenas uma mão, para a mãe ter a outra livre para segurar o bebé”. E um sutiã que responda a estas características custa cerca de 40 euros.

“Quem tem o peito maior terá dificuldade em encontrar o sutiã adequado em lojas normais. Mas há lojas especializadas com sutiãs de amamentação em tamanhos grandes. Deve ser um sutiã que suporte bem o peso do peito, nos ombros e nas costas”, explica a enfermeira, acrescentando que o sutiã só deve ser comprado quando o tamanho do peito na gravidez estiver estabilizado.

Uma mulher que pinga leite nos intervalos entre mamadas pode necessitar também de discos absorventes, que podem ser descartáveis (cerca de 5 euros por embalagem de 60 unidades) ou reutilizáveis (cerca de 15 euros, uma embalagem de seis). “Mas nem todas as mulheres precisam. Têm o que chamamos entre nós ‘mamas tupperware’, que guardam tudo lá dentro. E isso não é melhor ou pior. Não significa que tenham mais ou menos leite.”

Já as conchas de amamentação, cujo preço ronda os 20 euros, podem até ser úteis no início do processo, mas “a sua utilização não é recomendada além do primeiro mês”.

Os mamilos de prata “são usados em situações muito específicas, quando o mamilo está muito macerado”. Facilitam a cicatrização do mamilo, mas só devem ser usados com aconselhamento profissional. Custam cerca de 45 euros.

A bomba de extração e leite pode custar cerca de 160 euros se for elétrica ou de 40 se for manual. Não é obrigatória mas pode dar jeito, sobretudo se a mãe vai regressar ao trabalho cedo e pretende extrair leite para continuar o aleitamento materno em exclusivo até aos seis meses e prolongar depois da diversificação alimentar.

“Uma bomba elétrica não é necessariamente melhor do que a manual. A manual serve para extração esporádica e não precisa de pilhas ou alimentação elétrica. A bomba elétrica faz mais sentido quando a mãe pretende fazer uma extração mais regular. Há estudos que indicam que a utilização da bomba vai permitir manter a amamentação mais tempo porque ajuda a mãe a organizar melhor a sua vida e ajuda o outro elemento do casal ou outro familiar a cuidar melhor do bebé”, explica Mónica Pinho.

Se for extrair leite, será quase inevitável que adquira recipientes para o acondicionar no frigorífico (até cinco dias) ou no congelador (até seis meses - se for a menos de 18 graus, pode ir até um ano). Os recipientes podem ser contentores, frascos (mais ou menos 19 euros uma embalagem de três) ou sacos (12 euros uma embalagem de 25 unidades). “Os sacos têm a vantagem de se arrumar melhor no congelador mas têm a desvantagem de serem de uso único. Os contentores podem ser reutilizados - até para guardar sopas ou papa”, aconselha a CAM.

A almofada de amamentação, que vai para a maternidade na mala de muitas mães e que pode custar cerca de 50 euros, também não é obrigatória. “Podemos usar qualquer almofada que temos em casa. Mas ajuda a manter um posicionamento correto do bebé na mama”, diz a especialista.

O que também não é obrigatório é o esterilizador, que pode chegar a custar cerca de 100 euros, se for elétrico. Mais do que esterilizar, alerta a CAM, é preciso lavar muito bem com água e sabão chuchas, tetinas, biberões e todos os componentes da bomba extratora em contacto com o leite e com a mama. “Se o bebé estiver a ser bem amamentado não é necessário um esterilizador com grande capacidade e podemos mesmo, em alternativa, ferver os objetos”, acrescenta.

Há ainda os mamilos de silicone (cerca de 12 euros), o “tema quente” da amamentação. Os profissionais de saúde não recomendam, por princípio, a sua utilização, porque podem mesmo ser prejudiciais ao processo de amamentação, tornando “a drenagem do leite mais difícil e o aparecimento de mastites”. “Devem ser usados com muita parcimónia. É preferível o bebé mamar com o mamilo de silicone do que não mamar. Mas devem sempre ser encarados como uma solução de curto prazo. Sempre uma solução de curto prazo e deve fazer-se o desmame dos mamilos de silicone entre um mês e três meses de vida do bebé”, aconselha Mónica Pinho.

“É preferível procurar ajuda especializada para auxiliar o bebé a pegar na mama sem os mamilos de silicone”, remata.

Há ainda outros itens, como os discos de hidrogel (entre 15 e 20 euros) ou as almofadas de quente e frio (cerca de 10 euros), que podem ser “práticas para aplicar calor na mama antes de o bebé mamar ou frio depois”.

Em suma, facilmente se gastam algumas centenas de euros em produtos que podem nem ser de grande utilidade. Por isso, a enfermeira Mónica Pinho recomenda que se peça sempre o aconselhamento de uma profissional antes de se abrir os cordões à bolsa.

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