O hospital revela que "o elevado número de camas ocupadas por utentes com alta clínica e a aguardar resposta social estrangula o Serviço de Urgência, onde os doentes que necessitam de internamento para tratamento permanecem mais tempo do que seria desejável"
O Hospital Fernando Fonseca esclareceu esta sexta-feira que o elevado número de camas ocupadas com casos sociais estrangula o serviço de urgência, onde os doentes permanecem mais tempo do que seria desejável à espera de vaga de internamento em enfermaria.
O esclarecimento do Hospital Fernando Fonseca (HFF), que abrange os concelhos de Amadora e Sintra, surge após a equipa de enfermagem do Serviço de Urgência Geral (SUG) ter pedido escusa de responsabilidade, por considerar que faltam as condições de segurança necessárias para a prestação de cuidados.
Numa resposta escrita à agência Lusa, o Conselho de Administração do HFF confirma a receção da escusa de responsabilidade da equipa de enfermeiros e afirma que a pressão que se tem verificado sobre este serviço resulta do aumento de procura, e em grande medida do subdimensionamento do internamento para a população servida.
Diariamente, este serviço atende 400 episódios de urgência, refere o hospital, elucidando que são mais de 16 doentes por hora, ou uma média de 2,7 doentes a cada dez minutos”.
A esta situação acresce “uma utilização indevida” das camas de internamento de agudos por utentes que aguardam resposta de estruturas sociais. Ao dia de hoje, mais de 15% dos doentes à responsabilidade do HFF são casos sociais (85 doentes)”, observa o hospital, cuja urgência serve a maior área demográfica de Portugal e do Serviço Nacional de Saúde, “com uma população superior a 550.000 utentes com características sociais e culturais muito desafiadoras”.
“O elevado número de camas ocupadas por utentes com alta clínica e a aguardar resposta social estrangula o Serviço de Urgência, onde os doentes que necessitam de internamento para tratamento permanecem mais tempo do que seria desejável à espera de vaga/cama de internamento em enfermaria”, sublinha.
Perante esta situação, o hospital sublinha que se impõe “uma palavra de agradecimento” aos enfermeiros e aos outros profissionais do SUG que, afirma, “com espírito de missão e por vezes grande sacrifício pessoal, prestam os melhores cuidados de saúde possíveis à população” que serve.
Hospital contrata mais camas para dar resposta aos doentes com alta
Para dar resposta aos doentes com alta, mas que aguardam colocação num lar pelo Estado, o hospital contratualizou esta semana mais dez camas de resposta social sob sua responsabilidade financeira, tendo internados atualmente 106 doentes fora das suas instalações.
Adicionalmente, o Hospital contratou 30 camas da rede nacional de cuidados continuados e 15 camas clínicas, que estão todas ocupadas, encontrando-se “ativamente a procurar mais vagas sociais”.
Paralelamente, a Hospitalização Domiciliária do HFF foi alargada para dez camas em 2022, para libertar camas de internamento, e está planeada a expansão para 15 camas em 2023.
Excluindo as enfermarias de Pediatria, Ginecologia-Obstetrícia e Psiquiatria, o hospital possui 635 camas de internamento com uma taxa de ocupação próxima dos 100%.
Também para atenuar a pressão na afluência ao SUG foi celebrado um protocolo com os dois agrupamentos de centros de saúde da região, com a disponibilização de 30 vagas por dia, para encaminhamento de doentes menos urgentes (cerca de 50% dos atendimentos na urgência).
No entanto, os doentes têm expressamente de consentir a transferência para o centro de saúde, o que tem dificultado a efetividade da medida, refere o hospital.