Como Rui Pinto entrou no email do "procurador benfiquista" Amadeu Guerra, o novo PGR. E como leu coisas sobre Tancos e a Operação Marquês

27 set, 13:51
Rui Pinto

É uma história de 2022. Amadeu Guerra, que liderou investigação a Sócrates, acaba de ser nomeado procurador-geral da República

Foi a 31 de outubro de 2022: Rui Pinto respondeu em tribunal às questões de um coletivo de juízes sobre a maneira como acedeu a documentos da Procuradoria-Geral da República (PGR). Em declarações perante o coletivo, o hacker português explicou que, no momento dos acessos, estava em Budapeste e que "a forma de acesso foi, em concreto, a caixa de correio de Amadeu Guerra". Refira-se que Amadeu Guerra foi nomeado esta sexta-feira procurador-geral da República.

Rui Pinto explica como fez: "O método foi o mesmo utilizado para aceder a uma sociedade de advogados", afirmou, garantindo que "não queria entrar no site da PGR", uma vez que "o interesse que tinha era no DCIAP.” Amadeu Guerra foi diretor do DCIAP.

Rui Pinto explicou ainda que a revista Sábado publicou um artigo que o ligava aos emails do Benfica, "que revelava mentiras baseadas em fontes judiciais", e que por causa desse artigo, que "falava de tentativas de extorsão ao Benfica e ao Sporting", começou a receber "mensagens de morte no Facebook". 

"A fonte judicial [desse artigo] podia ser um inspetor da PJ ou alguém no DCIAP, então o meu foco voltou-se para o DCIAP”, explicou.

Para tentar descobrir quem era a fonte, Rui Pinto entrou na caixa de correio do procurador Amadeu Guerra e leu "vários emails dele" para tentar "perceber quem era a fonte no DCIAP". "Mas não consegui lá chegar. Amadeu Guerra era adepto benfiquista e os processos onde era suspeito tornaram-se a prioridade para a sua equipa.”

O hacker português esclareceu ainda que não acedeu à rede da PGR - "as pessoas que colaboravam no Football Leaks é que acederam", garantindo ainda que os "documentos foram extraídos da caixa de correio do procurador e não da rede da PGR”.

Perante o tribunal, Rui Pinto assumiu ainda que teve acesso, um ano antes, aos factos que constam na acusação, em 2017, e a documentos relativos ao processo onde o próprio estava envolvido.

Já sobre os processos Tancos e Operação Marquês, o hacker assumiu que os obteve através da caixa de correio de Amadeu Guerra: “Se são processos mediáticos, por curiosidade, pode ler-SE ou não. Há uns que li, outros que não".

Rui Pinto disse ainda que, a partir de 2016, "o site do Football Leaks não partilhou documentos" porque a sua "prioridade passou a ser a colaboração com os consórcios de jornalistas e as autoridades".

"Ia acabar com as pesquisas porque estava a colaborar com as autoridades francesas antes de ser detido. Em fevereiro 2019 iria para território francês", afirmou.

Questionado porque não quis colaborar com as autoridades portuguesas quando foi detido, uma vez que demonstrou vontade de colaborar com as autoridades francesas, Rui Pinto diz que "não confiava nas autoridades portuguesas".

“Na altura recebi muitas ameaças. Não me sentia seguro a vir para Portugal. Não confiava nas autoridades portuguesas", afirmou.

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