“Será um desastre global”: vêm aí mais “bombas de carbono”

11 mai 2022, 19:42
Poluição (EPA)

Investigação do jornal The Guardian revela que as grandes empresas energéticas mundiais planeiam gastar quase 100 milhões de euros por dia durante uma década na exploração de novos poços de petróleo e gás natural

As maiores empresas mundiais do ramo energético estão discretamente a planear grandes projetos de exploração de petróleo e gás natural que ameaçam o cumprimento das metas definidas pelo Acordo de Paris, gerando consequências trágicas para a vida no planeta.

A investigação, do jornal britânico The Guardian, revela que os atuais projetos destas empresas produziriam um volume de gases com efeito de estufa equivalente a uma década de emissões de dióxido de carbono da China, o maior poluidor mundial.

Os dados a que a publicação tem acesso permitem também estimar que estas companhias planeiam gastar cerca de 97 milhões de euros por dia durante a próxima década na exploração de novos poços de petróleo e gás natural.

Apelidados pelos cientistas “bombas de carbono”, por serem capazes de emitir mil milhões de toneladas de dióxido de carbono durante a sua atividade, alguns destes projetos foram aprovados pelos governos nacionais imediatamente após os compromissos alcançados no ano passado na COP26, a cimeira do clima realizada em Glasgow.

O estudo a que o Guardian teve acesso, liderado por Kjell Kuhne, investigador da Universidade de Leeds, identificou 195 destas “bombas” um pouco por todo o mundo, incluindo na região moçambicana de Cabo Delgado.

Daniel Ribeiro, da associação Justiça Ambiental, que luta há mais de uma década contra a construção de um gasoduto e de uma exploração de gás natural nesta província, lamenta o rumo tomado.

“Já está a criar uma enorme disrupção para a pesca local e para os agricultores de subsistência, que estão a ser ‘corridos’ das suas terras. Se o projeto vai para a frente e países como Moçambique entrarem no caminho dos combustíveis fósseis, será um desastre global. Podemos esquecer o combate à crise climática… vamos todos sofrer”, diz Daniel Ribeiro ao jornal britânico.

Este projeto em particular, localizado num dos países mais vulneráveis às alterações climáticas, é apoiado em mais de 1.100 milhões de euros pelo governo do Reino Unido.

De acordo com o estudo, são o mesmo os governos nacionais os mais interessados em levar estes planos avante. As três empresas que mais dinheiro investiram nestes projetos são todas estatais: Qatar Energy, Gazprom e Aramco. Do top 10 constam também as grandes petrolíferas ocidentais, como a Exxon Mobil, a Total, a BP e a Shell.

O The Guardian indica, contudo, que os governos mundiais podem reverter este curso e assegurar que estes investimentos falham, através da introdução de políticas que permitam reduzir a dependência dos combustíveis fósseis e as emissões de gases com efeito de estufa. No entanto, o panorama atual, em que a invasão russa da Ucrânia fez disparar os preços dos combustíveis, abre o apetite destas empresas a novos investimentos ruinosos para o ambiente.

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