Ministro responde a críticas de Rio e acusa-o de não se comprometer no tema difícil da TAP. Vai Rio manter o acordo com Bruxelas se for primeiro-ministro ou rasgá-lo?
“O que o presidente do PSD tem feito [em relação ao dossiê da TAP] é fugir do tema como o diabo foge da cruz e não assumir uma posição que seja escrutinável por nós”, afirma Pedro Nuno Santos. “Repare que o presidente do PSD diz que é mau fechar e diz que é mau manter aberto. Tudo bem, é preciso é dizer aquilo que fará se for primeiro-ministro.”
As declarações foram feitas pelo ministro das Infraestruturas, em entrevista esta terça feira à noite em exclusivo à CNN Portugal.
No domingo, no encerramento do congresso do PSD, dois dias antes de o governo chegar a acordo com a Comissão Europeia para o plano de viabilização da TAP, Rui Rio criticara a TAP por andar “uma vida de mão estendida ao Orçamento do Estado” e criticara o governo por se preparar para “enterrar muito mais dinheiro” na companhia (ver declaração na íntegra no fim deste texto).
Confrontado com esta declaração do presidente do PSD, Pedro Nuno Santos apontou para uma incoerência de quem diz “que é preciso falar verdade na política e ter coragem para tomar decisões difíceis.” É que Rui Rio não o faz em relação à TAP, defende.
“Eu sou o único político que quis que o plano de reestruturação fosse ao Parlamento”, recorda Pedro Nuno Santos, iniciativa que então não logrou o seu caminho porque António Costa esteve contra. Mas “eu não me esqueço que Rui Rio fugiu mais uma vez como o diabo foge da cruz de ter de tomar uma posição sobre uma matéria difícil, “não não, isso é matéria do governo”. É matéria do governo mas não era mal nenhum que todos nos comprometêssemos com uma matéria tão pesado do ponto económico e que tem consequências a prazo. Não quis porque é difícil.”
Pedro Nuno Santos critica ainda Rio por ter defendido, no passado, o encerramento da TAP com abertura de uma nova companhia “ao lado”. Isso foi o que fez o governo italiano, compara o ministro das Infraestruturas, “deixou a Alitalia falir e abriu uma nova, a ITA”, uma companhia aérea com 52 aviões e que teve de abdicar de 57% dos slots no aeroporto de Roma, vai receber mil e trezentos milhões depois de o Governo italiano ter posto mil milhões na Alitalia, que fechou.”
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Já na conferência de imprensa em que apresentou o plano de reestruturação da TAP, Pedro Nuno Santos desafiara Rui Rio a dizer o que fará, se for primeiro-ministro: se manterá o acordo agora assinado com Bruxelas ou se o deixará cair. O repto de que os partidos políticos se posicionem sobre a TAP durante a campanha eleitoral já havia sido feito pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa.
O que disse Rui Rio sobre a TAP no congresso do PSD:
“Depois de uma vida de mão estendida ao Orçamento do Estado, a TAP, é, também, um exemplo da gestão socialista, com largos milhões de euros dos portugueses nela despejados. O Governo reverteu a privatização mal tomou posse – antes ainda da crise causada pela pandemia – e, com esse ato, voltou a meter o Estado num buraco que parece não ter fundo.
Chegados aqui, tudo está pior. Já lá foram metidos mais de 2.000 milhões de euros nos últimos dois anos. Ainda falta meter mais sabe-se lá quanto, e o plano de viabilização, se assim se pode chamar, continua encalhado em Bruxelas, vindo agora o Governo dizer que pode não ser aprovado e que, depois de tanto dinheiro perdido, a TAP afinal pode fechar.
Tudo mau! Pior, era difícil!
É má a solução de fechar a TAP, depois das avultadas verbas que lá foram enterradas. É má a solução de a manter, porque ainda falta lá meter muito mais dinheiro. E será má a situação do nosso país, se a Comissão Europeia vier a reprovar o plano que lhe foi apresentado pelo Governo.
Foi a isto que conduziu esta governação do PS, em geral, e deste Ministério das Infraestruturas, em particular.”