EUA ponderam sancionar um alvo muito próximo de Vladimir Putin: a sua alegada namorada

26 abr 2022, 19:58
Alina Kabaeva e Vladimir Putin (SERGEI CHIRIKOV/AFP via Getty Images)

Autoridades norte-americanas estão num impasse relativamente à possibilidade de sancionar Kabaeva, isto porque alguns consideram que essa decisão poderia irritar Vladimir Putin de tal forma que acabaria por ter o efeito contrário no conflito na Ucrânia. O nome da antiga ginasta chegou a ser incluído num pacote de sanções mas foi retirado

Nos últimos meses, várias têm sido as tentativas do Ocidente de travar a guerra na Ucrânia e punir a Rússia pelas ofensivas no país vizinho, com sanções atrás de sanções, quer do lado dos EUA, quer do lado da União Europeia.

As sanções visam sobretudo negócios russos e pessoas próximas do presidente Vladimir Putin, como as suas filhas mais velhas, Katerina Tikhonova, de 35 anos, e Maria Vorontsova, de 36.

Mas há uma pessoa muito próxima de Putin que tem sido poupada das sanções do Ocidente: trata-se de Alina Kabaeva, a mulher que a Casa Branca acredita ser a namorada de Putin e mãe de pelo menos três dos seus filhos. A antiga campeã olímpica de ginástica rítmica e modelo, de 39 anos, é suspeita de ajudar Putin a esconder a sua riqueza pessoal.

Vladimir Putin e Alina Kabaeva (ITAR-TASS, 2004)

De acordo com o Wall Street Journal (WSJ), as autoridades norte-americanas estão num impasse relativamente à possibilidade de sancionar Kabaeva, isto porque alguns consideram que essa decisão poderia irritar Vladimir Putin de tal forma que acabaria por ter o efeito contrário no conflito na Ucrânia, além de um possível escalar de tensões entre Moscovo e Washington.

Ainda assim, Kabaeva continua a ser um potencial alvo de novas sanções, segundo aquele jornal, que explica que os pacotes de sanções são geralmente preparados pelos departamentos do Tesouro e do Estado, integrando serviços de inteligência e outras informações. Mas as sanções só podem ser anunciadas após o consentimento do Conselho de Segurança Nacional. É aqui que reside o impasse no caso de Kabaeva, uma vez que o departamento do Tesouro preparou um pacote de sanções que incluía o nome da antiga ginasta, que entretanto fora retirado por decisão do Conselho de Segurança Nacional.

Em declarações ao WSJ, um funcionário da Casa Branca explicou que há vários pacotes de sanções preparados "contra várias pessoas que ainda não foram sancionadas". "Continuamos a pensar sobre qual a melhor altura para as implementar de modo a causar o máximo impacto”, acrescentou.

No sábado passado, Kabaeva fez uma rara aparição pública na VTB Arena, em Moscovo, para apresentar um número de ginástica rítmica no festival Alina, um espetáculo de ginástica com o seu nome. De acordo com o jornal, a antiga ginasta surgiu em frente a um cartaz repleto de logótipos com a letra Z, o símbolo do apoio à invasão russa da Ucrânia.

“Todas as famílias têm uma história relacionada com a guerra, e devemos passar essas histórias às próximas gerações”, disse Kabaeva, no discurso de apresentação, defendendo depois que os ginastas russos, agora isolados das competições internacionais, como consequência das sanções ocidentais, sairão mais fortes destas adversidades. “Só temos a ganhar com isto”, apontou.

Um relacionamento amoroso ou rumores?

Apesar de várias notícias divulgadas pelos media russos que davam conta de um relacionamento amoroso entre ambos, o presidente Vladimir Putin, de 69 anos, nunca reconheceu uma relação com Kabaeva, que chegou a ser capa da revista Vogue na Rússia. Em 2008, Putin respondeu a uma dessas notícias, afirmando: “Nunca gostei de pessoas metediças que, com fantasias eróticas, se metem na vida privada das outras pessoas.”

Em 2013, Putin anunciou o fim do seu casamento de 30 anos com Lyudmila Shkrebneva, apontando que essa “foi uma decisão tomada em conjunto”. “Nós mal nos vemos, cada um tem a sua própria vida”, acrescentou. O divórcio ficou concluído no ano seguinte e, na altura, numa entrevista na televisão estatal russa, Kabaeva disse ter conhecido alguém de quem gostava muito, recusando-se, contudo, a partilhar o nome.

Mas os rumores de um relacionamento entre Putin e Kabaeva adensaram-se após os Jogos Olímpicos de Inverno de Sochi, em 2014, quando Kabaeva foi selecionada para transportar a tocha na abertura do evento. Muitos consideraram que Kabaeva foi nomeada por Vladimir Putin, mas o presidente russo garantiu que não interferiu no processo de escolha de Kabaeva.

Alina Kabaeva transporta a tocha na abertura dos Jogos de Inverno (John Berry/Getty Images)

De ginasta a dona do grupo de media russos

Natural do Uzbequistão, Kabaeva abandonou cedo os estudos para seguir o sonho da ginástica rítmica. Aos 21 anos, conquistou uma medalha de ouro na modalidade, nas Olimpíadas de 2004, na Grécia, tornando-se rapidamente uma estrela nacional. A ginasta ficou conhecida como "a mulher mais flexível da Rússia", tendo criado um movimento de assinatura, o qual designou pelo seu próprio nome.

Alina Kabaeva na Final dos Jogos Olímpicos em Sydney, Austrália (Mike Powell /Allsport)

A ginasta conta com uma vasta lista de distinções na modalidade – 21 medalhas em Campeonatos Europeus, 14 Medalhas em Mundiais e duas medalhas olímpicas (incluindo uma de ouro), sendo uma das atletas mais medalhadas da história da ginástica rítmica. Entretanto, em 2008, quando já corriam rumores de um relacionamento com Putin, Kabaeva deixou a ginástica para entrar na política, como deputada do partido Rússia Unida, de Vladimir Putin.

Em 2014, deixou o parlamento para se tornar presidente do Grupo de Novos Media da Rússia, dono dos principais sites de televisão e rádio pró-Putin. Kabaeva foi também nomeada pelo proprietário daquele grupo, Yuri Kovalchuck, a maior acionista do Rossiya Bank - que, aliás, foi alvo das sanções do Ocidente. Recentemente, o Grupo de Novos Media da Rússia removeu o nome e a foto de Kabaeva do seu site.

Desde 2013, Kabaeva e os seus familiares compraram seis apartamentos, duas casas e terrenos nas regiões mais exclusivas da Rússia. A avó, mãe e irmã da antiga ginasta tornaram-se proprietárias de casas luxuosas de homens de negócios próximos de Putin, incluindo uma grande propriedade em São Petersburgo, apartamentos de luxo numa rua sofisticada em Moscovo e na cidade turística de Sochi, de acordo com o registo de imóveis a que o WSJ teve acesso.

Segundo autoridades de segurança dos EUA e da Europa, Kabaeva viveu durante vários anos na Suíça, um país historicamente neutro em conflitos internacionais, numa mansão com um heliporto, localizada em Cologny, em Genebra. Um oficial norte-americano disse mesmo que vários homens de negócios próximos de Putin utilizavam aquela mansão para reuniões, chegando e partido de helicóptero.

Nas semanas que se seguiram à invasão da Ucrânia, surgiram várias notícias que davam conta de que Kabaeva estava a residir na Suíça na altura, mas o Departamento Federal de Justiça e Polícia da Suíça divulgou um comunicado no qual garantia não ter "indicação da presença dessa pessoa na Suíça”, sem mencionar Kabaeva pelo nome.

Em março passado, a Suíça deixou cair o seu estatuto de neutralidade, anunciando um conjunto de sanções financeiras contra Vladimir Putin, o primeiro-ministro russo, Mikhail Mishustin, e o ministro dos Negócios Estrangeiros, Sergei Lavrov. Além disso, anunciou ainda o congelamento de 5,75 mil milhões de francos (cerca de 5,6 mil milhões de euros) em ativos russos. Na altura, a Secretaria de Estado para os Assuntos Económicos, a agência que supervisiona as sanções, enfrentou críticas dos EUA e da Ucrânia por fazer mais para reprimir os ativos russos no país.

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