Alexis Tsipras diz que PM grego está a criar “regime” para controlar os media e a justiça

Agência Lusa , BC
27 jun 2022, 07:39
Aléxis Tsípras

Alexis Tsipras, líder do partido de esquerda Syriza, no poder na Grécia entre 2015 e 2019 quando dirigiu uma coligação governamental, acusou o conservador Kyriakos Mitsotakis de ter duas faces

O primeiro-ministro grego, Kyriakos Mitsotakis, apresenta-se com um modernista pró-europeu, mas quer controlar os media e a justiça, indicou o ex-chefe do governo grego Alexis Tripras em entrevista exclusiva ao ‘site’ Euractiv com a participação da Lusa.

“É uma vergonha que para o nosso país estar posicionado no 108º lugar em termos de liberdade de expressão, no último lugar entre os países europeus, mesmo num lugar mais baixo que a Hungria de Viktor Orbán”, disse Tsipras, o principal líder da oposição, numa referência ao relatório de 2022 sobre liberdade de imprensa da organização não-governamental (ONG) Repórteres sem fronteiras (RSF).

O líder do partido de esquerda Syriza, no poder na Grécia entre 2015 e 2019 quando dirigiu uma coligação governamental, acusou o conservador Mitsotakis de ter duas faces.

“Por um lado, a sofisticada face de um modernista pró-europeu, e, por outro lado, a face de um populista extremista que se manifestou contra o acordo de Prespa e se aliou à extrema-direita para derrubar o Governo do Syriza”, disse.

Em 2018, o Acordo de Prespa, assinado com a Macedónia do Norte, solucionou um conflito que se prolongava há 27 anos entre os dois países vizinhos em torno do nome da ex-república jugoslava, permitindo mais tarde a adesão da ex-república jugoslava à NATO.

O acordo foi assinado por Tsipras, então no poder, enquanto Mitsotakis, o líder da Nova Democracia (ND, então na oposição), se opôs abertamente ao desfecho das conversações, sob os auspícios das Nações Unidas.

Tsipras, 47 anos, também considerou que a ND de Mitsotakis, que integra o Parido Popular Europeu (PPE) de centro-direita e obteve maioria absoluta nas legislativas helénicas de 2019, se aliou aos políticos de extrema-direita do país e tenta impor um “modelo de regime”.

“Mitsotakis não respeita as instituições. No Parlamento grego anunciou a perseguição a jornalistas [que revelaram o escândalo Novartis, que envolve o gigante farmacêutico suíço na Grécia], distribuiu dezenas de milhões de euros para financiar os media sem qualquer critério sob o pretexto da pandemia (…)”, prosseguiu Tsipras, contrapondo o exemplo da Áustria, onde o ex-chanceler Sebastian Kurz “foi forçado a demitir-se devido a um milhão [de euros”.

“Tudo isto não se coaduna com uma imagem europeia (…). Há muito que a Europa se livrou destas práticas”, assinalou.

Tsipras disse estar a referir-se “intencionalmente a um regime que Mitsotakis está a tentar fomentar nos media e na (…) justiça”, mas, salientou, os cidadãos gregos possuem fortes “anticorpos democráticos” contra tal regime e táticas, que vão fornecer “uma resposta” ao primeiro-ministro grego.

As eleições legislativas gregas estão agendadas para dentro de um ano, mas desde há semanas que vem sendo crescentemente mencionado o cenário de eleições antecipadas para o próximo outono.

As próximas eleições vão decorrer com base numa nova lei eleitoral baseada na maioria simples – após o Syriza ter abolido o bónus de 50 deputados (num total de 300) concedidos ao partido mais votado e destinado a facilitar maiorias absolutas –, e a formação posterior de um governo de coligação parece ser a única opção.

Tsipras garantiu que caso o seu partido volte a vencer as eleições está aberto para uma coligação progressista que termine com o “pesadelo” criado pelo Governo de Mitsotakis, que leva a que o orçamento familiar dos gregos se esgote no 19º dia de cada mês, disse.

“Na Europa, a inflação na área da energia é em média de 39%. Sabe quanto é na Grécia? 62%”, sublinhou.

O Syriza já admitiu uma coligação com o Movimento socialista pan-helénico (PASOK), membro oficial do Partido dos Socialistas Europeus (PES) e que com a ND dominou a vida política grega desde o fim da ditadura e o regresso da democracia em 1974 até à “crise da dívida”, que assumiu uma particular gravidade no país balcânico.

Apesar de estar filiado na Esquerda Europeia, Tsipras participa como observador nos encontros do PES, com quem mantém crescente afinidade ideológica.

O PASOK espera desempenhar uma função de árbitro após as eleições, mas as sondagens ainda o colocam longe das intenções de voto atribuídas à ND e ao Syriza.

Tsipras disse respeitar as opções do PASOK, mas indicou que num determinado momento este partido deverá mostrar o seu jogo.

“Os socialistas europeus querem obviamente um Governo progressista na Grécia com a participação do maior partido das esquerdas e com o partido mais pequeno desta área do centro-esquerda. É isso que eles pretendem, é óbvio”, indicou.

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