Alexandra e Manuel Pinho: caras-metades de uma moeda suspeita

14 dez 2021, 16:33
Alexandra Pinho (à esquerda), ao lado de Maria João Salgado

Alexandra Pinho era assalariada de Ricardo Salgado. Manuel Pinho continuou a receber pagamentos do GES mesmo enquanto era ministro. Dinheiros em offshore comprometem casal

O casal Pinho era visita de casa de Ricardo Salgado mas as relações eram também profissionais. Alexandra era sua assalariada. Manuel deixou o Grupo Espírito Santo para ser ministro de José Sócrates, regressando depois de sair do Governo. Saiu mas não deixou de receber dinheiro, mensalmente, dinheiro que escapava ao olhos de todos, incluindo do Fisco, por sair de offshores ligadas ao GES para offshores ligadas ao casal Pinho.

Estas são algumas das suspeitas do Ministério Público sobre o casal Alexandra e Manuel Pinho. Outras dizem respeito ao chamado caso EDP: segundo a tese do Ministério Público, o ex-ministro da Economia tomou decisões no Governo em benefício da EDP (de que o GES era acionista), recebendo em troca não só dinheiro do GES mas também um “prémio” na forma de um subsídio da EDP à universidade norte-americana de Columbia, onde Pinho daria depois aulas.

O caso ainda não está na fase de acusação, mas foi com base neste processo que foi emitido esta terça-feira um mandado de detenção a Alexandra Pinho, tendo Manuel Pinho sido detido após o interrogatório no âmbito deste caso. Manuel Pinho é suspeito de crimes de fraude fiscal e branqueamento de capitais.

A coleção de arte

O antigo ministro, que cumpriu funções entre 2005 e 2009 no primeiro governo de José Sócrates, foi constituído arguido em 2017, num caso que começou a ser investigado há 12 anos. Em maio de 2019, Alexandra Pinho foi considerada suspeita pelos mesmos crimes do marido, com os investigadores a pedirem informações ao Novo Banco sobre a mulher, de modo a perceber se esta terá sido intermediária de eventuais pagamentos do Grupo Espírito Santo (GES) ao marido.

Entre 2004 e 2014, Alexandra Pinho trabalhou no Banco Espírito Santo (BES) como curadora da coleção de arte do respetivo banco, a BES Arte, um trabalho pelo qual recebia um salário de 6.930 euros mensais, segundo o Ministério Público. A este valor os procuradores somam os cerca de 15 mil euros depositados mensalmente, entre 2005 e 2009, na conta da sociedade offshore Tartaruga Foundation, da qual Alexandra Pinho era titular.

Os procuradores acreditam que este valor seria uma recompensa de Ricardo Salgado, na altura presidente do BES, a Manuel Pinho, que, de acordo com os magistrados, representava os interesses daquele banco no exercício das suas funções.

De acordo com o Observador, Alexandra Pinho recebeu um cheque de mais de 58 mil euros, destinados a Manuel Pinho, provenientes de uma empresa de construção civil sediada no paraíso fiscal de Gibraltar quatro meses antes de o marido sair do governo - um valor que o antigo ministro justificou ao mesmo jornal com a venda de um terreno no Monte Estoril, proveniente de uma herança.

Além disso, Manuel Pinho garantiu que esta transação foi feita por uma empresa com sede em Portugal, sem explicar, contudo, o porquê de o pagamento ter sido realizado por uma empresa offshore. A mesma publicação refere que, além destes milhares de euros que caíram na conta de Alexandra Pinho, bem como do seu salário mensal das suas funções do BES, a investigação detetou novos pagamentos superiores a 230 mil euros do BES, pagos entre abril de 2008 e abril de 2009. 

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