Jornalista queixou-se do caso à administração, mas a situação piorou
O grupo Impresa, que detém a SIC e o Expresso, foi condenado a pagar uma indemnização de mais de 80 mil euros a uma ex-jornalista, depois de um tribunal ter dado como provado que foi vítima de assédio laboral e precariedade.
A jornalista em causa denunciou o que se passava com um editor seu à administração da empresa e à família Balsemão, detentora do grupo, mas isso terá agravado a situação.
O caso aconteceu no semanário Expresso entre 2015 e 2021.
Alexandra Carita define o que viveu durante mais de cinco anos como um “inferno”. “Sentia-me humilhada, que devia saber que a vida custava. Nomeadamente o meu salário não me foi aumentado e disseram-me que era porque não precisava”, conta à TVI (do mesmo grupo da CNN Portugal).
O Tribunal do Trabalho de Cascais deu como provados os factos e condenou o Expresso a pagar uma indemnização de mais de 80 mil euros à jornalista.
Na decisão pode ler-se a seguinte passagem: “O que é que justifica a roupa de uma pessoa, de uma mulher jornalista, ser comentada pelo seu chefe, um homem jornalista editor, em contexto laboral? Acaso um trabalhador tem de se sujeitar ao escrutínio, aos comentários, às brincadeiras ou piadas dos superiores hierárquicos acerca da sua roupa ou forma como se apresenta? E ver estes comentários constantemente perante os colegas?”
Durante anos, Alexandra Carita não reagiu às provocações, sobretudo por medo de represálias. Isto até que não aguentou mais e fez queixa à administração da empresa.
“Não tinha nada a perder, porque eu já não aguentava mais. A minha saúde não permitia mais. Tremia, as minhas mãos tremiam, tinha medo de falar. Tinha medo de não conseguir tomar apontamentos quando estava a fazer o meu trabalho, já não conseguia ir a conduzir para a redação”, continua a jornalista.
E também isto o tribunal deu como provado, referindo que a administração do grupo foi conivente com o assédio laboral. “Protegeu o assediador, completamente, e tomou o mesmo comportamento. Fui ameaçada assim que fiz a denúncia, pelo próprio diretor, como está na sentença”, acusa.
O diretor, que já era João Vieira Pereira, conta, disse-lhe “agora é que vais ver, não tinha nada contra ti, a partir de agora tenho”. E a partir daí mudaram Alexandra Carita de área, deram-lhe prazos impossíveis para entrega de trabalhos, proibiram-na de contactar com os colegas da editoria e nem lhe validaram as férias.
A condenação tem ainda referências a precariedade, nomeadamente por recibos verdes de 10 anos, período em que tinha chefias de quem recebia ordens e tinha um posto de trabalho atribuído, ainda que não fosse fixo.
A TVI contactou a Impresa e o editor visado, mas não recebeu qualquer resposta. Ao jornal Público, o grupo afirmou estar surpreendido com a situação, prometendo recorrer.