Franco A. queria matar, queria fazer cair a democracia - e queria fazer isso tudo disfarçado de refugiado

7 dez 2022, 19:01
Franco A. em tribunal (Boris Roessler/Getty Images)

O caso chocou a Alemanha e mostrou como as forças de extrema-direita se infiltraram fortemente em serviços como o exército ou a polícia. E esta quarta-feira foi revelada uma operação da polícia alemã contra grupos terroristas de extrema-direita que planeavam um golpe de Estado

Fez-se passar por um refugiado vindo da Síria mas afinal era um militar com ligações à extrema-direita que tinha intenções de ajudar a uma mudança política na Alemanha: o tenente Franco A. foi condenado em julho a cinco anos e meio de prisão pelo papel que desempenhou num plano para matar proeminentes figuras da política alemã com o objetivo de fazer cair a ordem democrática. Entre essas figuras estariam ministros, deputados e ativistas da comunidade judaica.

Esta quarta-feira ficou a saber-se que movimentações como as de Franco A. continuaram em curso nestes últimos meses: pelo menos 25 pessoas foram detidas esta madrugada numa operação da polícia alemã contra grupos terroristas de extrema-direita. O balanço foi avançado pela procuradoria federal alemã. De acordo com as autoridades, a rede agora desmantelada faz parte de um movimento mais amplo de extrema-direita que já estava bem estabelecido e com um plano concreto para derrubar o governo alemão pela força e implementar um novo.

Ainda estão a ser apurados detalhes sobre o caso desta quarta-feira mas sobre o de Franco A., que deu origem a um podcast do New York Times cujo primeiro episódio partilhamos em baixo, já é sabido mais: trata-se de uma situação que chocou a Alemanha ao mostrar como as forças de extrema-direita se infiltraram fortemente em serviços como o exército ou a polícia, tendo mesmo sido descobertos grupos com aquela ideologia em organizações como as Forças Armadas da Alemanha. Além de terrorismo, Franco A. também foi condenado por posse ilegal de armas e fraude, uma vez que em 2015 se fez passar por um vendedor de fruta que tinha chegado de Damasco (capital da Síria), ainda que não soubesse falar árabe. O ex-militar foi detido no início de 2022 e condenado em julho.

DAY X: um podcast do New York Times que conta o caso em detalhe antes de ter sido conhecida a sentença de Franco A.

 

O caso começou em 2017 quando Franco A. foi apanhado a recolher uma arma que tinha escondido na casa de banho do aeroporto de Viena, na Áustria. Foi detido e as suas impressões digitais levaram a mais descobertas: aquela identidade era a mesma de um refugiado sírio, o que acabou por levar a um processo que contou com o envolvimento das autoridades dos três países. A polícia acredita que o objetivo passava por assassinar múltiplas personalidades em nome da identidade síria, o que chamaria a atenção para aquilo que a extrema-direita entende ser um problema, nomeadamente na Alemanha: a migração, os refugiados.

Franco A. manteve a sua versão até ao fim, dizendo-se inocente de todas as acusações. No entanto, um conjunto de revelações que foram surgindo num julgamento de 13 meses acabaram por jogar contra ele - áudios antissemitas e racistas que tinha gravado, outros com sugestões de “assassínios” de inimigos políticos. Trata-se de gravações que foram ouvidas em tribunal e que deixaram a acusação sem dúvidas sobre um motivo político para os crimes planeados: “Ideologia fortemente de extrema-direita”.

Entre as armas ilegais que tinha contam-se quatro, entre as quais uma arma de assalto G3 e cerca de 50 explosivos, bem como mais de mil munições. Grande parte deste equipamento foi roubada de bases militares onde Franco A. esteve. De resto, o crime de posse ilegal de armas foi o único que veio a admitir.

O antigo militar até foi libertado e ficou a aguardar julgamento em liberdade. No entanto, três anos e meio de pois, em fevereiro de 2022, foi apanhado com um saco dentro do qual levava vários artefactos nazis.

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