Não se esqueça da regra 1:1 ou até da 1:2 - vai ajudar a travar a ressaca (beba com moderação e leia este texto com atenção)

10 jun 2022, 19:39
Dor de cabeça é um dos sintomas mais comuns da ressaca (Pexels)

É tempo de Santos populares e do regresso dos festivais de música. E por isso são tempos que por vezes são de excesso. Por isso: aprenda a ciência da ressaca e como os cientistas dizem que é possível evitá-la

O que é a ressaca?

Por definição, começa por explicar Magda Roma, nutricionista clínica na Fisiogaspar, a ressaca “é um conjunto de sintomas mentais e físicos provocados pelo consumo excessivo de álcool”.

Porque é que o álcool causa ressaca?

O consumo de álcool, por si só, causa desidratação - e esta é a base da ressaca. A ressaca acontece devido a “um acentuado estado de desidratação”, não apenas provocado pela própria bebida alcoólica em si mas também “pelo aumento da micção” que a mesma provoca, explica Magda Roma. 

Segundo o site News Medical, beber cerca de 250 ml de uma bebida alcoólica resulta em 800 ml a 1000 ml de líquidos excretados pelo organismo - o que equivale a uma perda de líquido proporcional ao absorvido de 4/1.

Durante e após o consumo de bebidas alcoólicas (etanol), o organismo dá azo a um árduo trabalho para o eliminar, formando radicais livres e acetaldeído. “O acetaldeído é o metabólito final da metabolização do álcool e este é o responsável pela desidratação, visto que aumenta a libertação da hormona antidiurética que faz com que o rim tenha menor capacidade na absorção de água e, por sua vez, aumenta a micção”, explica Magda Roma, destacando que a boa hidratação antes, durante e depois é fundamental (e mais à frente há uma dica que vai querer ter em conta).

Quanto mais tempo o etanol e o acetaldeído permanecerem em conjunto no organismo pior será o impacto, que é como quem diz a ressaca. “Esta situação, associada a um esforço extra por parte do fígado - devido ao processo de metabolização e desintoxicação do álcool em excesso no sangue -, provoca os sintomas” associados a um estado de ressaca, continua a especialista.

Quais os sintomas da ressaca?

“Dor de cabeça, tonturas, sede excessiva, náuseas, vómito e sensibilidade à luz e som” são os sintomas mais comuns de ressaca, enumera a especialista. E os sintomas podem durar até dois dias. Mas há um outro que deve ser tido em conta: a ansiedade durante a ressaca, como explicou à CNN Internacional Craig Gunn, professor de psicologia científica na Universidade de Bristol. Este sintoma afeta cerca de 12% das pessoas e a sua gravidade pode variar. À medida que o corpo recupera de uma noite de excessos, a ressaca cria um estado de stress psicológico e, além de provocar alterações no nosso sistema imunitário, aumenta também os níveis de cortisol (muitas vezes chamado ‘hormona do stress’), a tensão arterial e o ritmo cardíaco – alterações que também acontecem com a ansiedade.

De salientar que quando se consome álcool este é absorvido pela corrente sanguínea e leva apenas cerca de cinco minutos para chegar ao cérebro, explica o site da Northwestern University Feinberg School of Medicine. Tal ajuda a explicar as tonturas e o estado de confusão durante e após o consumo de álcool, sobretudo se feito de forma exagerada.

É possível prevenir a ressaca?

Sim. E, claro, o não consumo é a forma mais eficaz de o fazer. Mas há uma tríade que promete ajudar nas noites de festa: hidratação, boa alimentação e moderação (na quantidade e nas misturas de álcool). "O álcool é absorvido mais rapidamente quando o estômago está vazio, pelo que é importante garantir a ingestão de algo antes do consumo de bebidas alcoólicas. Para além disso, o álcool pode induzir hipoglicémia, pelo que deverá ser acompanhado da ingestão de alimentos", explica a nutricionista Lillian Barros. A boa qualidade de sono é também uma estratégia de prevenção da ressaca.

E há outros truques que funcionam? (a regra 1:1 e a 1:2)

Sim. Niket Sonpal, professor adjunto de medicina clínica no Departamento de Ciências Biomédicas da Touro College of Osteopathic Medicine no Harlem, nos Estados Unidos, recomendou, em entrevista à revista de saúde Prevention, a regra 1:1, isto é, por cada copo de de bebida alcoólica beber um copo de água. Não faz milagres mas pode ajudar a prevenir estados mais gravosos de desidratação, diz.

Mas Magda Roma vai mais além: “Eu recomendo por cada copo de álcool dois de água”, justificando que o teor de álcool da bebida pode implicar uma maior hidratação durante a noite. Ou seja, 1:2

Há bebidas piores para a ressaca?

Para Magda Roma, a questão é simples: “Todas as bebidas que contenham teor alcoólico e cujo consumo seja excessivo” são más e potenciadoras de ressaca, mas quanto maior for o teor de álcool maior é a probabilidade de se ficar desidratado e de ser ter uma ressaca mais intensa. “Há bebidas com 7% de álcool e outras com 14% até 40%. Quanto maior o teor alcoólico, maior a desidratação” e mais intensa é a ressaca, destaca a nutricionista da Fisiogaspar.

“Por esse mesmo motivo, o consumo de bebidas como whisky, vodka e gin é propenso a ressacas. A cerveja, pelo contrário, por conter menor quantidade de álcool e maior quantidade de água, acaba por ser uma das bebidas com menor potencial de causar ressaca. Claro está que dependerá sempre da dose consumida”, diz a nutricionista Lillian Barros, que deixa ainda um alerta: “misturar diferentes tipos de bebidas alcoólicas pode exacerbar a ressaca”.

E como curar a ressaca?

Esqueça a curcumina, a l-cistina, o ginseng vermelho, os probióticos e o extrato de alcachofra ou qualquer outra mezinha caseira que possa encontrar online. Pouca coisa cura mais a ressaca do que a moderação ou abstinência do consumo de álcool, revela um estudo publicado a 1 de janeiro deste ano na revista Addiction

Embora alguns dos 21 estudos analisados por esta revisão científica “tenham mostrado melhorias estatisticamente significativas nos sintomas da ressaca, todas as evidências foram de muito baixa qualidade, geralmente devido a limitações metodológicas ou medições imprecisas”. Além disso, lê-se na publicação, “não há dois estudos relatados sobre o mesmo remédio para ressaca e nenhum resultado foi replicado independentemente”, o que limita a credibilidade das teorias apresentadas em vários estudos.

De qualquer modo, a boa hidratação pós-noite de excessos é sempre bem-vinda, assim como uma alimentação adequada. Sobre este ponto, a nutricionista Madga Roma recomenda: “No dia seguinte ao excesso, bem como todos os dias, privilegiar uma alimentação saudável, rica em alimentos anti-inflamatórios”, pois o álcool é um pró-inflamatório. No leque de alimentos com propriedades anti-inflamatórias estão o chá verde, os frutos vermelhos, os alimentos ricos em ómega-3 e os vegetais de folha verde escura, por exemplo.

“Consumir alimentos ricos em água, como fruta, vegetais e legumes, bem como ingerir líquidos, são bem-vindos, exceto bebidas com teor alcoólico”, frisa. E, sim, cai aqui por terra a teoria de que uma ressaca se cura com mais álcool.

Sobre o pós-ressaca, também a nutricionista Lillian Barros destaca a importância da alimentação: "Deve ter-se particularmente em atenção a reposição dos níveis de potássio e magnésio, que estão presentes em alimentos como a banana, os frutos secos e os cereais integrais. Também o consumo de alimentos ricos em antioxidantes, como as frutas e vegetais, ajuda o corpo a obter os nutrientes necessários para minimizar os estragos provocados pelo álcool no organismo".

"Caso a ressaca seja mais forte, o melhor é optar-se por refeições leves, evitando alimentos com elevado teor de gordura (ex.: fritos, laticínios gordos, molhos, fast-food e outros alimentos ultraprocessados) e preferir confeções mais simples, como grelhados e cozidos, bem como sopa e fruta", conclui Lillian Barros.

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