Ela era guarda prisional, ele cumpria mais de 70 anos de prisão num estabelecimento do Alabama. Conheceram-se na instituição e escaparam juntos, mas a história não acabou bem. A mulher morreu esta segunda-feira ao 11º dia de fuga, depois de uma perseguição das autoridades
Vicky White era diretora-assistente de correções do condado de Lauderdale, no estado norte-americano do Alabama, há 25 anos. No trabalho, era considerada a "funcionária perfeita" e uma pessoa em quem os colegas podiam confiar.
Até que a mulher, uma viúva de 56 anos sem filhos, desapareceu com Casey White - que estava detido no mesmo estabelecimento. Apesar de partilharem o mesmo apelido, Vicky e Casey não eram casados, nem parentes. E, segundo adiantou o xerife do condado de Lauderdale, Rick Singleton, à CNN Internacional, conheciam-se desde pelo menos 2020.
Casey White, de 38 anos, estava a cumprir uma pena de 75 anos por uma série de crimes em 2015, incluindo invasão de domicílio, roubo de viaturas e perseguição policial. Também enfrenta duas acusações de homicídio qualificado com recurso a uma arma branca.
Segundo o xerife, Vicky e Casey tinham um "relacionamento especial": "Confirmámos através de fontes independentes e outros meios que havia de facto um relacionamento dos dois fora do seu horário normal de trabalho - não contacto físico - mas um relacionamento de natureza diferente". Aliás, o xerife disse que os presos alertaram as autoridades sobre a relação especial entre os dois. "Disseram-nos que Casey White tinha privilégios especiais e foi tratado de forma diferente enquanto estava na instituição do que os outros presos".
A fuga
A 29 de abril de 2022, Vicky tirou Casey White da prisão do condado cerca das 9:00, alegando que o estaria a levar para uma avaliação de saúde mental. De seguida, disse que ia receber assistência médica depois de deixar o recluso porque não se estava a sentir bem.
Mais tarde, as autoridades descobriram que nenhuma audiência ou avaliação estava agendada para Casey White naquele dia e que Vicky White também nunca chegou ao centro médico. Por volta das 15:30, os funcionários perceberam que Casey não tinha voltado à prisão e ninguém conseguiu entrar em contacto com Vicky. O seu carro-patrulha foi encontrado abandonado no estacionamento de um centro comercial, a menos de um quilómetro do centro de detenção.
"Eu teria confiado nela com a minha vida", disse o procurador do condado de Lauderdale, Chris Connolly. "Estou tão decepcionado. Ela era fiável e explorou essa confiança."
As imagens de videovigilância divulgadas pelas autoridades mostraram o nível de preparação para a fuga. Os investigadores encontraram imagens de Vicky White a comprar roupas masculinas num hipermercado e numa "loja para adultos", disse Singleton, acrescentando que ela "obviamente tinha uma muda de roupa" para o prisioneiro.
Também antes do desaparecimento, Vicky White anunciou a intenção de se reformar e vendeu a sua casa por um preço bem abaixo do valor de mercado.
"Esta fuga foi obviamente bem planeada e calculada", disse Singleton. "Houve muita preparação. Eles tinham muitos recursos, dinheiro, veículos, tudo o que precisavam para fazer isto, e foi isso que tornou esta última semana e meia tão desafiadora. Estávamos a começar do zero, e não só isso, eles tiveram uma vantagem de seis horas sobre nós."
A US Marshals Service — agência do Departamento de Justiça Federal dos Estados Unidos — ofereceu uma recompensa de até 10 mil dólares por informações que levassem à recaptura de Casey White e à localização de Vicky White.
"Acredita-se que Casey White seja uma séria ameaça à agente penitenciária e à população", disse o agente Marty Keely em comunicado.
A perseguição
A 9 de maio, as autoridades finalmente acabaram por avistar Vicky a sair de um hotel com uma peruca. Depois, a mulher e Casey entraram num carro e foram embora. As autoridades continuaram a observá-los e iniciaram uma perseguição, que terminou já no condado de Vanderburgh, no estado do Indiana, quando um membro dos Marshals embateu contra o Cadillac em que os dois seguiam. O carro colidiu e capotou.
De acordo com a polícia norte-americana, Casey era o condutor. Os agentes conseguiram retirar o recluso do carro destruído, mas Vicky ficou encarcerada com um ferimento de bala na cabeça. Nenhum polícia disparou, de acordo com o xerife Rick Singleton, que indica que a mulher terá ficado ferida com um aparente tiro auto-infligido.
Casey White terá dito aos agentes para ajudar a "esposa", que se tinha matado com um tiro na cabeça, de acordo com agente Keely. O agente reforçou que Casey White e Vicky White não eram casados.
Horas depois, o xerife Dave Wedding, do condado de Vanderburgh, confirmou à CNN Internacional que Vicky morreu no hospital devido aos ferimentos. Já Casey regressará à prisão, desta vez no Indiana.
Ela foi "a mente" da fuga
Em conferência de imprensa, esta terça-feira, as autoridades revelaram que acreditam cada vez mais que Vicky White voluntariamente ajudou o preso a escapar. Depois dos dois terem sido capturados, foram encontrados mantimentos que podiam ter permitido que fugissem por muito mais tempo.
As autoridades encontraram ainda perucas, 29.000 dólares em dinheiro e várias armas entre os pertences, incluindo quatro revólveres, uma rifle AR-15 e três revistas.
"Qualquer uma destas armas poderia ter sido usada para emboscar os nossos agentes enquanto tentavam capturar um suspeito de assassinato", disse o xerife à CNN Internacional.
Segundo as autoridades, a oficial veterana terá utilizado os seus anos de experiência para planeaar e executar a fuga. Vicky White "foi basicamente a mente por trás de todo o plano", disse o xerife Singleton na terça-feira. "Casey White não escapou da prisão, ele foi basicamente solto."