"Nem subia nem acelerava": toda a história do avião da TAP envolvido em "incidente grave"

20 abr 2022, 13:02
A320 da TAP no Aeroporto Humberto Delgado, em Lisboa (Imagem: Getty)

Em causa está uma aterragem em Copenhaga, na Dinamarca, a 8 de abril. Avião regressou esta semana a Portugal. Relatório conhecido agora revela detalhes do sucedido. Há uma investigação em curso

“Três das quatro portas do reversor do motor nº 1 estavam completamente abertas”: o relatório preliminar das autoridades dinamarquesas, publicado esta terça-feira, volta a apontar uma avaria no impulsionador da asa esquerda da aeronave da TAP como causa para as dificuldades enfrentadas pelos pilotos durante a execução da manobra de go-around, ou borregar – que consiste em descontinuar uma aproximação à pista por qualquer razão e que é uma das manobras mais comuns da aviação civil.

Como a CNN Portugal já tinha noticiado, o documento do conselho de investigação de acidentes aéreos dinamarquês, o Havarikommissionen (AIB), garante que não existe qualquer marca no aparelho que sustente um eventual contacto com o solo, tal como não se verificam quaisquer danos externos na fuselagem, asas, cauda ou nas naceles dos motores. Algo que contradiz as testemunhas oculares, citadas pelo The Aviation Herald, que inicialmente “relataram que o avião bateu com a asa esquerda na pista" e "que pareceu que o motor esquerdo (CFM56) entrou em contacto com o solo e quase colidiu com uma antena".

De acordo com o Flightradar, plataforma especializada no registo do tráfego aéreo, o avião já está em território português: descolou de Copenhaga às 14:11 e aterrou em Lisboa às 16:33 de segunda-feira.

"Nem subia nem acelerava"

O relatório explica detalhadamente toda a cadência de acontecimentos do “incidente grave”. Começa por relatar que durante a sequência de aterragem na pista 30 a tripulação decidiu abortar a manobra e o piloto iniciou o borrego (go-around). Após dar início à subida, a aeronave manteve-se a baixa altitude e começou a desviar para a esquerda.

“Nem subia nem acelerava como era esperado pela tripulação de voo, o que temporariamente tornou difícil aos pilotos manterem o controlo da aeronave”, pode ler-se no relatório.

As autoridades dinamarquesas prosseguem, descrevendo que foi neste momento que os pilotos verificaram a indicação de que as portas do reversor do motor principal da asa esquerda estavam abertas e que o impulsionador se encontrava praticamente inativo. A tripulação retomou então o controlo do avião e executou uma subida para uma altitude segurança com apenas um motor. “Durante a subida, os pilotos declaram emergência (“Mayday”) e executaram a lista de verificações relevantes.”

Fotografia do lado direito do motor nº 1 da asa esquerda do A320 da TAP (Imagem: Havarikommissionen (AIB DK))

O relatório prossegue que o controlo de tráfego aéreo do Aeroporto de Copenhaga emitiu um pedido de aterragem prioritária na pista 22L. O avião iniciou a aproximação ao solo e aterrou “sem mais ocorrências”.

As autoridades dinamarquesas destacam as condições climatéricas adversas que se faziam sentir naquela sexta-feira e realçam que nenhum dos 109 ocupantes da aeronave sofreu qualquer ferimento.

Fotografia do lado esquerdo do motor nº 1 da asa esquerda do A320 da TAP (Imagem: Havarikommissionen (AIB DK))

A investigação vai agora analisar o registo dos gravadores de voo e de todos os computadores de memória não volátil, rever a documentação técnica e operacional, examinar o motor envolvido, executar simulações de voo perante as mesmas condições, verificar as observações meteorológicas, ouvir as gravações de áudio da aeronave e efetuar um conjunto de entrevistas.

Na última quinta-feira, o Gabinete de Prevenção e Investigação de Acidentes com Aeronaves e de Acidentes Ferroviários (GPIAAF) explicou à CNN Portugal que foi notificado sobre o incidente logo a 8 de abril e que imediatamente desencadeou todas ações, tendo entrado em contacto com a autoridade de investigação dinamarquesa, “a quem compete a primazia do direito e obrigação de investigação”. A autoridade portuguesa esclareceu também que tem estado desde então a colaborar no processo de averiguação. “No âmbito do processo de investigação aberto por esse organismo homólogo, e conforme previsto no Anexo 13 da ICAO e no Regulamento (EU) 996/2010, o GPIAAF, enquanto representante do Estado de registo e do Operador, está a colaborar com a investigação.”

O incidente ocorreu a 8 de abril no Aeroporto de Copenhaga, na Dinamarca, com o Airbus A320-200 da TAP com a matrícula CS-TNV, que havia partido de Lisboa. Tendo este sido classificado como um “incidente grave” e aberta investigação de segurança completa, as autoridades dinamarquesas explicam que notificaram a Autoridade Dinamarquesa de Aviação Civil e Ferroviária (DCARA), o GPIAAF, o Gabinete Francês de Investigação e Análise para a Segurança da Aviação Civil (BEA), a Agência Europeia para a Segurança da Aviação (EASA), a Direcção-Geral da Mobilidade e dos Transportes (DG MOVE) e a Organização Internacional de Aviação Civil (ICAO). O GPIAAF, BEA e EASA apontaram representantes acreditados e conselheiros técnicos que participaram na investigação da AIB.

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