O mesmo copo de água, preços diferentes. De São Vicente a Gondomar, são centenas de euros a mais

1 jul 2022, 08:00
copo de água, consumo Foto: Monika Skolimowska/picture alliance via Getty Images

Alguém que viva sozinho pode ter de pagar 13 vezes mais na conta da água por viver em determinado concelho. O “Ranking da Água” mostra ainda que, se analisado o preço por cabeça, as famílias numerosas acabam penalizadas

O copo de água até pode ser o mesmo. Mas o preço é muito diferente consoante o município e o número de pessoas que vivem na casa onde ele é bebido. A garantia é dada pelo último estudo da Associação Portuguesa de Famílias Numerosas (APFN), o “Ranking da Água”.

Gondomar surge como o concelho onde o preço da água é considerado mais desigual. Neste município, todas as famílias pagam 6,17 euros para aceder à rede. Mas depois, com a componente variável das tarifas, o valor por cabeça acaba por ser distinto.

Neste concelho, tendo em conta um consumo médio, uma pessoa paga 8,74 euros de água se viver sozinha. Se o agregado for constituído por cinco elementos, o preço por cabeça até fica mais barato: 7,03 euros. Mas, numa família de 10, cada pessoa passa a pagar 10,38 euros, com a componente variável das tarifas a penalizar as famílias mais numerosas.

É preciso cruzar o oceano, até São Vicente na Madeira, para encontrar o município que o estudo da APFN diz ser o mais justo no acesso à água. Todas as famílias pagam um euro para aceder à rede. Tendo em conta um consumo médio, uma pessoa paga 1,72 euros se viver sozinha. Se, na mesma casa, morarem cinco pessoas, o preço por cabeça encolhe para os 1,16 euros. Mas, numa de 10, volta a aumentar para os 1,54 euros.

Diferenças no bolso

Em Portugal, nenhum concelho tem igualdade plena no acesso à água. Para definir este índice, o estudo faz comparações entre concelhos e cruza-as com os valores cobrados consoante a dimensão da família. Fica assim definido um nível de equidade: quanto mais longe de zero, pior (como pode ver no mapa).

Se uma família de cinco pessoas se mudasse de São Vicente para Gondomar, teria de preparar sensivelmente mais 350 euros por ano para a conta da água – a fatura mensal passaria dos 5,8 para os 35,14 euros. Se fosse ainda mais numerosa, com 10 elementos, desembolsaria mais de 840 euros.

Mas não é necessário cruzar o oceano, como acontece entre o primeiro e o último classificado, para encontrar fortes disparidades nos preços. Os distritos do Porto e de Bragança são considerados os mais injustos, mesmo internamente.

Veja-se este exemplo, tendo em conta um consumo médio: uma família de cinco pessoas a viver na Póvoa do Varzim paga 14,34 euros. A mesma família, se vivesse em Valongo, pagaria 29,48 euros, o dobro. Ao fim de um ano, são mais de 180 euros de diferença. Para uma família de 10, pode significar praticamente mais 800 euros anuais.

Mirandela, um exemplo pela negativa

A análise destaca ainda o caso de Mirandela, no distrito de Bragança, pelas diferenças no acesso à rede. Neste município, a tarifa fixa tem um custo de três euros para quem viva sozinho. Numa de cinco pessoas, custa quatro euros. Se forem mais de seis, aí só o acesso à água custa 16 euros à família. A nível nacional, as pessoas pagam, em média, 3,16 euros por mês de tarifa fixa.

Dobro por cabeça nas famílias numerosas

Tendo em conta o consumo médio de uma única pessoa, o mesmo copo de água pode custar 13 vezes mais se for bebido em Vila do Conde ou em Almodôvar. No primeiro, a fatura média é de 13,88 euros. No segundo de 1,05 euros. Apesar desta disparidade, o estudo revela que, face a 2020, foi possível reduzir a discriminação consoante o município de residência.

Contudo, aumentou o nível de discriminação consoante a dimensão da família. Em 90 concelhos, não há sequer tarifários específicos para famílias numerosas. Em média, em Portugal, um indivíduo a viver sozinho paga 51 cêntimos por metro cúbico de água. Mas, se integrar uma família de dez, para o mesmo consumo, essa média sobe já para os 1,07 euros, mais do dobro.

Apenas dois concelhos ficam fora de ordenação deste estudo: Lajes das Flores e Santa Cruz das Flores, por apresentarem apenas tarifa fixa.

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