Adérito Lopes foi transportado para o hospital. Outros dois atores também foram agredidos. O incidente acontece no dia em que passam 30 anos da morte de Alcindo Monteiro: "30 anos depois, este país ainda não arranjou forma de se defender dos nazis", comenta a encenadora Maria do Céu Guerra.
O ator Adérito Lopes, da companhia de teatro A Barraca, foi agredido por um grupo de extrema-direita, em Lisboa, quando entrava para um espetáculo com entrada livre de homenagem a Camões, disse a diretora da companhia, Maria do Céu Guerra.
Em declarações à Lusa, Maria do Céu Guerra contou que foi por volta das 20:00, estavam os atores a chegar ao Cinearte, no Largo de Santos, quando se cruzaram à porta “com um grupo de neonazis com cartazes, programas”, com várias frases xenófobas, que começaram por provocar uma das atrizes.
"Eram cerca de 30, começaram por provocar uma atriz, que vinha com uma camisola com uma estrela, e que vinha com headphones e, portanto, nem ouviu o que diziam. De repente, tentaram atacar um dos atores. Depois, chegou o Adérito Lopes, que se vinha preparar para fazer o seu papel, uma hora antes do espectáculo, e foi agredido violentamente" contou a encenadora à RTP-3.
“Entretanto, os outros atores estavam a chegar. Dois foram provocados e um terceiro foi agredido violentamente, ficou com um olho ferido, um grande corte na cara”, afirmou a também atriz, de 82 anos. O ator Adérito Lopes foi transportado para o hospital de São José para tratamento e observação.
A encenadora diz que foi informada pela polícia que pelo menos um dos suspeitos foi detido, associado a movimentos de extrema-direita. No teatro foi deixado um papel em que se podia ler "Portugal aos portuguezes" (escrito com z).
Maria do Céu Guerra lembrou que se assinalam hoje os 30 anos do ataque por neonazis que matou Alcindo Monteiro: “30 anos depois, este país ainda não arranjou forma de se defender dos nazis”. “É terrível. E tenho aqui o elenco, 14 atores, todos temendo pela sua saída do teatro. E que querem falar, dar a sua opinião, querem dizer o que sentem em relação a isto e à proteção que lhes é merecida”, afirmou a atriz, que sublinhou o quão vulneráveis se sentem.
Maria do Céu Guerra contou que o espetáculo “Amor é um fogo que arde sem se ver” teria a última récita, de um conjunto de seis, às 21:00, com entrada livre, e tinha sala cheia, mas acabou por não acontecer. A apresentação foi cancelada e o público só abandonou o espaço já para lá das 22:00, disse a atriz, que realçou que o sucedido só não foi pior por ter aparecido a Polícia de Segurança Pública (PSP).