Na Baía de Nelson Mandela, no Cabo Oriental da África do Sul, milhares de hectares de terra poderão, um dia, tornar-se a maior fábrica do mundo de amónia verde
A amónia, que é composta por azoto e hidrogénio, é normalmente utilizada como fertilizante. No início da década de 1910, os cientistas conceberam uma forma de sintetizá-la, mas antes dessa altura, o principal fertilizante era guano, excrementos de morcego ou de aves, que tinham de ser obtidos em ilhas tropicais e a oferta era reduzida.
A produção de amónia a uma escala industrial permitiu a expansão da agricultura e, de acordo com um estudo da Universidade de Manitoba, sem ela, não seria possível produzir atualmente cerca de metade dos alimentos a nível mundial.
A amónia também é utilizada para fabricar explosivos para a indústria mineira e é um componente essencial de muitos produtos farmacêuticos e de limpeza. Atualmente, a sua produção envolve principalmente combustíveis fósseis e é responsável por 1,8% das emissões globais de CO2. Mas utilizando energia renovável, é possível fabricar amónia “verde”, reduzindo a pegada de carbono da produção agrícola e abrindo o composto a outras utilizações.
A mais significativa é a utilização da amónia como combustível, o que poderia ajudar a descarbonizar o sector do transporte marítimo. É nisto que se irá centrar a fábrica da Baía de Nelson Mandela. “Começará por substituir os óleos combustíveis pesados nos navios e irá substituir o diesel. Este irá tornar-se o combustível do futuro, especialmente na indústria marítima”, afirma Colin Loubser, diretor executivo da Hive Energy Africa, que está a construir a fábrica.
“Um processo totalmente verde”
O processo para fabricar a amónia verde é bastante simples, afirma Loubser, necessitando apenas de água, ar e energia. É utilizada eletrólise para separar a água em hidrogénio e oxigénio e uma unidade de separação de ar extrai o azoto do ar. O hidrogénio e o azoto são então combinados para produzir a amónia.
“O processo de torná-la verde é que estamos a utilizar energia renovável para isso. Não estamos a utilizar combustíveis fósseis, carvão ou gás para produzi-la. É um processo totalmente verde”, afirma Loubser.
Projetada para iniciar as operações em 2026, a fábrica irá custar 4,6 mil milhões de dólares. Será alimentada por um parque solar nas proximidades e irá receber a água — da qual são necessárias quantidades abundantes para produzir amónia — de uma fábrica de sal de mesa local que dessaliniza a água do mar.
Segundo Loubser, serão criados pelo menos 20 000 postos de trabalho na região, ao longo de toda a vida útil do projeto.
Um fator limitante é que a amónia é um gás cáustico e tóxico, por isso, necessita de ser manipulado por profissionais experientes. A sua utilização como combustível produz óxidos de azoto, que podem atuar como gases com efeito de estufa e causar poluição atmosférica, necessitando de tecnologia adicional para controlar as emissões.
E muitos destes sistemas que irão utilizar a amónia verde, incluindo motores de navios, ainda estão em desenvolvimento, motivo pelo qual os níveis de produção ainda são reduzidos, neste momento. No entanto, espera-se que a produção tenha um grande aumento: de acordo com um relatório da Precedence Research, o mercado da amónia verde representou apenas 36 milhões de dólares, em 2021, mas irá crescer para 5,4 mil milhões de dólares até 2030.
O futuro que se desenha em África
No continente africano, estão a ser desenvolvidos inovadores sistemas de transportes, operações de telecomunicações e cidades inteligentes para impulsionar as economias e aumentar as oportunidades de comércio. Veja a lista em baixo para saber mais.
A Ponte de Kazungula
A ponte, com 923 metros de comprimento, sobre o rio Zambeze, liga o Botswana e a Zâmbia. Inaugurada em maio de 2021, substitui um ferry e foi construída para acelerar o tráfego de camiões ao longo de uma artéria comercial fundamental norte-sul.
Balões de internet em Zanzibar
A Altaeros estabeleceu uma parceria com a empresa World Mobile, do Reino Unido, para fornecer balões de internet utilizados para fornecer parte da sua rede em Zanzibar. Dois balões operados a energia solar e cheios com hélio irão flutuar 300 metros (984 pés) acima do solo e terão um alcance de transmissão de cerca de 70 quilómetros (44 milhas) cada um, utilizando frequências 3G e 4G para fornecer o seu sinal.
Uma nova capital egípcia
Apenas a 45 quilómetros (28 milhas) a leste do Cairo, o Egito está a construir uma nova capital administrativa. O projeto de 58 mil milhões de dólares, iniciado em 2015, foi concebido para ser um hub para o governo e a indústria financeira. O Egito espera aliciar alguns dos 20 milhões de residentes da sua atual capital, o Cairo, a mudarem-se para a nova cidade, onde existe espaço para 6,5 milhões de pessoas.
A cidade terá diversos arranha-céus, incluindo o que será em breve o mais alto edifício de África, a Iconic Tower (ao fundo da imagem). Em 2020, foi anunciado um projeto de monocarril de 100 quilómetros, no valor de 4 mil milhões de dólares, para ligar o Cairo e a nova cidade.
Uma barragem de 5 mil milhões de dólares no Nilo
A ambiciosa Grand Ethiopian Renaissance Dam (GERD) é um dos maiores projetos de infraestruturas em África. Construída no rio Nilo Azul, perto da fronteira da Etiópia com o Sudão, a barragem de 5 mil milhões de dólares irá gerar 6000 megawatts de eletricidade por ano. O projeto pretende transformar a Etiópia no maior exportador hidroelétrico de África.
Mas a barragem tem sido controversa desde o início. O Nilo Azul é uma das duas fontes do rio Nilo, fornecendo 85% da água que flui para norte pelo Sudão e pelo Egito, para o Mediterrâneo. Os acordos da era colonial estabeleceram que o Egito e o Sudão, que dependem do rio para o seu abastecimento de água, mantinham o controlo do rio, mas a barragem da Etiópia ameaça este controlo. As negociações entre a Etiópia, o Sudão e o Egito estão em curso, mas ainda não foi alcançado um acordo. A Etiópia começou a gerar eletricidade a partir da barragem a 20 de fevereiro de 2022.
A expansão do Canal do Suez
O Canal do Suez do Egito foi submetido a uma expansão, em 2015, no valor de 8 mil milhões de dólares, para aumentar o potencial de comércio e compensou, com um aumento de 4,7% das receitas. No entanto, poderá estar para breve uma expansão adicional: em setembro de 2020, Hala el Said, Ministro do Planeamento e do Desenvolvimento Económico, afirmou que 1,1 mil milhões de dólares tinham sido alocados para atualizações do projeto do Canal do Suez, em 2021. A conclusão da expansão adicional está prevista para 2023.
Um novo porto para Lagos
Projetos como o Porto de Águas Profundas de Lekki, em Lagos, pretendem reposicionar cidades africanas como centros de negócios competitivos a nível internacional.
O porto multiusos — que será o mais profundo na África subsariana — pretende aumentar as operações comerciais da Nigéria na África Ocidental e o seu potencial de comércio global. Foi concebido para operar quatro milhões de toneladas de mercadorias secas por ano. O Banco de Desenvolvimento da China concedeu um empréstimo de 629 milhões de dólares para o projeto e a China Harbour Engineering Company está a fornecer 221 milhões de dólares em financiamento de capitais próprios para o porto, que se prevê que venha a gerar receitas de 361 mil milhões de dólares e criar até 170 000 novos postos de trabalho. O porto estava 96% concluído a 27 de julho, de acordo com a Lekki Port.
Impulsionar a internet na África ocidental
O Equiano da Google é um cabo de internet subaquático que liga Portugal à África do Sul, com 20 vezes a largura de banda do cabo anterior que servia a costa ocidental de África. Tem potencial para aumentar 5 vezes as velocidades de internet em alguns países e reduzir os custos com dados, segundo a investigação encomendada pela Google.
O plano do Egito para a linha de alta velocidade
Os planos para a primeira linha de alta velocidade do Egito foram anunciados em janeiro de 2021. Em maio deste ano, a Siemens anunciou que tinha celebrado um contrato de 8,1 mil milhões de euros (8,31 mil milhões de dólares) com os seus parceiros e o governo egípcio para um sistema ferroviário de 2000 quilómetros (1243 milhas) para ligar 60 cidades de todo o país. (Na imagem: composição das futuras carruagens da frota.)
Uma expansão de muitos milhares de milhões de dólares de Lagos
As obras do projeto de muitos milhares de milhões de dólares Eko Atlantic, que deverá transformar Lagos, a maior cidade da Nigéria, começaram em 2009. O novo hub financeiro, com 10 quilómetros quadrados de terrenos recuperados, tem espaço para até 300 000 residentes e 150 000 trabalhadores pendulares diariamente. No entanto, tem havido preocupações de que o desenvolvimento do Eko Atlantic esteja a causar erosão costeira e que possa tornar as áreas adjacentes vulneráveis a inundações.
A Namíbia recupera 40 hectares para novo terminal portuário
Como o maior porto comercial da Namíbia, Walvis Bay processa 5 milhões de toneladas de carga todos os anos. Um projeto de 5 anos, de 300 milhões de dólares, permitiu mais do que duplicar a capacidade do porto para contentores e reduzir os tempos de espera para os navios. O seu novo terminal de contentores, construído em 40 hectares de terrenos recuperados, foi anunciado como estando totalmente operacional em setembro de 2020.
Nova refinaria espera reforçar a capacidade energética da Nigéria
Embora a Nigéria seja um dos países de África mais ricos em petróleo, as suas refinarias apenas operam a uma pequena fração da sua capacidade. Isto não é apenas mau para a economia — as faltas de combustível significam que a Nigéria sofre cortes de energia frequentes. Mas o homem mais rico de África, Aliko Dangote, está a construir uma refinaria de petróleo que afirma irá resolver o problema de combustíveis da Nigéria. Ocupando 2635 hectares, a nova Dangote Petroleum Refinery será a maior de África, com capacidade para processar 650 000 barris por dia. Dangote espera criar um mercado para o petróleo bruto nigeriano com um valor de 11 mil milhões por ano.
Renovação da ferrovia do Quénia
Concebido para ligar as principais cidades do Quénia e, eventualmente, os países vizinhos, o Kenya Standard Gauge Railway é o maior projeto de infraestrutura realizado pelo Quénia desde a independência, em 1963.
A construção da primeira secção de 482 quilómetros (300 milhas) entre a cidade costeira de Mombasa e a capital do Quénia, Nairobi, foi concluída em 2017. A uma velocidade média de 120 quilómetros (74 milhas) por hora, a viagem de comboio entre as duas cidades demora agora apenas quatro horas, em vez de 12. O projeto de 3,8 mil milhões de dólares foi desenvolvido pela empresa de construção chinesa China Road and Bridge Corporation (CRBC) e 90% financiada pelo China Exim Bank.
A segunda fase do projeto Standard Gauge Railway, que liga Nairobi e Naivasha, uma cidade popular junto dos turistas pela sua proximidade ao Parque Nacional Hell's Gate e ao Parque Nacional do Monte Longonot, foi aberta aos passageiros em 2019. O projeto de 1,5 mil milhões de dólares também foi construído pela CRBC e financiado pelo Exim Bank. As extensões à linha atual estarão ainda a ser ponderadas, nos próximos anos, com propostas de linhas que ligam à Etiópia, ao Uganda e ao Sudão do Sul, bem como linhas adicionais dentro do Quénia.
Nova linha de caminho de ferro irá ligar a Nigéria
Outro projeto de caminho de ferro ambicioso, o Lagos-Kano Standard Gauge Railway, na Nigéria, irá cobrir 2700 quilómetros (1678 milhas) desde a cidade portuária de Lagos, até à cidade a norte de Kano, perto da fronteira com o Níger. Destinada a impulsionar a economia, a linha de caminho de ferro irá transportar passageiros e carga. Construído pela China Civil Engineering Construction Company (CCECC) e parcialmente financiado pelo Exim Bank, o projeto está a ser concluído em várias etapas: a primeira secção entre Abuja e Kaduna foi concluída em 2016, enquanto que a segunda secção, de Lagos a Ibadan, iniciou os testes em dezembro de 2020.
Um novo hub tecnológico no Quénia
Ainda na fase inicial de construção, a Cidade Tecnológica de Konza (também conhecida por Konza Technopolis) foi concebida para se tornar a sede da fluorescente cena tecnológica do Quénia. Apenas a 37 milhas de Nairobi, a cidade de 2023 hectares é o projeto emblemático do Kenya 2030 Vision, uma iniciativa para impulsionar o crescimento económico no sector tecnológico e das comunicações.
O avanço do projeto tem sido lento, mas angariou mais de 666 milhões de dólares em financiamento da China e o gigante chinês das telecomunicações, Huawei, vai desenvolver o centro de dados para o projeto. Os atuais planos incluem tecnologia integrada para cidades inteligentes, como sensores nas estradas que otimizam o fluxo do tráfego.