Cérebros dos adolescentes envelheceram mais depressa no primeiro ano da pandemia - e a culpa pode ser do stress

CNN , Jen Christensen
11 dez 2022, 09:00
Depressão

A investigação resulta de um estudo mais amplo no qual os cientistas procuravam entender as diferenças de género na depressão entre os adolescentes

Um novo estudo afirma que os cérebros dos adolescentes norte-americanos mudaram fisicamente durante a pandemia de covid-19, envelhecendo mais depressa do que o normal.

Após o primeiro ano da pandemia, os jovens que participaram no estudo também relataram sintomas mais graves de ansiedade, depressão e aquilo a que os cientistas chamam “problemas interiorizados”, ou seja, sentimentos de tristeza, baixa autoestima, medo e dificuldade em regular as emoções.

Dezenas de estudos descobriram que a saúde mental dos jovens e dos adolescentes sofreu durante a pandemia. Foram retirados da escola, afastados dos amigos e das estruturas familiares de apoio, e tiveram de conviver com a incerteza e com o medo que o coronavírus trouxe. Muitos pais perderam os empregos. Milhões de crianças perderam os pais e os avós para a covid-19.

O estudo, publicado no dia 1 de dezembro na revista “Biological Psychiatry: Global Open Science”, é um dos primeiros a observar as mudanças físicas no cérebro provocadas pelo stress e pela ansiedade.

A investigação resulta de um estudo mais amplo no qual os cientistas procuravam entender as diferenças de género na depressão entre os adolescentes.

Há oito anos, estabeleceram um plano para fazer ressonâncias magnéticas a 220 crianças entre os 9 e os 13 anos, a cada dois anos. A equipa tinha concluído dois conjuntos de exames quando a pandemia interrompeu a pesquisa e não foi possível recomeçar até ao final de 2020.

Quando a investigação foi interrompida, a equipa decidiu que seria interessante estudar os efeitos desse evento stressante no cérebro em desenvolvimento das crianças. As ressonâncias magnéticas pré-pandemia ajudá-los-iam a fazer essa comparação.

Os investigadores combinaram crianças com os mesmos dados demográficos, incluindo o género, a idade, a exposição ao stress e o estatuto socioeconómico.

Para determinar a idade média do cérebro, colocam as ressonâncias magnéticas num modelo que reúne dados de outros exames.

Os investigadores compararam as ressonâncias magnéticas de 128 crianças. Metade dos exames foram realizados antes da pandemia e a outra metade no final de 2020, tendo descoberto que as crianças que viveram o primeiro ano da pandemia tinham idades cerebrais superiores à sua idade cronológica.

Os cérebros que tinham passado pelo início da pandemia tiveram um crescimento na zona que pode ajudar a regular o medo e o stress, a amígdala, e também no hipocampo, a zona do cérebro que controla o acesso às memórias. Os tecidos diminuíram na zona do cérebro que controla o funcionamento executivo, o córtex.

O cérebro de uma criança muda naturalmente ao longo do tempo, mas várias pesquisas descobriram que essas mudanças físicas podem acelerar quando uma pessoa passa por adversidades significativas na infância.

Os estudos têm mostrado que as pessoas expostas à violência, negligência, pobreza e a problemas familiares, no início da vida, passam por um envelhecimento cerebral mais rápido e podem desenvolver problemas de saúde mental, mais tarde.

Ian Gotlib, principal autor do novo estudo, disse que a equipa de pesquisa esperava encontrar problemas como ansiedade, depressão e problemas interiorizados. “A pandemia não foi boa para a saúde mental dos adolescentes”, afirmou Gotlib, que é professor de Psicologia da Universidade de Stanford.

Mas a equipa não sabia bem o que iria encontrar nas ressonâncias magnéticas.

“É sempre interessante fazer pesquisas como esta em que não temos a certeza do que vai acontecer”, afirmou Gotlib. “Estes efeitos foram interessantes e aconteceram de forma muito rápida.”

“Foi o confinamento de apenas um ano, portanto, não sabíamos que os efeitos no cérebro seriam tão pronunciados após um curto período de stress”, acrescentou. “Mas estabelece um paralelo com as dificuldades de saúde mental a que assistimos.”

O que não está claro, revelou, é se as alterações no cérebro terão um impacto mais tarde na vida. A equipa planeia examinar as mesmas crianças, mais tarde, para acompanhar o desenvolvimento do cérebro. Há uma hipótese de as alterações cerebrais poderem ter sido apenas uma resposta imediata a um fator de stress pontual, e acabarem por normalizar com o tempo.

A equipa também pretende examinar as 10 crianças do estudo que tiveram covid-19 para ver se há um efeito diferente. As diferenças físicas parecem ser “um pouco mais pronunciadas” nas crianças que tiveram covid, considerou Gotlib.

O Dr. Max Wiznitzer, diretor de Neurologia Pediátrica do Hospital Pediátrico UH Rainbow, revelou que as mudanças no cérebro são interessantes, mas que o importante é saber se os problemas de saúde mental persistem.

“A anatomia não é importante. O importante é a funcionalidade”, afirmou Wiznitzer, que não fez parte do estudo. “A consequência clínica aqui é o impacto funcional, a condição de saúde mental, a nível clínico, como funciona e lidamos com ela.”

Com intervenções apropriadas de saúde mental, os problemas como a ansiedade ou a depressão podem ser geridos. “O cérebro tem essa capacidade de reorganização, ou progresso, se preferir”, acrescentou Wiznitzer.

Gotlib espera que os pais tenham em mente que, embora os confinamentos e o encerramento das escolas possam ter acabado, as consequências para a saúde mental podem manter-se.

“Certifique-se de que o seu adolescente está a receber qualquer ajuda de que possa precisar, se apresentar sinais de depressão ou de ansiedade”, ou se se mostrar alheado.

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